A CRISE DA OLIGARQUIA E A "REVOLUÇÃO" DE 30


A CRISE DA  OLIGARQUIA E A “REVOLUÇÃO” DE 1930

As revoltas tenentistas e o avanço do movimento operário - em suma, a questão social que chegou a ameaçar o poder da velha oligarquia - estavam dominados. Em 1927, entrou em vigor a lei Celerada, censurando a imprensa e restringindo o direito de reunião; essa nova lei era dirigida contra os tenentes e os operários filiados à organização revolucionária BOC (Bloco Operário Camponês). Mas a aparente calmaria política do governo de Washington Luís era enganosa. No final do seu mandato, todos os vícios acumulados pela República Oligárquica conduziram a uma solução violenta - a Revolução de 1930 -, que pôs fim à República Velha.

Em 1906, como já vimos, o Convênio de Taubaté deu início à política de valorização do café. O excedente era comprado mediante empréstimos no exterior e estocado, a fim de manter o seu preço internacional. Durante a Primeira Guerra Mundial, que paralisou o comércio internacional, a exportação brasileira de café declinou, trazendo de volta o fantasma da superprodução. Em 1917, diante da ameaça de uma super safra, o governo central apoiou a realização de uma segunda valorização, com a compra de 3 milhões de sacas. Para alivio geral, em 1918, a geada atingiu 40% dos cafezais. Nesse mesmo ano, com o fim da guerra, o comércio internacional se normalizou, elevando o preço do café, para a euforia dos cafeicultores.

A alegria não durou muito. Em 1921, foi colocada em prática a terceira valorização do café, com a compra efetuada pelo governo central. A cada valorização, estimulava-se o plantio de novos cafezais, de modo que, nos anos 20, já se começava a pensar numa política que tornasse permanente a valorização.
Ora, um dos fatores básicos da Revolução de 1930 foi à crise da política de valorização do café, em virtude da violenta crise do capitalismo (1929).

Gravura em homenagem a Revolução Mexicana, considerada por alguns historiadores, a revolução mais popular do século XX.
A grande depressão solapou a base artificial em que se vinha mantendo a lucratividade dos grandes cafeicultores. Os efeitos da crise foram à retração do mercado consumidor, a suspensão do financiamento para estocagem do café, a exigência da liquidação imediata dos débitos anteriores. Em suma, caiu por terra toda a paciente montagem da política de valorização.

Ao lado da crise da política de valorização, surgiu, em 1930, a questão sucessória. Washington Luís, ao contrário do que era esperado, não indicou como seu sucessor um mineiro, segundo o hábito do rodízio das oligarquias do PRP e do PRM. Em vez de um mineiro, Washington Luís preferiu apoiar a candidatura de Júlio Prestes, um paulista, para garantir a continuidade das práticas de proteção ao café. Ora, Antônio Carlos, presidente do estado de Minas, esperando ser o presidente da República, viu-se frustrado. Daí a cisão entre o PRP e o PRM, dois partidos que eram à base da República Velha.

Imediatamente, Antônio Carlos tomou o encargo de articular uma candidatura de oposição. Para isso, buscou o apoio do Rio Grande do Sul. Dessa união nasceu a Aliança Liberal, que lançou Getúlio Vargas (gaúcho) como candidato à presidência e João Pessoa, um paraibano, como vice-presidente. Para firmar o nome de seus candidatos, a Aliança Liberal baseou sua campanha na necessidade de reformas políticas: instituição do voto secreto, anistia política, criação de leis trabalhistas para regulamentar a jornada de trabalho e outras voltadas para a assistência do trabalhador. Rapidamente, a AL sensibilizou a massa urbana, ganhando apoio até mesmo dos tenentes.

Entretanto, nas eleições de 1° de março de 1930, o candidato eleito foi Júlio Prestes. Os velhos líderes gaúchos, como Borges de Medeiros, tendiam a aceitar o resultado. Um inconformismo tomou conta de políticos então emergentes, como Osvaldo Aranha e Lindolfo Collor, aos quais se juntaram os tenentes Juarez Távora e Miguel Costa. Um grave acontecimento veio enfim precipitar a revolução: o assassinato de João Pessoa.
João Pessoa governava o estado da Paraíba desde 1928 e era membro da Aliança Liberal. A sua política no estado sofreu forte oposição de coronéis do interior, apoiados pelos paulistas, que os ajudaram com o envio de armas. O seu assassinato em julho de 1930, quando conversava com amigos numa confeitaria, foi motivado por questões pessoais. Não se tratou de um atentado político. Mas, dado o clima de tensão e de frustração pela derrota, a morte de João Pessoa serviu como bandeira para os aliancistas desencadearem um levante armado contra a oligarquia paulista.

A 3 de outubro de 1930, toda a oposição se uniu, e um movimento militar teve início no Rio Grande do Sul. No nordeste, sob a liderança de Juarez Távora, começou a rebelião. Enquanto isso, Washington Luís nada podia fazer, em virtude do seu isolamento. O próprio estado de São Paulo não estava coeso em torno dele. O Partido Democrático, fundado em 1926, fazia-lhe oposição. Assim, a perspectiva de resistência contra as tropas do sul, sob o comando do tenente-coronel Góis Monteiro, era nula. Para evitar maiores consequências, em 24 de outubro Washington Luís foi deposto pelos generais Mena Barreto, Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías de Noronha. Washington Luís partiu para o exílio e Getúlio Vargas, chefe do movimento, assumiu a chefia do Governo Provisório.

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