A República foi proclamada no
Brasil em 15 de novembro de 1889, pelo marechal Deodoro da Fonseca e, segundo
muitos historiados, muito mais um arranjo político do que uma convicção.
Entretanto,
para impor ou manter a República era necessário muito mais que a força. Era
preciso persuadir a sociedade. Para isso, os republicanos tiveram que formular
símbolos, rituais e imagens que mostrassem a sociedade e legitimidade do novo
regime político. Esses símbolos deveriam também marcar as diferenças entre a
república e a monarquia, claramente comprovando as vantagens da primeira sobre
a segunda.
Para
o historiador José Murilo de Carvalho, autor do livro “A formação das almas: o
imaginário da República no Brasil”, alguns eram de fato, novos símbolos, outros
nem tanto.
O primeiro símbolo a distinguir os
dois regimes foi Tiradentes, eleito como herói cívico a ser cultuado pelos
republicanos, assim o dia 21 de abril, data de sua morte se tornou feriado
nacional. Tiradentes se torna esse herói muita mais pela sua oposição a
monarquia que o condenou a morte, do que realmente um herói nacional, já que na
época da Inconfidência Mineira não se tinha a idéia de nacionalidade, muito
menos a luta por um Brasil livre.
O
segundo foi a bandeira para representar a República, inicialmente os
republicanos plagiaram a bandeira dos Estados Unidos, trocando as cores. Mas
quem criou a “nova” bandeira foi Teixeira Mendes, um positivista. A bandeira do
Império do Brasil tinha o fundo verde, um losango amarelo e uma esfera azul,
como a atual bandeira. O verde representava a Casa dos Bragança, dinastia de D.
Pedro I, o amarelo a Casa de Habsburgo, dinastia de D. Leopoldina; e dentro da
esfera azul estavam os emblemas imperiais.
Teixeira
Mendes, no lugar dos emblemas imperiais, desenhou estrelas e colocou uma faixa
branca com os dizeres:”Ordem e progresso”; uma lema positivista. Mantendo
símbolos da monarquia com inovações republicanas, os positivistas diziam querer
estabelecer uma relação entre passado e futuro. Ou seja, a bandeira mudou, mas
nem tanto.
Outro símbolo pertencente à
tradição monárquica é o Hino Nacional. Os republicanos até abriram um concurso
para escolher um novo hino. Porém, o Hino Nacional da época do Império, o mesmo
de hoje; era muito popular. Assim, os republicanos mantiveram a música de
Francisco Manuel da Silva, mas uma nova letra foi escrita por Osório Duque
Estrada. E o hino vencedor do concurso se tornou o Hino da Proclamação da
República:”liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós....que a maioria dos
brasileiros nem sabe que existe.
O
último caso refere-se a criação de um símbolo republicano: a imagem de uma
mulher. Recorrendo ao caso francês em que a República é representada por um
símbolo feminino, Marianne, os republicanos tentaram fazer o mesmo no Brasil.
Mas como se tratou de um símbolo importado e sem referências históricas
brasileiras, não foi reconhecido.
A
República acabou por se consolidar no Brasil, muito mais pela imposição da elite,
pela inércia do povo, do que pelos seus símbolos, que estão muito mais ligados
ao Império do Brasil do que ao movimento republicano. Coisas de Brasil. (FCA)
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