A Revolução Russa de
1917 foi um dos principais acontecimentos do século XX. Acontecimento esse que
irrompeu durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), apesar de seus
antecedentes remeterem ao ano de 1905, em que o correu a primeira tentativa
revolucionária, que teve como estopim o episódio marcante conhecido como
Domingo Sangrento.
O principal
aspecto da Revolução Russa é ela ter sido orientada pela doutrina comunista,
desenvolvida pelo filósofo alemão Karl Marx no século XIX – com a
ressalva de que tal doutrina foi complementada e acrescida de um plano
estratégico por aquele que se tornou o mais importante líder da revolução: Lenin.
No século
XIX, a Rússia juntamente com a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Áustria,
era uma das maiores potências europeias, porém enquanto os outros países
cresciam, faziam reformas e se industrializavam, a Rússia não se modernizava. A
Rússia era considerada um país atrasado em relação aos demais. Sua
economia baseava-se na agricultura. Os servos trabalhavam, mas os
senhores feudais não tinham o menor interesse de modernizar as plantações. O
país era governado pelo Czar (Imperador), que tinha poder absoluto,
ou seja, todos estavam submetidos a ele, inclusive a Igreja Católica Ortodoxa.
Em 1904 a
Rússia se envolveu em uma guerra contra o Japão, a Guerra Russo-Japonesa.
Este conflito desorganizou a economia piorando a situação dos operários e
camponeses. A humilhação da derrota acirrou os ânimos contra o czar. No ano
seguinte, os habitantes saíram em uma passeata a fim de entregar um abaixo-assinado
ao Imperador pedindo melhoras nas condições de vida e a instalação de um
parlamento. O czar respondeu com um massacre promovido por suas tropas,
aumentando ainda mais a revolta do povo, este fato foi denominado de Domingo
Sangrento.
Nesse contexto, ganharam
força os partidos políticos que buscavam dar representação aos setores da
sociedade russa mais insatisfeitos com o regime do czar. Além de partidos de
matriz liberal, o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR)
destacou-se como um partido de inspiração marxista, porém com grande
divergência de pensamento entre seus membros. As tendências divergentes do
POSDR polarizaram-se entre os mencheviques, a minoria, e os bolcheviques,
a maioria. Os mencheviques eram liderados por Yuly Martov e
Georgy Plekanov e tinham uma postura mais ajustada com o pensamento do
marxismo ortodoxo, isto é, defendiam que a revolução comunista na Rússia
deveria seguir as etapas definidas por Marx. Sendo assim, a burguesia deveria
desenvolver o país por intermédio de uma reforma industrial capitalista
profunda, enterrar o regime czarista e só depois a classe operária
protagonizaria uma revolução na esteira do comunismo. Os bolcheviques, que
tinham como líder Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido como Lenin,
propunham uma alternativa diferente daquela sustentada pelo marxismo ortodoxo.
Para Lenin, a revolução poderia ser acelerada em um país sem quadros econômicos
com alto desenvolvimento capitalista (como era o caso da Rússia). Essa
“aceleração” poderia ser operada e protagonizada pela aliança entre a classe
operária e o campesinato – sendo que ambos receberiam a orientação de um comitê
revolucionário formado por intelectuais e por dirigentes partidários.
Após as
rebeliões e greves iniciadas em 1905, o Império Russo procurou articular-se com
os liberais para tentar promover reformas que beneficiassem camponeses,
operários e burgueses. A saída para isso foi a criação da Duma, isto é,
Assembleia de representação popular. Enquanto isso, havia também o processo de
organização política dos trabalhadores em torno dos sovietes, isto é,
conselhos deliberativos que foram extintos após a retomada da ordem pelo czar e
que só voltariam a ter destaque em 1917.
Entre os
anos de 1907 e 1914, a Rússia voltou a ter uma aparente tranqüilidade, pois
houve uma alta no crescimento industrial e os camponeses ganharam terras.
Porém, a entrada da Rússia na I Guerra Mundial, vai desestabilizar
definitivamente o governo do czar Nicolau II.
A Revolução de Fevereiro de
1917
Em
fevereiro de 1917, uma junção de manifestações, greves e vários atos de
insubordinação por parte de camponeses, operários e militares por toda a Rússia
provocou a queda do czar e o fim do Império. Esses acontecimentos ficaram
conhecidos como Revolução de Fevereiro. Seguiu-se, a partir desses
acontecimentos, o que alguns historiadores denominaram de “etapa
democrático-burguesa”, constituída de um Governo Provisório, resultante de uma
aliança entre o soviete de Petrogrado, que era controlado por trabalhadores e
militares, e um poder central controlado pelos mencheviques.
