A DÉCADA DE 1960: OS ANOS REBELDES


DÉCADA DE 1960: OS ANOS REBELDES

A década de 1960 foi, na segunda metade do século XX, a década mais importante, onde houve uma forte efervescência cultural que deixaria sua marca nas décadas seguintes, onde importantes revoluções, em várias áreas, mudaram a história da humanidade, onde pessoas que não tinham perspectivas de cidadania se levantaram e lutaram pelos seus diretos, e aonde os jovens sonhavam que poderiam mudar o mundo, com flores ou armas, enfim, os anos 60 foi um período histórico que devido a sua importância não tem como ser ignorado, naqueles anos forjou-se um mundo que duraria pelo menos uma geração.
O mundo entrou nos anos 60 numa prosperidade econômica nunca antes vista na história do capitalismo, as pessoas nascidas após a Segunda Guerra Mundial (conhecidas como Baby
Boomers, devido à alta taxa de natalidade do período), não tinha vivido a crise que se seguiu a guerra e vivam com certo conforto econômico proporcionado pelo Estado de Bem Estar Social e pela economia de Pleno Emprego da época, onde se valorizava o consumo, a posse de bens materiais.

Politicamente, era o período da Guerra Fria, conflito ideológico entre Estados Unidos e União Soviética, que na primeira metade dessa guerra foi agravada pela crise dos mísseis soviéticos em Cuba, que quase levou a uma guerra nuclear, período onde Estados Unidos e União Soviética influenciavam governos de todos os continentes a aderir a sua ideologia, período em que se acentuou a Descolonização Europeia da África/Ásia, levando ao acirramento do conflito falado acima.

Na sociedade teve início uma grande revolução comportamental como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais, O Papa João XXIII abre o Concílio Vaticano II e revoluciona a Igreja Católica. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, com seus protestos.
A Mudança Inicia pela Educação
Para o mundo ocidental, uma pressão por uma educação mais ampla veio, em parte, do estimulo à educação dada pela URSS. A propaganda soviética nesse campo, como no da saúde pública, levou os governos dos “Estados de bem estar social” a realizar grandes investimentos nestes setores. Durante os séculos precedentes a educação era realizada no ambiente doméstico tornou-se prerrogativa dos estabelecimentos escolares. Antes os pais trabalhavam em casa e a educação dos filhos limitava-se, muitas vezes, ao oficio dos pais. À medida que os pais deixaram de trabalhar em casa, a educação dos filhos teve de ser modificada também, e a escola assumiu esse papel.
A necessidade de uma educação mais formal se fez necessário, pois os empregos exigiam mais qualificação. A primeira coisa de que se necessitava era de um sistema de ensino que permitisse se não a todos, pelo mesmo a maioria, saber ler e escrever, para os empregos menos qualificados. E os níveis mais elevados de ensino, especialmente o universitário, se tornavam uma exigência para os cargos de direção, como administração das empresas, engenharia, etc. Dessa forma, o ensino superior se popularizou, permitindo que os jovens, principalmente, da classe média tivessem acesso a este tipo de formação. Ao ingressarem nas universidades, os jovens mudaram o seu modo de pensar, contribuindo definitivamente para as mudanças ocorridas nas estruturas sociais a partir da década de 1960.

As transformações na estrutura familiar
Um pai provedor, uma mãe com prendas domésticas e muitos filhos”. Essa imagem típica de uma família de classe média, no inicio do século XX foi cedendo lugar a diferentes maneiras de encarar os relacionamentos entre homens e mulheres. As famílias pobres fugiam um pouco a esta formatação, pois os apertos financeiros obrigavam, quase sempre, a mulher e os filhos a também trabalhar. Nas famílias de classe média e ricas, os homens não permitiam que suas esposas tivessem trabalhos remunerados externos a casa.
A partir da metade do século XX, a família passou por mudanças que muitos consideraram revolucionárias. O primeiro aspecto que podemos considerar fundamental para essa mudança é à entrada da mulher no mercado de trabalho, resultado do avanço dos movimentos feminista e da entrada de mulheres nas universidades. Essa “saída” da mulher da vida doméstica incentivou o crescimento da indústria de eletrodomésticos que cada vez mais desenvolvia produtos para “facilitar” a vida doméstica. Outro fator é o aumento do número de divórcios. Em relação à década de 1960, nos EUA, por exemplo, os divórcios triplicaram em relação à década anterior. A partir de então, a mulher foi cada vez mais se tornando menos dependente do homem, mudando consideravelmente a estrutura familiar.


