EPIDEMIAS
Grandes epidemias e pandemias marcaram a história da humanidade, em
todos os períodos, e dizimaram diferentes povos. Neste texto, vamos mostrar
algumas epidemias e pandemias que atingiram o homem na Antiguidade, no Medievo
e na fase contemporânea da história, bem como as suas consequências.
Pandemia x epidemia
Antes de conhecermos as epidemias e pandemias que marcaram a história
mundial, é importante nos atentarmos para as diferenças entre os conceitos de
epidemia e pandemia. Uma epidemia faz referência a doenças que se disseminaram
por uma região geográfica limitada, como uma cidade. Já o termo pandemia é
utilizado para se referir a uma doença que se espalhou por um espaço geográfico
muito grande, como um continente. Para saber mais sobre, recomendamos a leitura
deste texto: Pandemia.
Grandes epidemias e pandemias da história
A história da humanidade não é marcada apenas pelos grandes impérios,
grandes guerras e o avanço material e tecnológico do homem no tempo, mas também
pelas grandes doenças que afetaram os mais diversos povos.
As epidemias e pandemias que aconteceram e foram registradas ao longo
da história causaram momentos de grande tensão e foram catalisadores de
transformações em alguns casos. São acontecimentos que colocaram sociedades
inteiras sob ameaça e, por isso, são objetos de estudo dos historiadores. Vamos
conhecer algumas delas?
Peste de Atenas (430-427 a.C.)
A partir do verão de 430 a.C., a cidade de Atenas, uma das grandes
cidades da civilização grega, foi atingida por um surto epidêmico. A epidemia
foi registrada pelo grego Tucídides, historiador que também relatou a Guerra do
Peloponeso. A doença teve um grande surto entre 430-429 a.C., enfraqueceu-se
durante 428 a.C. e ganhou força novamente a partir de 427 a.C.
Entre 430-427 a.C., a cidade de Atenas sofreu com uma doença
desconhecida que, acredita-se, causou a morte de até 35% da população.
Entre 430-427 a.C., a cidade de Atenas sofreu com uma doença
desconhecida que, acredita-se, causou a morte de até 35% da população.
Os relatos deixados por Tucídides falam que a doença iniciou-se na
zona portuária de Atenas e espalhou-se pelo resto da cidade. Os casos começaram
a aparecer bem no início da Guerra do Peloponeso e tiveram um efeito fulminante
nas tropas atenienses. O autor J. N. Hays fala que uma tropa de hoplitas
formada por 4 mil homens presenciou a morte de 1.050 deles.
Dado o contexto em que essa doença se iniciou em Atenas, os estudiosos
do assunto chegaram à teoria de que a grande circulação de pessoas por causa da
guerra facilitou a disseminação da enfermidade. Os sintomas foram descritos por
Tucídides:
[…] Em geral, o indivíduo no gozo de perfeita saúde via-se subitamente
preso dos seguintes sintomas: sentia em primeiro lugar violenta dor de cabeça;
os olhos ficavam vermelhos e inflamados; a língua e a faringe assumiam aspecto
sanguinolento; a respiração tornava-se irregular e o hálito fétido. Seguiam-se
espirros e rouquidão. Pouco depois a dor se localizava no peito, acompanhada de
tosse violenta; quando atingia o estômago, provocava náuseas e vômitos com
regurgitação de bile. Quase todos os doentes eram acometidos por crises de
soluços e convulsões de intensidade variável de um caso a outro. A pele não se
mostrava muito quente ao tato nem também lívida, mas avermelhada e cheia de
erupções com o formato de pequenas empolas (pústulas) e feridas.
Acredita-se que a doença nunca tinha atingido a cidade de Atenas, haja
vista a violência pela qual ela acometeu a população local. Existem alguns
estudiosos que afirmam que a enfermidade teve grande impacto nas mulheres
grávidas. Os relatos de Tucídides deixam a entender que o desespero da
população criou um quadro de desrespeito às leis e, à medida que as preces
religiosas não eram atendidas, a religião também começou a ser alvo desse
desrespeito.
Apesar de ter sido conhecida como “peste de Atenas” e o nome sugerir
que se tratou de um surto de peste bubônica, os estudiosos sugerem que a doença
que atingiu a cidade grega não foi essa. Um estudo conduzido no começo do
século XXI com base em ossadas de uma vala comum encontrada chegou à conclusão
da ocorrência de febre tifoide, mas existem outros estudos que apontam tifo.
Existem ainda teorias que sugerem doenças como varíola e sarampo e que
até 35% da população ateniense possa ter morrido. Acredita-se também que a
doença possa ter se disseminado para outros locais a partir de Atenas. Outras
pestes aconteceram na Antiguidade, como a peste de Siracusa, em 395 a.C., e a
peste antonina, que atingiu Roma em 166 d.C.
