OS ANOS DE CHUMBO E OS INSTRUMENTOS DE REPRESSÃO

OS ANOS DE CHUMBO E OS INSTRUMENTOS DA REPRESSÃO

Ficou conhecido na história brasileira como "anos de chumbo" o período em que esteve no poder o general Emílio Garrastazu Medici, o terceiro presidente eleito indiretamente desde o Golpe Militar de 1964, e membro da chamada "linha dura" das Forças Armadas, favorável a um aumento dos métodos repressivos e antidemocráticos. 
No fim de 1969, o alarmante estado de saúde do então presidente Costa e Silva levou os membros do regime militar a declararem a vacância nos cargos de presidente e vice-presidente do Brasil. Entre os membros do oficialato mais cotados para assumir o cargo em aberto, destacava-se o general Albuquerque Lima, uma das mais proeminentes figuras entre os oficiais mais jovens do Exército. No entanto, os grupos mais ligados à chamada “linha dura” acabaram aprovando o nome de Emílio Garrastazu Médici.
No governo Médici, observamos o auge da ação dos instrumentos de repressão e tortura instalados a partir de 1968. Os famosos “porões da ditadura” ganhavam o aval do Estado para promover a tortura e o assassinato no interior de delegacias e presídios. A guerrilha, que usou de violência contra o regime, foi seriamente abalada com o assassinato de Carlos Lamarca e Carlos Marighella. A Guerrilha do Araguaia, findada em 1975, foi uma das poucas atividades de oposição clandestina a resistir. 
A repressão aos órgãos de imprensa foi intensa, impossibilitando a denúncia das arbitrariedades que se espalhavam pelo país. 
O termo “DOPS” significa Departamento de Ordem Política e Social, criada para manter o controle do cidadão e vigiar as manifestações políticas na ditadura pós-64 instaurada pelos militares no Brasil. O DOPS perseguia, acima de tudo, as atividades intelectuais, sociais, políticas e partidárias de cunho comunista. 
Entre os anos de 1964 e 1974, em virtude da resistência ao regime militar crescente, a DOPS obteve maior autonomia. A partir do momento em que o Brasil se abriu para o processo de redemocratização, a instituição perdeu atividades e sentido pela sua existência. 
DOPS exercia função de órgão policial, e deixou documentos como ofícios, relatórios, radiogramas e livros que hoje servem como pesquisa histórica e busca de processos judiciais. Há dossiês que discriminam sobre a existência, na época, de eleições sindicais, greves, partidos políticos, atos públicos e outros acontecimentos que eram registrados e vigiados pela DOPS. 
As celas do antigo edifício do DOPS, em São Paulo, onde vários políticos ficaram detidos, foram torturados e mortos, foram transformadas em locações do Museu Imaginário do Povo Brasileiro. O prédio está reformado, o que é criticado por ex-presos políticos da época, pois a reforma apagou todos os traços de resistência e sobrevivência daquele tempo chumbo.
DOI-CODI, sigla de Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, foi um órgão repressor criado pelo Regime Militar brasileiro (1964-1985) para prender e torturar aqueles que fossem contrários ao regime. 
Os agentes do DOI-CODI eram treinados nos moldes da instituição americana National War College, que aprisionava combatentes que se opunham à hegemonia norte-americana na Guerra Fria. No Brasil, os militares desse órgão eram treinados na Escola Superior de Guerra (ESG) e defendiam os ideais de direita disseminados pelos ditadores. 
Presente em praticamente todos os estados, o DOI-CODI já capturou e torturou grande número de estudantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), que organizavam marchas contra a ditadura, além de elaborar emboscadas e assassinar pensadores e intelectuais da época que defendiam os ideais comunistas. 
Em São Paulo, as instalações do DOI-CODI eram situadas na Rua Tutóia, próximo ao Aeroporto de Congonhas, onde hoje funciona o 36º Batalhão Policial. No Rio de Janeiro, ficava no bairro da Tijuca. 
Apesar do caráter repressivo e violento dos agentes do DOI-CODI, eles eram famigerados por organizar emboscadas mal articuladas. Em São Paulo, em 1975, durante o mandato do General Ernesto Geisel (conhecido por ser o mandatário mais  violento da Ditadura Militar), o DOI-CODI capturou e prendeu o jornalista Vladmir Herzog, alegando que ele disseminava ideais comunistas. Depois de torturá-lo violentamente e assassiná-lo, apresentaram seu corpo à imprensa, argumentando que ele se suicidou ao se enforcar. Entretanto, seus pés estavam praticamente caídos no chão e o lenço que simulava o enforcamento não estava em uma altura suficiente para que o cadáver cometesse aquele ato. Além disso, Herzog estava terrivelmente machucado, resultado dos espancamentos dos agentes do DOI-CODI. 
Além de Herzog, muitos estudantes e intelectuais foram presos. Alguns, ainda hoje, permanecem desaparecidos. Até maio de 1975, documentos do extinto Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) mostram que o DOI-CODI foi diretamente responsável por 50 mortes e mais de 6.700 ocorrências de presos políticos. 
Com o fim da Ditadura Militar, em 1985, automaticamente o centro de inteligência do DOI-CODI foi extinto. Porém, ainda hoje não se sabe o destino de muitos presos políticos capturados por esses agentes.

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