 A rebelião juvenil
Parte significativa das mudanças que marcaram as sociedades na segunda metade do século XX teve como protagonistas os jovens. A década de 1960 foi um marco nesse processo. Uma cultura jovem se consolidava nesse período, trazendo mudanças sensíveis nos modos de viver e pensar. O modo de se vestir dos jovens era até a década de 1950, em tudo, semelhante ao dos pais. Crianças e adolescentes usavam calças e camisas sociais; as meninas e moças vestiam-se confirme suas mães. A calça jeans, desbotada, rasgada, passou então, a ser usada como m símbolo de contestação, assim como as roupas coloridas. As mulheres também passaram a usar calças, as saias foram diminuindo de tamanho.
Os cabelos dos jovens masculinos sempre curtos passaram a ser cumpridos, desafiando diretores de escolas e outros setores que se recusavam a aceitar a entrada de alunos cabeludos. Além disso, esses jovens promoviam manifestações a adotavam atitudes contestadoras, como a organização de comunidades coletivas e a luta pela igualdade racial, explicitando a sua critica a moral conservadora dominante em seus países. Opunham-se tanto a exploração das sociedades capitalistas como a falta de liberdade nos países socialistas.
Um dos movimentos mais marcantes dessa época foi o dos hippies. Estes faziam oposição aos valores morais dominantes nas sociedades ocidentais industrializadas. Pacifistas, foram duros críticos à Guerra do Vietnã com várias manifestações que reuniam milhares de pessoas, sob o lema “faça amor, não faça guerra”. Os hippies geralmente se vestiam com roupas coloridas, usavam cabelos cumpridos e viviam em comunidades e eram adeptos ao vegetarianismo. Muitos acreditavam que se usassem substancias alucinógenas, expandiriam sua consciência e obteriam maior conhecimento sobre si mesmo. Isso acabou contribuindo para disseminar o uso de drogas como a maconha e o LSD entre os jovens. Defendiam a liberdade sexual e o seu principal lema era “paz e amor”.


 Mas foi na França, em maio de 1968, que aconteceu a maior manifestação estudantil da década. Descontentes com a educação tradicional francesa, milhares de estudantes tomaram a ruas de Paris para protestar. Eles questionavam os códigos morais que regiam as relações pessoais, especialmente entre homens e mulheres. Nessas manifestações, carregavam cartazes e gritavam slogans como “é proibido proibir”; “sejamos realistas, que se peça o impossível”; “a imaginação no poder”; “tome seus desejos como realidade”. Aos estudantes, uniram-se milhares de operários e imigrantes que lutavam por melhorias de vida, trabalho e aumentos salariais. A policia entrou em confronto com os manifestantes, que por sua vez, montaram barricadas nas ruas para enfrentar a repressão. O governo francês sentiu a pressão e prometeu aumento

salarial, o que fez os trabalhadores abandonar o movimento, deixando os estudantes enfraquecidos. Além disso, boa parte da população preferia a “ordem” do que a “desordem” e apoiaram o uso das Forças Armadas contra os estudantes. Mas essas manifestações dos estudantes franceses acabaram por influenciar vários outros movimentos provocando uma verdadeira revolução cultural e comportamental que influenciou jovens do mundo inteiro.
Um dos grandes marcos desse período foi à consolidação do Rock como uma das expressões dos jovens, principalmente para contestar os conceitos morais de sua sociedade.
O movimento conhecido como rock’n roll surgiu nos EUA na década de 1950 influenciado pela música negra, em particular o blues. É possível afirmar que o primeiro grupo de rock foi o de Bill Haley and his Comets, interpretes da música Rock around the clock, lançada em 1955. Outros conjuntos surgiram na esteira do sucesso dos Comets.
A simplicidade dos instrumentos musicais (uma guitarra elétrica, um baixo e uma bateria), as letras fáceis e o ritmo dançante tornaram os primeiros conjuntos de rock bem populares, principalmente entre a juventude. Mas o rock se tornou um grande sucesso a partir de Elvis Presley, que passou a adotar um estilo rebelde.
A juventude das décadas de 1950 e 1960 não tinham as mesmas preocupações que seus pais. Não viveu a II Guerra e não via razões para defender ideologias de esquerda ou de direita. Ao mesmo tempo, o rock expressava uma atitude de rebeldia contra o conservadorismo dos pais e da sociedade. O rock acabou por se tornar o grande movimento musical e comportamental da época. Não bastava ouvir uma música de rock, era preciso, dançar e vestir o rock. Em 1958, Elvis Presley foi convocado para servir o exército e ao retornar era um jovem disciplinado, sem a rebeldia dos primeiros tempos e cantando baladas românticas.
No inicio da década de 1960, em Liverpool na Inglaterra, surgiu a maior banda de rock de todos os tempos: The Beatles, que em 1962 lançaram Love me do e logo ganharam o mundo que foi seduzido pelo quarteto e tomado pela beatlemania. Outra banda inglesa de grande destaque foi os Rolling Stones, mais escrachados e rebeldes.