Peste negra (1347-1353)
As epidemias e pandemias não ficaram reclusas à Antiguidade e
estenderam-se por outros períodos também, como a Idade Média. Esse período da
história presenciou uma das maiores pandemias da humanidade, a de peste
bubônica, que recebeu o nome de peste negra e é tradicionalmente conhecida por
ter dizimado, pelo menos, cerca de 1/3 da população europeia.
A peste negra foi uma pandemia de peste bubônica que causou a morte de
até 2/3 da população europeia.
A peste negra foi uma pandemia de peste bubônica que causou a morte de
até 2/3 da população europeia.
A peste negra designa uma doença transmitida para os seres humanos por
meio de pulgas de ratos contaminados com a bactéria Yersinia pestis.
Acredita-se que a origem dessa doença tenha sido a China ou alguma região da
Ásia Central e que a peste negra não foi o primeiro surto de peste bubônica de
que se tem conhecimento.
Existem relatos de doenças parecidas com a peste bubônica na Bíblia,
como um relato que fala de uma doença causada por ratos que atingiu os
filisteus. Já no período medieval, houve peste bubônica no Império Bizantino,
atingindo sua capital, Constantinopla, entre 541 e 544. Nesse contexto, ela
ficou conhecida como peste justiniana.
A peste bubônica chegou à Europa em 1347 e foi levada para lá por
comerciantes genoveses que fugiam de Caffa, uma colônia genovesa na Crimeia que
estava sendo atacada por tropas tártaras do Canato da Horda Dourada. A cidade
de Caffa estava sitiada quando os tártaros começaram a lançar cadáveres
contaminados com a doença para dentro dos muros.
À medida que a peste se espalhou por Caffa, os genoveses fugiram,
levando a doença em seus navios. Assim, a peste alcançou Constantinopla,
depois, a Sicília, chegou a Marselha, Península Itálica e, daí, espalhou-se por
toda a Europa. Esse surto de peste bubônica estendeu-se até 1353 e causou a
morte de milhões de pessoas.
Uma vez que um ser humano contrai a peste bubônica, ela pode ser
transmitida por via respiratória (chamada de peste pneumônica), o que facilitou
a disseminação da doença por todo o continente europeu. Tanto as cidades como
os campos foram atingidos, embora as cidades, pela maior aglomeração de
pessoas, tenham sofrido mais. A peste bubônica recebeu esse nome por causa dos
bubões que apareciam em algumas partes do corpo dos que adoeciam.
Os relatos da época falam que a doença trouxe pânico e fez com que
muitos fugissem das grandes cidades como forma de se proteger. Aqueles que
tinham dinheiro e propriedades fora das cidades fugiram para essas propriedades
e se esconderam por lá. Os relatos também falam que a ordem política, em alguns
locais, ruiu, porque as autoridades ou haviam morrido pela doença, ou não
tinham mais meios de governar.
Os médicos da época não tinham ideia do que causava a doença, mas
perceberam que o isolamento era uma forma de evitar que a peste se propagasse
ainda mais. Assim, pessoas começaram a se isolar em suas casas, e os doentes
mantinham contato só com os médicos. A quantidade de mortos era tão grande que
os ritos funerários começaram a ser abandonados.
A peste bubônica foi uma doença recorrente na Europa por todo o século
XIV e existiu até 1720, quando houve um surto da doença em Marselha.
Acredita-se que, somente no século XIV, a peste bubônica tenha causado a morte
de, pelo menos, 1/3 da população europeia, embora historiadores, como Le Goff,
apontem que tenha causado a morte de, pelo menos, metade da população da
Europa, chegando até a 2/3 em alguns locais.
Por fim, existem estudos que indicam que a peste bubônica possa ter
causado a morte de até 50 milhões de pessoas no continente europeu somente no
período entre 1347 a 1353.
Gripe espanhola (1918-1919)
Os primeiros casos de gripe espanhola foram registrados nos Estados
Unidos. Acredita-se que essa doença matou, pelo menos, 50 milhões de pessoas.
Os primeiros casos de gripe espanhola foram registrados nos Estados
Unidos. Acredita-se que essa doença matou, pelo menos, 50 milhões de pessoas.
O começo do século XX também ficou marcado por uma pandemia que
atingiu todos os continentes do planeta e causou a morte de, pelo menos, 50
milhões de pessoas. Essa doença ficou conhecida como gripe espanhola, sendo
causada por uma mutação do vírus influenza, e afetou, inclusive, o Brasil.
Apesar do nome, a gripe espanhola não surgiu na Espanha. Acredita-se
que ela tenha surgido na China ou nos Estados Unidos. De toda forma, os
primeiros casos foram registrados em um acampamento militar chamado Fort Riley,
que estava instalado no estado do Kansas (EUA). O primeiro paciente de que se
tem conhecimento foi o soldado Albert Gitchell.
