O ESTADO NOVO
Dado como
um governo estabelecido por vias golpistas, o Estado Novo foi implantado por
Getúlio Vargas sob a justificativa de conter uma nova ameaça de golpe comunista
no Brasil. Para dar ao novo regime uma aparência legal, Francisco Campos,
aliado político de Getúlio, redigiu uma nova constituição inspirada por itens
das constituições fascistas italiana e polonesa. Conhecida como Constituição
Polaca, à nova constituição ampliou os poderes presidenciais, dando a
Getúlio Vargas o direito de intervir nos poderes Legislativo e Judiciário. Além
disso, os governadores estaduais passaram a ser indicados pelo presidente.
Mesmo tendo algumas diretrizes políticas semelhantes aos governos fascista e
nazista, não é possível entender o Estado Novo como uma mera imitação dos
mesmos.
A
inexistência de um partido que intermediasse a relação entre o povo e o Estado,
a ausência de uma política eugênica e a falta de um discurso ultranacionalista
são alguns dos pontos que distanciam o Estado Novo do fascismo italiano ou do
nazismo alemão. No que se refere às suas principais medidas, o Estado Novo
adotou o chamado “Estado de Compromisso”, onde se criaram mecanismos de
controle e vias de negociação política responsáveis pelo surgimento de uma
ampla frente de apoio a Getúlio Vargas.
Entre os
novos órgãos criados pelo governo, o Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP) era responsável por controlar os meios de comunicação da época e
propagandear uma imagem positiva do governo. Já o Departamento Administrativo
do Serviço Público, remodelou a estrutura do funcionalismo público prejudicando
o tráfico de influências, as práticas nepotistas e outras regalias dos
funcionários.
Outro ponto
importante da política varguista pode ser notado na relação entre o governo e
as classes trabalhadoras. Tomado por uma orientação populista, o
governo preocupava-se em obter o favor dos trabalhadores por meio de concessões
e leis de amparo ao trabalhador. Tais medidas viriam a desmobilizar os
movimentos sindicais da época. Suas ações eram controladas por leis que
regulamentavam o seu campo de ação legal. Nessa época, os sindicatos
transformaram-se em um espaço de divulgação da propaganda governista e seus
líderes, representantes da ideologia varguista.
As ações paternalistas
de Vargas, dirigidas às classes trabalhadoras, foram de fundamental
importância para o crescimento da burguesia industrial da época. Ao conter o
conflito de interesses dessas duas classes, Vargas dava condições para o amplo
desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Além disso, o governo agia
diretamente na economia realizando uma política de industrialização por
substituição de importações.
Nessa
política de substituições, o Estado seria responsável por apoiar o crescimento
da indústria a partir da criação das indústrias de base. Tais indústrias dariam
suporte para que os demais setores industriais se desenvolvessem, fornecendo
importantes matérias-primas. Várias indústrias estatais e institutos de
pesquisa foram criados no período. Entre as empresas estatais criadas por
Vargas, podemos citar a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale
do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do
Vale do São Francisco (1945).
Em 1939,
com o início da Segunda Guerra Mundial, uma importante questão política
orientou os últimos anos do Estado Novo. No início do conflito, Vargas adotou
uma postura contraditória: ora apoiando os países do Eixo, ora se aproximando dos aliados. Com a
concessão de um empréstimo de 20 milhões de dólares, os Estados Unidos conquistaram
o apoio do Brasil contra os países do Eixo. A luta do Brasil contra os regimes
totalitários de Adolf Hitler e Benito Mussolini gerou uma tensão política que
desestabilizou a legitimidade da ditadura varguista.
Durante o
ano de 1943, um documento intitulado Manifesto dos Mineiros, assinado por
intelectuais e influentes figuras políticas, exigiu o fim do Estado Novo e a retomada
da democracia. Acenando favoravelmente a essa reivindicação, Vargas criou
uma emenda constitucional que permitia a criação de partidos políticos e
anunciava novas eleições para 1945. Nesse meio tempo surgiram as
seguintes representações partidárias: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e
o Partido Social Democrata (PSD), ambos redutos de apoio a Getúlio Vargas; a
União Democrática Nacional (UDN), agremiação de direita opositora de Vargas; e
o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que saiu da ilegalidade decretada por
Getúlio.
Em 1945, as
medidas tomadas pelo governo faziam da saída de Vargas um fato inevitável. Os
que eram contrários a essa possibilidade, organizaram-se no chamado Movimento
Queremista. Empunhados pelo lema “Queremos Getúlio!”, seus
participantes defendiam a continuidade do governo de Vargas. Mesmo contando com
vários setores favoráveis à sua permanência, inclusive de esquerda, Getúlio
aceitou passivamente a deposição, liderada por militares, em setembro daquele
ano.
Dessa
maneira, Getúlio Vargas pretendeu conservar uma imagem política positiva.
Aceitando o golpe, ele passou a ideia de que era um líder político favorável ao
regime democrático. Essa estratégia e o amplo apoio popular, ainda renderam a
ele um mandato como senador, entre 1945 e 1951, e o retorno democrático ao
posto presidencial, em 1951.
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