A ESCRAVIDÃO NEGRA
A integração entre Brasil e
África fundamentou-se no exercício do trabalho escravo realizado pelos
africanos, violentamente arrancados de suas comunidades e forçados a exercerem
tarefas árduas em regiões longínquas. Desde o século XVI, milhões de negros
africanos foram explorados nas mais variadas atividades econômicas da América
Portuguesa.
Os escravos eram conduzidos ao
Brasil Colônia após serem capturados por portugueses ou por inimigos tribais,
na região da costa africana. Os lusos incentivavam os conflitos no continente,
visando garantir a rivalidade responsável pelo fornecimento de numerosos
escravos por chefes locais, conhecidos por sobas, que recebiam em troca tabaco,
cachaça, armas ou qualquer iguaria valorizada pelas comunidades.
Colocados em embarcações
precárias, os chamados tumbeiros, muitos africanos pereciam antes mesmo de
chegarem aos locais de destino. Calcula-se que aproximadamente 15 a 20% dos
negros morriam nas viagens devido à falta de alimentos, às condições subumanas
de higiene, à ausência de cuidados médicos e às acomodações indevidas.
A viagem para o Brasil chegava a
durar mais de trinta dias, podendo alcançar até quatro meses, caso a região
fosse muito distante. Alguns navios levavam mais de 500 escravos em condições
absolutamente precárias. Calcula-se que, até o século XIX, 25 milhões de
africanos foram submetidos à escravidão na América, sendo que mais de 4 milhões
foram transportados para o Brasil. Os negros que vieram para a América Portuguesa
pertenciam aos seguintes grupos étnicos:
Bantos: Região do Congo, Angola e
Moçambique.
Sudaneses: Nigéria, Daomé e Costa
do Mar.
Maleses: Sudaneses convertidos ao
islamismo.
O universo escravocrata não era
homogêneo. Era comum a distinção entre os escravos recém-chegados da África,
conhecidos por boçais, e os ladinos, ou seja, aqueles que já haviam se adaptado
ao universo cultural português. Esses dois grupos eram tratados de modo
distinto dos que haviam nascido na América Portuguesa. A mestiçagem ampliou
ainda mais essa distinção, subdividindo mulatos – quase sempre originados da
união entre brancos e negras, escravos de peles mais claras –, preferidos para
as atividades domésticas, em detrimento dos negros vindos da África,
encarregados das tarefas mais pesadas.
A mão de obra escrava foi
utilizada nas mais variadas atividades da economia colonial, tanto no meio
urbano como no rural. O padre Antonil, importante cronista colonial, definiu os
cativos como “as mãos e os pés do senhor”. A opressão de todas as ordens
buscava obter o controle da escravaria, com destaque para o capitão do mato,
responsável pela aplicação dos castigos e pela captura dos cativos que tentavam
fugir.
Muitos senhores buscavam reduzir
as tensões existentes na relação de domínio por meio de concessões aos
escravos, como a premiação pela realização de alguma atividade (escravos de
ganho) ou com a autorização do uso da terra para plantio em horários
previamente definidos (brecha camponesa). Esses esforços, no entanto, não
inibiram as ações de resistência por parte dos cativos. Nesse sentido,
destacaram-se as revoltas, os suicídios, as conspirações e as fugas para os
quilombos ou mocambos.
Entre as centenas de organizações
quilombolas do Brasil Colonial, destaca-se o Quilombo dos Palmares. Localizado
na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas, o principal núcleo de resistência
negra ocupou uma área de aproximadamente 350 km. O número de habitantes na
região é divergente, girando entre 6 a 20 mil pessoas, distribuídas em dez
agrupamentos, tendo o Mocambo do Macaco como principal núcleo. Sua história
percorreu todo o século XVII, sendo a segunda metade desse século o período de
maior expansão do quilombo, devido ao fato de milhares de escravos
aproveitarem-se do quadro de conflitos entre lusobrasileiros e holandeses como
possibilidade de fuga.
A força de Palmares criou
condições para a derrota de importantes expedições portuguesas que visavam
desmantelar o quilombo, como a conduzida pelo sargento-mor Manoel Lopez Galvão
em 1677. No final do século XVII, o núcleo de amotinados passou a ser conduzido
por Zumbi, responsável pela liderança de milhares de escravos que resistiam a
qualquer negociação com as autoridades portuguesas, desejosas de pôr um m ao
núcleo de negros.
Apesar da resistência, a falta de
entendimento entre os habitantes de Palmares levou a um desfecho trágico para o
quilombo, que foi destruído pela ação do bandeirante Domingos Jorge Velho e
seus companheiros, no ano de 1695. Zumbi foi morto e degolado, sendo sua cabeça
exposta na cidade de Recife.
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