DITADURA MILITAR: O GOVERNO
MÉDICI
Utilizando os poderes obtidos
através do AI-5, o Governo Médici assumiu a face mais implacável da Ditadura.
Visando a combater os setores de esquerda, que agora se organizavam em
guerrilhas contra o regime, os militares criaram uma extensa rede de repressão.
No tocante à investigação, o chamado SNI (Serviço Nacional de Informações)
garantia o controle da vida de todos os suspeitos de estarem vinculados à luta
de esquerda. Contava, nessa função, com o apoio do CIE (Centro de Informações
do Exército), do CISA (Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica) e do
CENIMAR (Centro de Informações da Marinha).
Como órgãos de repressão, o
chamado CODI (Comando de Operações de Defesa Interna) controlava os DOIs
(Destacamentos de Operações Internas), sendo comum a prática de interrogatórios
e torturas dentro dos quartéis do Exército pelos participantes desses órgãos,
chegando a ser recorrente os assassinatos. Outro instrumento do governo era a
chamada Oban (Operação Bandeirantes), responsável por promover associações que
vinculavam Exército e Polícia Civil, sendo esta a controladora do DOPS
(Departamento de Ordem Política e Social), espaço conhecido por abrigar
torturadores que defendiam a Ditadura Militar.
Por trás dessas siglas, havia um
poder paralelo de combate às guerrilhas, que se organizavam à medida que o
regime fechava suas portas. No campo, o país viu surgir três focos de
guerrilha: Serra do Caparaó, em Minas Gerais, Vale do Ribeira, em São Paulo e a
conhecida Guerrilha do Araguaia, no Pará. Em poucos anos, os três movimentos
estariam sufocados, com a prisão e morte de inúmeros guerrilheiros que lutavam
pela concretização de um projeto revolucionário socialista, a partir de um
processo campo-cidade, semelhante ao ocorrido em Cuba e na China.
O relativo sucesso da guerrilha
no país ocorreu nos núcleos urbanos, através de ações audaciosas, como
sequestros de embaixadores e assaltos a bancos, que visavam obter a liberdade
de guerrilheiros detidos nas prisões dos quartéis e delegacias. A restrita
solicitação de libertar companheiros era um indicativo das limitações dessa
guerrilha, assim como a fragilidade gerada pela fragmentação
político-ideológica dos grupos revolucionários, o que também colaborou para que
a guerrilha fosse combatida e eliminada pela máquina repressora dos militares.
Além da ampliação das
multinacionais e do investimento público através de grandes obras, o milagre,
gerado pelo chamado PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), esteve associado
ao fácil fluxo de capital internacional naquele período, o que possibilitou ao
Brasil acompanhar a onda de desenvolvimento internacional. Várias obras
faraônicas construídas pelo governo, como a ponte Rio-Niterói e a Rodovia
Transamazônica, buscavam justificar a manutenção de um governo ditatorial.
Os militares aproveitaram o
amparo obtido pelos números da economia para promover uma excessiva propaganda
do regime, veiculando slogans ufanistas como “Ninguém mais segura este país” ou
“Brasil, ame-o ou deixe-o”. O regime apropriou-se até da conquista da Copa do
Mundo de 1970 como representação do sucesso nacional. A vitória no Mundial
seria a evidência da eficácia militar em um país vitorioso na economia e no
esporte.
As restrições ao milagre
brasileiro ficaram por conta das dívidas contraídas pelo Estado naquele
período, além da excessiva concentração de renda, que construiu um universo de
achatamento salarial para a população pobre e um aumento do poder de consumo da
classe média, agora silenciada pela melhora na qualidade de vida.
Economicamente, a fraqueza do PND
estava na sua dependência do capital externo, que o deixava, portanto, refém
das instabilidades internacionais, como a crise do petróleo de 1973, uma das
causas da redução do crescimento econômico que culminou na chamada “década
perdida” – os anos 1980. A sucessão presidencial seguiu os traços dos governos
anteriores, sendo eleito Ernesto Geisel para o próximo mandato, iniciado em
março de 1974.
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