A CRISE DO FEUDALISMO


A CRISE  DO FEUDALISMO
A partir do século XIV, uma série de eventos levou à crise do mundo feudal e à organização dos Estados Modernos na Europa Ocidental. Vale ressaltar, entretanto, que esse processo não foi contínuo, possuindo variações regionais. Na França, por exemplo, os impostos de origem feudal e as distinções baseadas no nascimento só foram extintos no século XVIII, durante a Revolução Francesa. Na Península Itálica e na região central, os Estados se unificaram apenas no século XIX, quando surgiram Itália e Alemanha.
O século XIV foi marcado por uma série de calamidades que colaboraram para acelerar as transformações no interior do feudalismo. Esses acontecimentos tiveram origem na própria expansão da economia feudal. O crescimento demográfico e comercial observado a partir do século XI provocou transformações no panorama da sociedade europeia, levando a novos métodos de exploração agrícola, como a irrigação, a drenagem e o sistema de rotação de culturas, que transformaram em terras férteis locais antes caracterizados por pântanos e regiões muito secas.
A destruição de áreas florestais foi típica desse período, aumentando a área cultivável em várias regiões da Europa. Esse processo de expansão das áreas produtivas, conhecido como arroteamento, acarretou enormes impactos ambientais. No início do século XIV, portanto, foi registrado um grave desequilíbrio climático responsável por um período de intensas chuvas entre os anos de 1315 e 1317.
Os efeitos dessas alterações foram percebidos na agricultura, que sofreu uma considerável retração. A consequência mais imediata desse fato foi a fome generalizada. A morte causada pela falta de alimentos provocou o início da reversão do crescimento populacional europeu. Outra decorrência da crise de produção foi o aumento da exploração sobre os camponeses, já que, naquele momento, os grandes senhores não podiam aceitar a queda de seus rendimentos. Essa população, faminta e superexplorada, não teve, desse modo, como resistir à expansão de diversas epidemias, como a Peste Negra.
A Peste Negra havia sido epidêmica na Europa medieval no século VI, tendo desaparecido no século VIII, mas retornou no século XIV e continuou endêmica no continente até o período posterior ao século XVII. A partir de 1340, a Peste se alastrou pelas regiões das atuais Itália, França, Inglaterra, Alemanha e Polônia, gerando grande destruição.
O desenvolvimento comercial e a expansão da atividade urbana já vinham atraindo os camponeses europeus para a vida nas cidades durante toda a Baixa Idade Média, pois, no mundo urbano, os trabalhadores se viam livres dos laços servis. No entanto, foi o aumento da exploração no campo – decorrente do declínio demográfico – que fez surgir uma série de movimentos camponeses na Europa. Essas revoltas tiveram papel fundamental na desagregação do feudalismo ao colocar em xeque o tradicional papel da nobreza medieval.
Na França, os motins receberam o nome de jacqueries, decorrente da expressão Jacques Bonhomme, que pode ser traduzida por “João Ninguém”. Na Inglaterra, as revoltas de John Ball e Wat Tyler provocaram temor na nobreza. Foram comuns, durante esses movimentos, a destruição de propriedades e o assassinato de vários nobres.
A reação da aristocracia contra as revoltas foi igualmente violenta, no entanto, o tumulto nos campos deixava clara a dificuldade da nobreza fundiária em manter o controle diante das profundas transformações na sociedade europeia, abrindo espaço para o fortalecimento do poder real.


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