NADA DE NOVO NO FRONT
Nada de Novo no Front é um livro do autor alemão Erich Remarque que retrata os horrores vivenciados por um jovem durante a I Guerra Mundial e, que foi adaptado para o cinema. Mas o que isso tem haver com a educação no Brasil e em nosso estado. É que o ano mal começou e já temos alguns horrores para descrever.
Primeiramente a imposição dos estudos de recuperação para os alunos que não tinha atingido a aprovação mesmo para aqueles que não tinham freqüência, o que culminou com a provação de muitos alunos sem a mínima condição. Não se recupera um ano letivo em duas semanas. Isso é utopia, história pra boi dormir, etc. E o mais apavorante é que no nosso caso aqui no Rio Grande do Sul, é que o governo exige uma qualidade na educação, que ele mesmo faz questão de detonar, ao não contratar professores para reforço e funcionários para os setores da escola, como as bibliotecas por exemplo. Outra coisa são as avaliações externas. Saíram os resultados do Saers 2022 e, eles são um fiasco, principalmente em Matemática. Aí as escolas são cobradas, mas esse próprio governo esquece que ele faz um esforço para que a escola aprove a qualquer custo. Qual é o resultado? Os alunos chegam no 9º ano do EF e no 3º ano do Ensino Médio sem saber o básico. E isso é diagnosticado pelo resultado do Saers, onde a maioria dos estudantes do nosso estado está abaixo do básico em Matemática e digamos com muito esforço no básico em Português. Só para ilustrar abaixo do básico e básico é considerado pelo próprio Sistema de Avaliação como inadequados, isto é, o aluno não atingiu habilidades adequadas de aprendizagem.
Outro problema é o Novo Ensino Médio que nem foi implementado totalmente ainda e o Ministério da Educação já abriu consulta pública para avaliação e reestruturação da política nacional do Ensino Médio, que já foi publicado no Diário Oficial da União na quinta feira dia 9 de março. Além disso, uma equipe sob a coordenação do MEC foi montada para analisar os questionamentos. Ou seja, não nenhuma novidade nisso. Eu trabalho em educação a mais de 23 anos e já passei por quatro reformas do Ensino Médio. E eis o problema, não existe no Brasil uma política de Estado para a educação. Cada governo que entra adota um novo sistema e aí como resultado temos a bagunça que está. E, realmente aí sou obrigado a falar que o Novo Ensino Médio está sendo catastrófico. Pedagogos não gostam, professores não gostam, e os alunos não gostam. E por que não gostam. Porque ninguém vê sentido na proposta. Os alunos do 2º ano do EM tem 30 períodos semanais distribuídos entre 19 componentes curriculares e; no 3º ano serão 30 períodos semanais distribuídos em 21 componentes. A maioria dos componentes tem 1 período semanal de aula; Português, por exemplo, no 3º ano do Ensino Médio terá apenas 2 períodos semanais e, isso que grande parte da nossa população, mesmo a escolarizada é analfabeta funcional. Não existe o tão aclamado aprofundamento dos estudos. Pelo contrário, o estudo é raso e sempre o básico. Sem falar que os componentes curriculares novos são dados pelo mesmo quadro de professores da escola e que não receberam formação para ministrar a aula das chamadas trilhas de aprofundamento. Desculpem o palavriado, mas tudo “feito nas coxas”. O Novo Ensino Médio como está e como é proposto principalmente pelo governo gaúcho é um grande conto de fadas, onde na teoria tudo é lindo, mas a realidade dentro das escolas não é a narrativa do governo, muito menos a da grande imprensa que desvirtua todas as informações.
E para finalizar o problema de sempre. É chato falar sobre ele? É, mas mais uma vez o governo estadual reluta em dar o aumento de salário real aos professores. Existe uma demanda de trabalho enorme em cima das direções, coordenações e professores, além da falta de funcionários e não existe uma contrapartida, nem salarial, nem de recursos para que as escolas funcionem como no papel todos esperam que ela funcione. Professores cansados e mal remunerados não irão ministrar aulas de qualidade. Não vamos ser hipócritas. Qualidade tem preço. Ah, eu posso fazer o melhor com o que eu tenho? Posso. Mas esse melhor do jeito que está não é suficiente para que a educação avance em qualidade.
E dessa forma, estamos em 2023 e nada de diferente no Front da educação. Tudo continua igual. As roupas são modernas e diferentes, mas os modelos são iguais e ultrapassados. As roupas são novas, mas não servem.
Prof. Fabrício Colombo de Aguiar
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