Talibã e seu retorno ao poder do
Afeganistão
O Talibã, grupo fundamentalista
islâmico sunita, retornou ao poder do Afeganistão em agosto de 2021, depois de
reconquistar praticamente todo o território afegão. Isso aconteceu com a
retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, após quase 20 anos de
ocupação. O retorno do Talibã é visto como uma grande ameaça ao bem-estar da
população afegã.
Em 15 agosto de 2021, o mundo
tomou conhecimento de que o Talibã, grupo fundamentalista islâmico, havia
retornado ao poder do Afeganistão. Isso aconteceu 20 anos depois de eles terem
sido derrubados por meio da expedição liderada pelos Estados Unidos, que
invadiram o país em 2001.
O Talibã retornou ao poder do Afeganistão, oficialmente falando, depois de ter conquistado a capital do país, Cabul. Isso foi a conclusão de uma ofensiva militar iniciada em agosto de 2021 e que teve efeitos devastadores, pois, em praticamente duas semanas de ataque, o grupo conquistou todas as grandes províncias afegãs e a capital do país.
Isso foi uma consequência da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão depois de quase 20 anos de ocupação. A retirada das tropas foi algo cogitado pelos governos norte-americanos desde Barack Obama, e, durante a presidência de Donald Trump, houve até negociações com as lideranças do grupo extremista para que os norte-americanos saíssem do país.
A saída das tropas norte-americanas se explica pela longa duração desse conflito, pelos altos gastos que a guerra causa e por sua baixa popularidade atualmente na população dos Estados Unidos. A longa duração da guerra demonstrou a incapacidade dos EUA em reconstruírem o Afeganistão.
Além disso, os altos gastos do
conflito, que já ultrapassaram a quantia de dois trilhões de dólares, explicam
o desejo norte-americano em retirar suas tropas do país. O presidente Joe Biden
decidiu que era o momento de saída dos militares. Os analistas internacionais
previam que isso traria riscos para o Afeganistão.
A grande questão é que as autoridades
norte-americanas não esperavam que o Talibã fosse reconquistar o Afeganistão
com tamanha facilidade, e o grande choque se deu porque o grupo conquistou todo
o Afeganistão em menos de duas semanas, além da capital do país ter sido
conquistada sem nenhuma resistência. Muitos se perguntaram por que o Talibã
teve tamanha facilidade em reconquistar o Afeganistão, e analistas
internacionais levantaram as seguintes hipóteses:
O exército afegão ficou sem apoio aéreo com a retirada dos norte-americanos;
A desmoralização das tropas
afegãs;
O governo afegão foi fraco e não
motivou as tropas a lutarem;
A corrupção no governo e exército
afegãos.
Nesse cenário de caos e derrotas
aceleradas, o presidente do Afeganistão AshrafGhani fugiu do país e está
exilado nos Emirados Árabes Unidos. Ele, ainda, foi acusado de fugir do
Afeganistão com 169 milhões de dólares, acusação não comprovada. O
vice-presidente afegão AmrullahSaleh se escondeu na única área que ainda
resiste ao Afeganistão, o vale de Panjshir.
O retorno do Talibã ao poder do
Afeganistão depois de 20 anos não foi visto de maneira positiva, nem pela
comunidade internacional nem pela maioria da população afegã. Sua chegada a
Cabul levou milhares de pessoas ao aeroporto da cidade em uma busca desesperada
para fugirem do país. Essas pessoas temem o histórico de violência dos
fundamentalistas.
Desde que o Talibã chegou a Cabul, cerca de 37 mil pessoas abandonaram o país com auxílio das tropas norte-americanas que ainda estão controlando o aeroporto da cidade. O Talibã, por sua vez, determinou o dia 31 de agosto como o último em que essas operações seriam permitidas.
O grande temor a respeito do Talibã é que o Afeganistão seja governado da mesma maneira que foi entre 1996 e 2001, quando o grupo esteve no poder. O Talibã ficou marcado pelas violações dos Direitos Humanos, e, durante o seu governo, execuções de opositores eram comuns, assim como tortura, amputações e açoitamento de pessoas.
