A REVOLUÇÃO RUSSA, O COMUNISMO E
A HISTÓRIA
A
História é uma construção. Evidente que, partindo do principio de que é uma
Ciência, está como qualquer outra subordinada a métodos científicos, como
observação, hipótese e comprovação. Porém, por se tratar de uma Ciência Social,
a concepção histórica acaba por se tornar mais relativa do que as demais
ciências. E assim, mais do qualquer outra, está sujeita a uma revisão
constante, já que na história nada é definitivo. Também, temos que lembrar que
uma de suas principais características é a interpretação dos fatos históricos e
a argumentação sobre eles.
Dizem os
juristas que contra fatos não há argumentos. Entretanto, a História vem nos
mostrar que não é bem assim. Inclusive, os fatos podem ser contraditórios e até
mesmo forjados. Vejamos a Revolução Russa de 1917 (que neste ano completa um
século), que é um dos fatos históricos mais marcantes do século XX, também
chamada de Revolução Comunista. Porém, este fato é repleto de contradições,
perpetuados ao longo das décadas e que dividiu o mundo em capitalistas e
comunistas ( sem os comunistas serem comunistas de fato) consolidando uma
verdade histórica bem construída e propagada pelo mundo ocidental capitalista
liberal. Mas uma análise mais profunda sobre a Revolução Russa e os fatos que a
envolvem nos levará a desconstituição desta “verdade” histórica, que mesmo
assim, perdura há 100 anos.
Primeiramente,
a Revolução Russa liderada por Lênin e depois assumida por Stálin que mudou
drasticamente os rumos pretendidos por Lênin, nunca foi comunista. Comunismo,
um conceito muito anterior a Karl Marx, que através da sua doutrina denominada
de marxismo, digamos delineou as diretrizes comunistas (também defendida por
outros segmentos, como os anarquistas, por exemplo) dizia o seguinte: uma
sociedade comunista é em sua essência, igualitária (sem classes sociais) e
auto-governável (sem governo), portanto com a inexistência do Estado. Só estes dois elementos são suficientes para
negar que a Revolução Russa foi comunista. Primeiro, Lênin cria a União
soviética, um Estado com governo. Por conclusão óbvia não pode haver um Estado
comunista, pois o comunismo nega a existência do Estado. Tanto que o nome
oficial da União Soviética é União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas e não Repúblicas Comunistas. Mas a construção histórica
pós II Guerra Mundial, reforçada pelo advento da Guerra Fria, reforçou no mundo
ocidental capitalista liberal a idéia de uma URSS e seus aliados comunistas.
Dividindo dessa forma o mundo em uma direita liberal capitalista democrática,
modelo correto a ser seguido; e um mundo comunista, antiliberal e
antidemocrático a ser combatido, portanto, o comunismo se tornou em um modelo
sócio político errado.
Outra
questão relevante a ser considerada que vem a contribuir para reafirmar que a
Revolução Russa não foi comunista é a existência de um Estado organizado,
burocratizada e uma sociedade desigual. Onde existia uma parcela privilegiada
que servia e se servia do Estado, os funcionários estatais e do partido, que
constituíam uma enorme malha burocrática de controle e se beneficiam do regime,
em detrimento de uma grande parcela da população russa que existia para servir
o Estado e era explorada por ele. Assim, sendo, havendo diferenças sociais, não
pode ser comunismo. Por isso, dessa forma, muitos historiadores, ainda no
decorrer do século XX, passaram a se referir ao modelo soviéticos e deus
aliados de Socialismo de Estado ou Socialismo Real, ou seja, aquilo que foi
aplicado de fato. Lembrando que para Marx, o socialismo é um meio, isto é, um
caminho para se atingir a sociedade comunista. O socialismo real soviético nada
mais é do que um capitalismo de Estado, onde este assumia o controle do próprio
Estado, da economia e da sociedade, não muito diferente dos Estados
totalitários de extrema direita, utilizando um sistema diferenciado do
capitalismo clássico.
Fica
evidente e claro pelas razões demonstradas que a Revolução Russa jamais
implementou uma sociedade comunista, assim como qualquer outra revolução dita
comunista. Isso de forma alguma diminui a importância do fato histórico e de
seus desdobramentos. Mas como diria Joseph Goebbels, ministro da propagando do
governo nazista alemão: “Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”.
E assim é a História, vai prevalecer o que é mais contado, propagado, afirmado,
divulgado e, isso vai se tornar um fato verdadeiro e aceito como dizem os
juristas. Mas não é bem assim, a sempre que se levar em consideração todas as
histórias. (Fabrício Colombo).
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