O feminismo se consolidou como um discurso de caráter intelectual, filosófico e político que busca romper os padrões tradicionais, acabando assim com a opressão sofrida ao longo da história da humanidade pelas mulheres. O movimento ganhou muita força, sendo endossado tanto por homens quanto por mulheres que defendem a igualdade entre os sexos. Marcada por algumas conquistas de décadas anteriores, durante a década de 1960, as feministas ganharam espaço.
A nova fase identificava o problema da desigualdade como a união de problemas culturais e políticos, encorajando as mulheres a serem politizadas e combaterem as estruturas sexistas de poder.
Foi também no começo da década de 1960, especificamente em 1964, que apareceu a frase “Liberação das Mulheres”. Esta foi usada pela primeira vez nos Estados Unidos e acabou se tornando fundamental para todo movimento feminista. Após a Primeira Onda Feminista criticar os contratos matrimoniais que não incluíam os interesses e sentimentos das mulheres, a Segunda Onda Feminista passou a criticar a ideia de que as mulheres teriam satisfação em apenas cuidar dos filhos e do lar. Esta nova observação incendiou o cenário social, especialmente nos Estados Unidos, que foi invadido por mulheres que queriam trabalhar, sustentarem-se e serem respeitada com igualdade de capacidade.
A maior participação das mulheres no mercado de trabalho gerou um novo questionamento que perdura até hoje. A discriminação não é tão intensa quanto antes, no sentido de que havia um bloqueio às mulheres para ocupar cargos, mas é verificável ainda que a remuneração pelo trabalho de mulheres que desempenham as mesmas funções de homens é menor. Um desafio que ainda precisamos superar.
NOS EUA, A LUTA DOS NEGROS

O movimento negro teve forte impacto nos EUA. As pessoas que dele participaram lutavam pela igualdade civil entre brancos e negros e pelo fim da discriminação racial no país, movimento esse que ficou conhecido como a “luta pelos direitos civis”. Seus principais líderes foram Martin Luther King Jr. E Malcolm X. No entanto, cada um deles defendia estratégias diferentes de luta. Martin Luther era um líder negro cristão que acreditava na luta multirracial contra a segregação, a pobreza e a marginalização dos afro-americanos. Ele estimulou boicotes aos meios de transportes que discriminavam os negros e organizou diversas manifestações pacifistas pelos direitos civis e pela igualdade racial.
Por meio de seus discursos, King conseguiu unir milhares de pessoas em defesa da causa negra, inclusive políticos que aprovaram leis que beneficiavam os afro-americanos. Em 1963, ele liderou a Marcha pelos Direitos Civis, na capital do país, da qual participaram cerca de 200 mil pessoas e, em 1964, recebeu o prêmio Nobel da Paz. Martin Luther King foi assassinado em 1968, porém sua luta serve de exemplo até hoje, para os movimentos que defendem a igualdade racial.
Malcolm X, por sua vez, era um líder negro muçulmano que não acreditava na união entre brancos e negros. Ele também organizou muitas manifestações em favor da causa negra, mas, ao contrário de King, estimulava a luta armada se ela fosse necessária. Ele participou do movimento negro de 1952 até 1965, quando foi assassinado.



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