A Guerra Irã-Iraque
O conflito conhecido como Guerra Irã-Iraque ocorreu entre os
anos de 1980 e 1988. Sob uma perspectiva histórica, as rivalidades que
culminaram na Guerra Irã-Iraque estão atreladas a uma das etapas do antigo
conflito árabe-persa pelo controle das terras férteis da Planície da
Mesopotâmia. Os dois países, que possuem fronteiras em comum, estão localizados
na região da Mesopotâmia, palco de inúmeras disputas territoriais desde a
Antiguidade, tendo sido povoada por civilizações como os assírios, babilônios,
persas e árabes. O maior elemento dessas disputas é de ordem natural: a
configuração do relevo, em áreas planas e com a presença de solos férteis, o
que favorece a prática agrícola e também por conta da sua rede hidrográfica
formada por grandes rios perenes, a se destacar os rios Tigre e Eufrates, algo
raro em uma área onde predomina os climas árido e semiárido.
Pouco antes do início do conflito, no ano de 1979, o Irã
atravessou uma enorme transformação política conhecida como Revolução Islâmica,
quando organizações religiosas associadas a partidos esquerdistas contaram com
o apoio popular para derrubar o regime pró-Ocidente do xá (título oferecido aos
monarcas persas) Reza Pahlevi, instaurando um Estado teocrático islâmico e de
oposição à presença política dos países ocidentais e de Israel. A maioria da
população iraniana e o regime inaugurado pelo Aiatolá Khomeini tinham
orientação religiosa xiita, divisão do islã que abrange cerca de 10% da
população islâmica do mundo, mas que são maioria no Irã, Iraque e Barein.
Já o Iraque, ainda no final da década de 1960, criou um
governo de cunho nacionalista através do partido Baath e que teve na figura de
Saddam Takriti Hussein um dos seus principais representantes. Saddam foi o
vice-presidente do país de 1968 até 1979, quando finalmente assumiu a
presidência do país. Apesar de laico, o regime de Saddam Hussein, que pertencia
à seita sunita, impôs restrições à maioria da população, composta por xiitas,
que sofreu com repressão, confisco de terras e limitações para a prática
religiosa. Os curdos, outra etnia que existe na região, também tiveram de
submeter a diversas retaliações.
Naquele momento, tanto o Iraque quanto o Irã detinham
sociedades que contavam com os ganhos de uma década de crescimento econômico
pautado na produção de petróleo, além de grande poder militar, apresentando
enorme potencial para o crescimento econômico e social. O presidente iraquiano
Saddam Hussein, mesmo tendo realizado progressos significativos no
desenvolvimento de um Estado iraquiano, acreditava que a nova liderança do Irã
revolucionário xiita ameaçava o equilíbrio do Iraque e seu governo sunita,
explorando as vulnerabilidades geoestratégicas do Iraque, como por exemplo suas
limitações de acesso mínimo ao Golfo Pérsico.
Voltando ao ponto de vista da
evolução das territorialidades presentes na região, a postura de Saddam Hussein
em invadir o Irã teve um precedente histórico: os governantes da Mesopotâmia,
temendo conflitos internos e as invasões de povos estrangeiros se envolveram
diversas vezes em batalhas frequentes com os povos das chamadas ‘terras altas’,
uma referência ao entorno montanhoso e planáltico da área correspondente à
Planície da Mesopotâmia.
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