DO GOLPE A DITADURA
Após
derrubarem o presidente João Goulart, os militares tinham a opção de entregar o
mandato presidencial para o presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli
e convocar novas eleições. Trilhando esse caminho, o golpe de 1964 determinaria
uma breve participação dos militares no rearranjo da vida política do país. No
entanto, os executores do golpe acreditavam que a intervenção militar deveria
ser mais significativa e duradoura. Dessa maneira, uma junta de governo,
formada pelo tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, o general
Artur da Costa e Silva e almirante Augusto Rademaker assumiu o poder.
Empossados no comando do país, esses três militares foram responsáveis pela
oficialização do Ato Institucional n°1. Criado em 9 de abril de 1964, o
documento contava com onze artigos e estabelecia uma profunda modificação no
Poder Legislativo brasileiro.
Entre seus
primeiros poderes, o AI-1 determinava que o governo militar poderia
cassar mandatos legislativos, suspender os direitos políticos (por dez anos) ou
afastar do serviço público todo aquele que pudesse ameaçar a segurança
nacional. Além disso, convocou eleições indiretas para presidente e a extensão
do mesmo cargo até o ano de 1966. Em abril daquele mesmo ano, o novo governo
divulgou uma lista com 102 políticos e funcionários que tiveram seus postos e
direitos anulados. Continuando a empreender suas próprias ações, as eleições
indiretas convocadas pelo AI-1 empossaram o general Humberto de Alencar Castelo
Branco como o mais novo presidente da República. Assim, o golpe militar
determinou um importante ato de consolidação do regime. Enquanto isso, outras
cassações e exonerações visavam afastar as figuras públicas que potencialmente
desestabilizariam o golpe de 1964.
Através
dessas ações preliminares, o AI-1 teve a função de desorganizar o cenário
político nacional. Grandes figuras de esquerda ou defensores da democracia como
Jânio Quadros, João Goulart, Luís Carlos Prestes, Leonel Brizola e Darcy
Ribeiro perderam seus postos. Gradualmente, o desmantelamento dos líderes e
tendências políticas ampliava o espectro da ação militar e legitimava a força
de um regime autoritário em terras brasileiras.
Logo após a queda de João Goulart, os
militares envolvidos na instituição do novo regime indicaram o nome do marechal
Castello Branco. Antes disso, a formulação do regime totalitário contou com a
oposição de grupos políticos contrários a instituição da ditadura no Brasil.
Dentro dos próprios setores da direita havia personalidades políticas que
defendiam um curto prazo de tomada do poder, sendo logo seguido por eleições
democráticas.
A Junta
Militar, que assumiu o governo provisoriamente, era composta pelo general Artur
da Costa e Silva, o almirante Augusto Rademaker e o brigadeiro Francisco
Correia de Melo. A primeira medida tomada pelo grupo militar foi à decretação
do Ato Institucional nº 1. (AI – 1).
Em seu
texto estava prevista a realização de eleições para outubro de 1965. No
entanto, essa mesma Junta contrariou seu decreto impondo a indicação de Castello
Branco.
Entre outras
medidas, o novo governo estabeleceu a nacionalização do setor petrolífero, a
proibição da desapropriação de terras, a cassação dos direitos políticos de
alguns parlamentares e ex-presidentes, o rompimento das relações com Cuba e a
investigação contra os opositores ao governo. Os quadros ministeriais de
Castello Branco foram compostos por antigas figuras políticas do UDN e do PSD,
e dos pensadores da Escola Superior de Guerra, também conhecido como “grupo da
Sorbonne”.
Os movimentos
estudantis e a União Nacional dos Estudantes (vistos como uma ameaça ao regime
militar) foram colocados na ilegalidade. Os centros de ensino superior do país
passaram a ser constantemente vistoriados por autoridades do regime militar. Em
1965, o Ministério da Educação e Cultura estabeleceu a reformulação das grades
curriculares no ensino médio e superior. Os estudantes não teriam mais direito
de participação nas questões administrativas nas faculdades.
Os
trabalhadores também sofreram grande pressão do governo de Castello Branco com
a intervenção militar em diversos sindicatos. Na zona rural, a ascendente Liga
Camponesa, liderada por Francisco Julião, foi colocada na ilegalidade. Os meios
de comunicação ainda tinham uma autonomia relativa. Nos jornais ainda saíam
algumas notícias denunciando as prisões arbitrárias e a prática de tortura. No
entanto, essa liberdade refletiva dos meios de comunicação logo foi cerceada.
A luta contra a
desordem que justificava a intervenção militar logo sofreu outras frentes de
oposição.
No ano de 1966, os
partidos contrários à ditadura conseguiram eleger governadores no Rio de
Janeiro e Minas Gerais. A potencial oposição política forçou a imposição do Ato
Institucional nº 2. De acordo com essa medida, todos os partidos foram postos
na ilegalidade, restando apenas duas novas legendas: o MDB (Movimento
Democrático Brasileiro) e o ARENA (Aliança Renovadora Nacional).
A população
brasileira logo reagiu contra as arbitrariedades dos militares. Várias
passeatas, manifestações e mobilizações estudantis tomavam as ruas exigindo o
fim da ditadura. Em resposta, os militares colocavam os seus soldados para
responder violentamente aos protestos. Logo em seguida, novos atos
institucionais seriam decretados com o objetivo de refrear as vias de oposição
institucional e popular.
Em janeiro de
1966, o Ato Institucional nº 3 estabelecia a eleição indireta para a escolha
dos governadores estaduais. Os prefeitos dos grandes centros urbanos só
poderiam chegar ao poder através da nomeação dos governadores. Além disso, o
regime militar poderia decretar Estado de Sítio sem a aprovação prévia do
Congresso Nacional. Dessa forma, o Poder Executivo Federal ganhava amplos
poderes de atuação política.
No plano econômico
os militares preocuparam em combater o galopante processo inflacionário que, na
época, atingia os 100% anuais. Dessa forma, o regime ditatorial apoiou a
abertura da economia para que empresas estrangeiras reaquecessem o setor
produtivo brasileiro. Além disso, o funcionalismo público, o salário mínimo e
as linhas de crédito foram imediatamente controlados ou reduzidos.
Ao fim do mandato de Castello Branco, uma
nova carta constitucional foi redigida para o país. Nela o princípio
federalista, que conferia autonomia aos poderes estaduais, foi nitidamente
enfraquecido. As novas Leis de Imprensa e Segurança Nacional censuravam as
liberdades democráticas sobre o pretexto de controlar os “inimigos internos” da
nação. A escolha do presidente ficava a cargo do Congresso Nacional, que
cooptados pela pressão dos militares elegia os candidatos de seu interesse.
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