Existe um forte temor de que minorias étnicas e minorias religiosas sejam perseguidas no país. Além disso, as mulheres afegãs são um grupo que tem muito a temer com o retorno desses radicais, justamente porque eles ficaram conhecidos por impedirem que elas trabalhassem, estudassem e caminhassem sozinhas nas ruas. Também impuseram o uso da burca.
Uma personalidade internacional que sofreu na pele a violência dos Talibã contra as mulheres foi a ativista paquistanesa MalalaYousafzai, vítima e sobrevivente de um atentado promovido pelo grupo contra ela em 2012. Ela morava no vale do Swat, uma região do Paquistão ocupada pelo Talibã na época.
O grupo fundamentalista anunciou que daria anistia geral em seu governo e que não perseguiria os afegãos que trabalharam com os estrangeiros nos últimos 20 anos. Além disso, garantiram que permitiriam que mulheres estudassem e trabalhassem no país, mas dentro dos limites da lei islâmica. Apesar da mensagem, as ações do grupo seguiram outro sentido.
Até então, o Talibã anunciou que
o país se chamaria Emirado Islâmico do Afeganistão (o mesmo nome do período de
1996 a 2001), além disso, anunciou que o país não será uma democracia e agiu
conforme aquilo que se espera do grupo.
Assim, existem registros de
mulheres que foram proibidas de continuar trabalhando, houve casos de minorias
religiosas sendo massacradas e de críticos do Talibã sendo executados. Além
disso, o Talibã reprimiu com violência manifestações pacíficas que aconteceram
no país, e chegaram notícias de que o grupo perseguiu as pessoas que cooperaram
com os estrangeiros.
Para entendermos o que é o Talibã
e o seu peso na história recente do Afeganistão, precisamos retornar alguns
anos na história desse país asiático. O Talibã surgiu no interior dos
mujahidin, que lutavam entre si pelo poder do Afeganistão entre 1992 e 1996, no
que ficou conhecido como Guerra Civil Afegã.
Os mujahidin eram rebeldes que surgiram no Afeganistão no final da década de 1970 com apoio do Paquistão, dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Os mujahidin foram treinados e armados para lutarem contra o governo socialista do Afeganistão e para resistirem aos soviéticos, que invadiram o país em 1979.
Depois que os soviéticos abandonaram o Afeganistão, em 1989, os mujahidin lutaram para derrubar os socialistas, o que aconteceu em 1992. Depois disso, a disputa foi entre os próprios mujahidin, pois havia muitas diferenças de interesses entre os rebeldes afegãos. Nesse conflito, uma parcela deles possuía ideais conservadores e fundamentalistas.
Esses ideais contribuíram para o surgimento do Talibã, em 1994. Essa milícia se estabeleceu como a principal força militar do Afeganistão e conquistou grande parte do território do país. Entre 1996 e 2001, o Talibã governou o Emirado Islâmico do Afeganistão, e, durante esse período, apenas o norte do país resistia ao domínio dos fundamentalistas.
Foi um governo autoritário e, como mencionado, marcado por violações dos Direitos Humanos. Os talibãs defendem a imposição de sua interpretação radical da Lei Islâmica, a Sharia. O Talibã perseguiu minorias étnicas e religiosas, além de mulheres e muçulmanos que não cumpriam com os cinco pilares da fé islâmica.
O grupo foi derrubado do poder em 2001, quando forças lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Afeganistão e realizaram uma campanha militar que, junto da Aliança do Norte (resistência afegã ao Talibã), conseguiu conquistar o país. Essa invasão foi uma consequência dos atentados de 11 de setembro de 2001, coordenados pela Al-Qaeda.
A Al-Qaeda tinha bases militares instaladas no Afeganistão, e seu líder, Osama bin Laden, escondia-se no território afegão. O Talibã dava liberdade para que a Al-Qaeda pudesse atuar no país. Os Estados Unidos exigiram a expulsão da Al-Qaeda e a prisão de Bin Laden. Como o Talibã se recusou a atendê-los, os norte-americanos organizaram sua invasão no país.
Apesar de derrotado e
enfraquecido em 2001, o Talibã nunca deixou de existir. Os membros desse grupo
fundamentalista se espalharam por locais do interior do Afeganistão e do
Paquistão e se financiaram de diversas maneiras. Nos últimos anos, passaram por
um fortalecimento que permitiu seu retorno ao poder afegão.
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