O CONTEXTO DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
No Brasil colonial foi construído um sistema produtivo baseado no latifúndio, onde se exploravam recursos naturais como a madeira, se desenvolviam monoculturas de exportação como a cana e o café, ou se criava gado de corte de forma extensiva. A força de trabalho era maciçamente escrava. Depois da instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro em 1808, a Casa Real e alguns políticos liberais começaram a desenvolver planos de colonização de vazios demográficos no sul com estrangeiros livres, que receberiam minifúndios destinados à produção agrária de gêneros básicos, a fim de abastecer o sempre precário mercado interno. Essa população também serviria para engrossar o exército em caso de conflito de fronteira com os vizinhos platinos, numa época em que ainda não haviam sido solucionadas as discórdias entre as potências ibéricas a respeito das relações e limites entre suas colônias americanas. Por fim, ajudariam a atender ao desejo das elites de branquear a população brasileira, na época maciçamente composta de negros e índios. Mais tarde os imigrantes supririam a escassez de mão-de-obra nas fazendas de café gerada pela abolição do tráfico negreiro.
Enquanto isso, a Europa entrava em uma grande crise. Com o advento da Revolução Industrial o sistema produtivo sofreu uma profunda transformação. Neste processo grandes massas de camponeses empobreceram e deixaram o campo, refugiando-se nas cidades e engrossando a massa operária proletarizada que atuava nas fábricas ou era remetida às minas e às ferrovias. Grande instabilidade política e social, guerras sucessivas e devastadoras, revoltas, epidemias e fome contribuíram para tornar o cenário insustentável. Assim, por uma série de fatores, iniciava uma vasta onda de emigração em que dezenas de milhões de fugitivos, procedentes de vários países, partiram em direção à América, onde esperavam prosperar. Segundo Zuleika Alvin, "para alguns países expulsores, como Itália e Espanha, por exemplo, as descrições dos locais onde os imigrantes moravam e da promiscuidade em que eram obrigados a viver em razão da miséria são bons exemplos da repercussão da crise econômica na bucólica paisagem do campo". A pesquisadora continua: "À medida que se implantava, tal processo foi liberando um excedente de mão-de-obra que a industrialização tardia de países como a Itália e Alemanha, por exemplo, não tinha condições de absorver. Isso, aliado a um crescimento demográfico nunca visto, como o ocorrido no século XIX, quando a população da Europa aumentou duas vezes e meia, ao avanço da tecnologia, que permitiu que tarefas antes executadas pelo homem pudessem passar a ser realizadas por máquinas, e às melhorias sem precedentes dos transportes, pôs à disposição do mercado uma horda de camponeses sem terra e desocupados". A crise se arrastaria por todo o século XIX, e nas primeiras décadas do século XX, em virtude de novas convulsões na Europa, muitos outros emigrantes também partiriam.
No Rio Grande havia áreas em que o latifúndio não se desenvolvera porque se localizavam em regiões impróprias à pecuária extensiva, na época a principal atividade econômica da província. A região do vale do Rio dos Sinos em torno da Real Feitoria do Linho Cânhamo, que não dera muito resultado e fora desativada, foi então escolhida para sediar a primeira empreitada colonizadora do governo no sul. O sul era uma região propícia por vários motivos. Devido à estrutura fundiária do país, de início os latifundiários não se interessavam ou não viam com bons olhos a ideia de introduzir mão de obra livre e um sistema de pequena propriedade, que poderia competir economicamente e abalar o poderio político e social da elite terratenente. Porém, no sul havia uma grande quantidade de terras devolutas ociosas, os chamados "vazios demográficos", que embora fossem de fato povoados por indígenas, eles não contavam para o governo. Em meados do século, outros fatores contribuíram para aumentar os atrativos do sul. Quando os alemães começaram a ser remetidos para as lavouras de café em São Paulo, se tornavam empregados mal pagos, encontravam frequentemente condições sub-humanas de trabalho e habitação e sofriam abusos. Relatos circularam na Europa, causando indignação e levando ao estabelecimento de restrições para a partida de alemães de algumas regiões. A perspectiva de obter terra e ser um proprietário permanecia aberta no sul. Por fim, havia um discurso cientificista em circulação na Corte, que considerava o Norte e Nordeste desaconselháveis para a instalação de europeus. Experiências realizadas na Bahia não foram muito animadoras.
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