Essa aliança, entretanto, logo se
mostrou frágil. A dualidade dos interesses burgueses e proletários acirrou-se
nos meses seguintes. Um dos principais pontos de divergência entre os dois
comandos era a continuação da presença na guerra, defendida pelo Governo
Provisório e repudiada pelo soviete de Petrogrado. Em abril de 1917, Lenin
encaminhou aos bolcheviques as teses de abril , ou propostas, que
retirariam a Rússia da guerra e dissolveria o Governo Provisório.
AS TESES DE ABRIL E REVOLUÇÃO DE
OUTUBRO DE 1917
As Teses de
Abril era basicamente um estímulo tanto
à remoção do apoio para a continuidade da Rússia na Primeira Guerra Mundial
quanto para a desobediência militar dos soldados. No documento, Lênin explica que
a Guerra Mundial era uma "guerra burguesa do capitalismo" e dessa
forma jamais aconteceria a saída da Rússia da guerra enquanto o capital
estivesse presente no governo provisório. As Teses de Abril tinham como base os
três pilares: "Paz,Terra e Pão":
Paz: a saída da Rússia da
guerra ; Terra: promover a reforma agrária; e Pão: comida a todos.
Lênin apoiado pelos sovietes e
por uma milícia popular conquista a capital obrigando o governo provisório a
renunciar e assumindo o governo em 1917. Eles acreditavam que só o comunismo
poderia trazer felicidade para os russos. No poder, eles tentaram realizar e
criar uma sociedade onde todos fossem iguais e livres.
Para realizar esse sonho, foram tomadas várias medidas:
- As terras da Igreja, nobreza e burguesia foram
desapropriadas e distribuídas aos camponeses
- Quase tudo se tornou propriedade do estado (fábricas,
lojas, diversões, bancos,etc)
A idéia dessas medidas era criar igualdade entre os homens,
pois, segundo o Marxismo, sem propriedade não haveria exploradores e
explorados.
Várias foram as dificuldades que surgiram durante o governo e
o novo regime se tornava mais autoritário, distanciando cada vez mais o sonho
de criar uma sociedade onde todos fossem livres e iguais.
Os Bolcheviques no Poder
Após
alcançar o poder, os revolucionários de outubro realizaram uma série de
mudanças interessadas em romper com os antigos alicerces que sustentavam a
Rússia Czarista. Vários bancos e indústrias foram nacionalizados, os títulos de
nobreza perderam o seu valor, as liberdades civis foram reorganizadas por novas
leis, as forças armadas ganharam nova formação e os operários poderiam
participar na gestão das indústrias em que trabalhavam.
Outra transformação de suma importância foi a negociação de
um acordo que determinasse a saída pacífica dos russos da Primeira Guerra
Mundial. Apesar da pacificação, o governo revolucionário ainda teve de
enfrentar as forças militares contrarrevolucionárias do Exército Branco,
formado essencialmente por conservadores, oficiais monarquistas e tropas de
nações europeias que temiam a divulgação da revolução popular da Rússia para
outras nações. Nesse contexto, foi necessária a implantação do comunismo de
guerra, marcado por ações rigorosas de intervenção econômica que
garantissem a manutenção do Exército Vermelho. Em 1921, as forças
revolucionárias acabaram vencendo o conflito.
Após o fim dos conflitos, o
governo de Lênin se deparou com as graves mazelas de um país completamente
desgastado pelo atraso e pela guerra. Para que a situação vigente fosse
contornada, Lênin anunciou um novo pacote de ações que integraria a chamada
Nova Política Econômica (NEP). Essa nova política permitiu que algumas práticas
de natureza capitalista fossem praticadas a fim de aquecer a economia do país.
Em curto prazo, as liberdades oferecidas pela NEP conseguiram projetar a
recuperação econômica do país.
Se, por um lado, a economia
vivenciava essa situação de abertura, o contexto político russo se direcionava
em sentido contrário. O Partido Comunista Russo passou a representar o governo
do país e era reconhecido como a única agremiação política autorizada a
funcionar. Uma nova constituição foi formulada e regiões vizinhas que também
aderiram ao socialismo passaram a integrar a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), criada em 1923.
No ano de 1924, o governo russo foi seriamente abalado com a
morte de Vladimir Lênin. A partir daquele momento, as conquistas concretizadas
pelo sucesso da experiência revolucionária deveriam ser repassadas para as mãos
de um novo líder. Foi nessa situação que os líderes políticos Leon Trótski e
Josef Stálin disputaram entre si o controle da URSS. Tendo uma articulação
política mais vigorosa e um discurso voltado para as questões internas do país,
Stálin acabou assumindo o governo.(FCA)
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