ARTE EM PORTUGAL

Arte em Portugal

A peculiar posição geográfica na Península Ibérica, o clima marítimo unificando montanhas e planícies em microrregiões, o papel dos rios, a presença dominante do oceano — uma encruzilhada entre o Mediterrâneo, o Atlântico, a Europa e a África — fizeram surgir focos de características próprias com as tribos celtas (Lusos) e sua “cultura castreja” ao Norte e colonos greco-púnicos a Sul.

A província da Lusitânia (sécs. II a.C. – V d.C.) unificou estes centros sob a sofisticada civilização romana, ao mesmo tempo em que assimilava as invasões bárbaras e a difusão cristã. Em vilas rurais (Alentejo) e portos de mar (Algarve, Troia) têm-se encontrado pinturas, mosaicos e estatuária tardios de bom nível, provando que a continuidade prevaleceu sobre as convulsões da Baixa Antiguidade. Só com a constituição do reino portucalense independente, na primeira metade do século XII, podemos falar em uma “arte portuguesa” autônoma, diferenciada da galega.

Esta arte é encontrada, sobretudo, nas torres senhoriais em pedra (Vila da Feira), nos castelos templários e nas centenas de matrizes e capelas rurais em estilo românico, de planta simples, cobertas de madeira, que enchem os campos repovoados do Norte (sécs. XII-XIII). O seu avanço acompanha o da Reconquista, impondo o ritual latino contra o moçárabe e proporcionando a ligação lusa ao mundo ocidental através das Sés de Lisboa, 1147, e de Coimbra, 1160, construídas pela mesma equipe de mestres franceses.

Assim é a estética cisterciense: despojada, em formas geométricas puras, será uma constante na sensibilidade nacional, servindo de ponte ao pleno gótico — do qual um bom exemplo é o claustro da Sé de Coimbra, construído em 1218 — que acaba por se estender a todo o território, mantendo a hegemonia durante 3 séculos. Pela centralização régia, o gótico ganha terreno na escultura — onde reintroduz a figura humana, desaparecida desde os romanos — com a estatuária devocional ( Escola de Coimbra, séc. XIV) e tumulária (Alcobaça). Renova a arquitetura com plantas mais complexas, abobadadas em ogiva, claustros elegantes e cabeceiras luminosas (S. Domingos de Elvas, 1270). Não é, porém, o gótico das grandes catedrais europeias. Em Portugal há preferência pelas linhas horizontais, muros e alçados singelos, sem atingir o verticalismo europeu (novas Sés de Évora e Silves). É um “gótico mediterrânico”, de estrutura simples e volumes lisos, que adquire cunho nacional no gótico mendicante dos Franciscanos e Dominicanos (Santarém), também presente na arquitetura civil e militar (torres de solares minhotos, muros de Óbidos, castelo de S. Jorge, em Lisboa).

O séc. XV, com a prosperidade dos descobrimentos, ensaia formas mais ricas, das fontes catalã e inglesa. O Gótico Final se reflete nas artes suntuárias. Pela primeira vez, surge na pintura (Nuno Gonçalves) um sentido novo de luxo e modernidade em que o país se afirma como grande potência. A esta variedade de influências e paixão pelo real faltou, porém, unidade estilística. O primeiro esforço sincrético dá-se sob o reinado de D. Manuel l, o Venturoso (1495-1521), com o estilo manuelino, amálgama de elementos de raiz diversa: da alemã e mourisca até a oriental, unidos pela ideologia imperial e tom eufórico de uma época que se julgava predestinada a conquistar o mundo. Variante do gosto gótico tardio europeu — muito individualizado no tratamento das formas, nas cores contrastantes e estridentes, na simbologia heráldica ou religiosa (mas não marítima, como se tem pensado) — o manuelino cria efeitos hiperrealistas de alarde, prosperidade e exaltação da monarquia triunfante em obras únicas, autênticos manifestos (Mosteiro e Torre de Belém, 1501-14 e Janela de Tomar, 1510). Iguais temas ocorrem na literatura, pintura e escultura da época e, entre seus artistas, destaca-se o dramaturgo Gil Vicente, também ourives e desenhista.

O estilo manuelino foi o primeiro a ter uma difusão mundial, do México a Moçambique, da Índia à Málaga (estreito de Cingapura) — dos marfins da Guiné à porcelana da China. Coube a essa arte cortesã o mérito de unificar e propor um ideal estético nacional em tomo da figura do rei-messias, na passagem da Idade Média à Moderna. Extrovertida e de um otimismo quase naif, a época seguinte reagiu contra a carga excessiva de vitalidade e extravagância, refugiando-se na linguagem racional do Renascimento. Do dinamismo passou-se à estabilidade protagonizada por João III (1521-1557), do modelo flamengo à paixão pela Itália. Em 1525, o bispo Miguel da Silva — a quem Castiglione dedicou o Il Cortegiano — trazia de Roma um arquiteto particular, Francesco da Cremona, que faz a primeira obra clássica no claustro de Viseu, logo imitada por fidalgos cosmopolitas e reforçada pelos escultores franceses de Coimbra, entre eles, Chanterene e João de Ruão. Mas foi pela mão de João de Castilho que a encomenda régia aderiu ao novo estilo humanista (Conceição de Tomar, 1547), em obras ímpares fora da ltália.

É o momento em que o teórico Francisco de Holanda regressa de Roma (1538-1540), onde conviveu com Michelangelo, trazendo a pintura maneirista, o neoplatonismo e o serlianismo que atingem o ponto alto com Diogo de Torralva (claustro de Tomar, 1558). O impacto do Concílio de Trento, e o maior número de artistas estagiando na Itália com bolsas dadas pela Coroa, propiciam o avanço do Classicismo amadurecido, no dilema entre aderir às formas cultas trazidos pelos Habsburgos (Filipe Terzi, Baltasar Álvares, os pintores Venegas e Fernão Gomes) e os fiéis do gosto nacional, o “estilo chão” (Afonso Álvares, os últimos pintores maneiristas).

Em um sentido de simples: estabeleceu-se o dilema entre a Europa e o Império. É curioso que este predomine no século XVII — em que a questão colonial foi avassaladora — e aquele retornasse, sob a forma do Barroco, mas já desfasado no tempo, no final do século e no seguinte. Se no Norte ainda foi possível o brilhante episódio de Nicolau Nasoni no Porto (torre dos Clérigos, 1737-1752), seguido de André Soares na talha arquitetônica minhota, em Lisboa, o tardo-barroco diluiu-se rapidamente entre um Rococó de influência franco-germânica (Queluz) e a tradição castiça nacional que, após o terremoto de 1755, renasce sob a forma do estilo pombalino, tendendo à rigidez do Neoclássico (Ajuda). Após o Romantismo (Sintra), o século XIX caracteriza-se pelo ecletismo sem unidade de gosto ou estilo, numa situação que faz lembrar o séc. XV e o neo-manuelino, o “estilo nacional” por excelência.

A fase contemporânea, reagindo contra esse nacionalismo, segue evolução paralela à europeia, mas com forte pendor para um Realismo que perdura além do Modernismo (1905). Assiste-se, após 1950, a uma inesperada renovação artística, com a projeção de arquitetos e pintores de renome internacional.

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