A doença surgiu no contexto da Primeira Guerra Mundial e aproveitou-se
do grande deslocamento de soldados e das aglomerações causadas pela guerra para
se disseminar pelo mundo. Houve três ondas de contágio, que se estenderam de
1918 a 1919. A segunda onda ficou conhecida como a de maior capacidade de
contaminação e foi a mais mortal.
A gripe espanhola espalhou-se por todos os continentes do planeta. A
medicina do começo do século XX não sabia o que a causava, porque a tecnologia
da época não permitia que os microscópios enxergassem o vírus responsável pela
enfermidade. Usava-se aspirina para combater alguns dos sintomas, mas o exagero
no uso dessa medicação mostrou-se nocivo. A doença causava infecções que
atingiam órgãos como o pulmão, mas não existiam antibióticos na época para
combatê-las.
Os sintomas da gripe espanhola eram os de uma gripe comum, como febre,
tosse, coriza, dores de cabeça e dores no corpo. Os casos mais complicados,
como mencionado, causavam infecções nos pulmões, levando os pacientes a
desenvolverem pneumonia.
Como era causada por um vírus, a doença era transmitida pela via
respiratória facilmente. Locais que implantaram medidas de prevenção baseadas
no isolamento social conseguiram passar pela gripe espanhola com efeitos
reduzidos. Já os que não seguiram as medidas de isolamento acabaram sofrendo
duramente com a doença e acumulando mortos todos os dias.
Aqui no Brasil a gripe espanhola chegou em setembro de 1918, por meio
dos passageiros de uma embarcação inglesa que atracou em três cidades: Recife,
Salvador e Rio de Janeiro. Grandes cidades, como São Paulo, sofreram bastante
com a doença. Acredita-se que ela tenha contaminado, pelo menos, metade da
população paulistana.
No Brasil, como em outras partes do mundo, medidas de isolamento foram
tomadas com o decreto do fechamento de escolas, repartições públicas e alguns
tipos de comércio. Ao todo, 35 mil pessoas morreram de gripe espanhola no
Brasil.
Ebola (2013-2016)
Em 1976, foram identificados, pela primeira vez, casos de doença pelo
vírus ebola, doença causada pelo vírus de mesmo nome (ebola). Esse vírus foi
identificado em regiões do Sudão e da República Democrática do Congo, ambos
países do continente africano. Acredita-se que uma espécie de morcego seja a
transmissora do vírus.
A ebola é uma doença grave e capaz de matar tanto seres humanos quanto
primatas. Recentemente, entre 2013 e 2016, causou um surto epidêmico em regiões
da África Ocidental. Esse surtou chamou a atenção da Organização Mundial da
Saúde e de muitos países – alguns deles, inclusive, chegaram na época a decidir
pelo fechamento de suas fronteiras para pessoas vindas daquela região.
A doença manifesta-se com os seguintes sintomas: febre, dor de cabeça,
vômitos e diarreia. Os pacientes mais graves podem apresentar graves
hemorragias, as quais afetam partes do corpo como intestino e útero. O contágio
acontece quando uma pessoa tem contato com restos de animais contaminados pelo
vírus.
A partir do momento em que um ser humano contrai ebola, o vírus pode
ser transmitido para outras pessoas por meio de secreções, como saliva, sangue,
fezes, urina e sêmen. A ebola atuou majoritariamente no continente africano e
aproveitou-se da pobreza de muitas das regiões desse continente.
A falta de condições sanitárias ideais acaba tornando muito mais fácil
a rápida disseminação do vírus. O último surto epidêmico de ebola atingiu
países como Libéria, Serra Leoa e Guiné, infectando 28.454 pessoas, das quais
11.297 faleceram.
Em 2018, um novo surto foi registrado na África, atingindo a República
Democrática do Congo. Até o presente momento, esse surto registrou quase 4 mil
casos e mais de 2.200 mortes. Em 2014, houve uma suspeita de caso de ebola no
Brasil, mas esse caso foi descartado por exames.
Outras epidemias ao longo da história
Os quatro casos mencionados neste texto são apenas alguns exemplos das
grandes epidemias que afetaram a humanidade. Obviamente, existe uma infinidade
de outras epidemias e pandemias que aconteceram ao longo da história e
citaremos algumas delas a seguir:
Pandemia de aids (1980 até a atualidade);
Pandemia de Sars (2002-2004);
Epidemia de varíola no Japão (735-737);
Pandemias de cólera (ao longo do século XIX);
Epidemia de cólera no Haiti (2010 até a atualidade);
Epidemia de febre amarela em Nova Orleans (1853);
Pandemia Covid-19 (2019-2020)
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