A questão curda
Os curdos formam uma etnia
composta por cerca de 30 milhões de pessoas, são descendentes do reino
mesopotâmico ou medo-persa e habitam uma região localizada em seis diferentes
países: Turquia, Armênia, Azerbaijão, Iraque, Irã e Síria. Em geral, os curdos
professam a religião islâmica e reivindicam a área em que ocupam nesses países
para a criação de um Estado chamado Curdistão. Não obstante, a questão
curda estabelece-se no fato de esse povo formar a maior nação sem Estado
territorial.
Até a Segunda Guerra
Mundial, os curdos habitavam áreas correspondentes ao que era os Impérios
Turco-Otomano e Persa, respectivamente. Atualmente, eles habitam os países
sucessores ou herdeiros desses impérios, com destaque maior para o Iraque e a
Turquia, onde seus gritos por independência foram duramente reprimidos. No
território iraquiano, a maior onda de violência aconteceu durante o governo de
Saddam Husseim, que reprimiu duramente todo e qualquer ativismo curdo,
incluindo o uso de armas químicas nos anos 1990. Na Turquia, ainda nos dias
atuais, os curdos são duramente reprimidos em suas manifestações pelo Estado, e
a comemoração de suas datas nacionais e o ensino da língua curda – oindoirani
e alguns outros dialetos – nas escolas são vedados.
Em resposta às duras
repressões, os curdos organizaram-se em diversos grupos armados ligados ao PKK
(Partido dos Trabalhadores Curdos), reconhecidos como terroristas, que
atuam muitas vezes por meio da ativação de carros-bombas e atentados públicos
contra os governos, principalmente na Turquia e, mais recentemente, na crise da
Síria. Essa instabilidade e a dura repressão do governo turco em relação os
curdos são, inclusive, uns dos entraves que o país possui para conseguir sua
entrada na União Europeia, que não admite governos tidos como antidemocráticos
e que violam os direitos humanos.
Os curdos estão na linha de
frente de vários conflitos e disputas territoriais geopolíticas no Oriente
Médio. No Iraque, por exemplo, eles vêm formando a principal linha de
resistência que impede a expansão do grupo terrorista Estado Islâmico, que
pretende constituir um Estado regido pela sharia (lei islâmica).
Já na guerra civil da Síria, embora boa parte dos curdos tenha optado pela
neutralidade, alguns deles formam grupos que atuam contra o governo de Bashar al-Assad
e também contra alguns grupos jihadistas que tentam tomar o poder
no país, em uma complexa disputa geopolítica.
A atuação dos curdos no Iraque –
primeiramente contra Saddam Husseim e depois contra o Estado Islâmico – foi de
grande utilidade para garantir a eles uma relativa autonomia na região norte
desse país, porém ainda muito distante da tão sonhada independência e
constituição inicial de seu território. Nesse país, a maioria dos curdos é de
orientação sunita (menos radical), que compõe cerca de 17% da população de todo
o Iraque, ao passo que os curdos xiitas integram apenas 1%..
Aparentemente, os curdos estão
longe de constituir o seu próprio Estado. Primeiramente, a atuação do grupo
PKK, considerado terrorista por muitos países, dificulta o reconhecimento da
luta desse povo no contexto internacional. Em segundo lugar, cabe destacar que
o território reivindicado, além de fazer parte de seis países, contém uma série
de recursos naturais e nascentes de águas, isso em uma região onde esse recurso
é extremamente escasso, o que faz com que os países apresentem uma forte
resistência. Por fim, a falta de influência política dos curdos e o
desinteresse das potências ocidentais colocam a luta curda em um plano
secundário na Geopolítica do Oriente Médio.
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