Stalinismo
O stalinismo foi o regime
totalitário liderado por Josef Stalin, entre 1927 e 1953, na União Soviética. A
ascensão de Stalin ao poder aconteceu depois da morte de Lenin, com o líder
georgiano impondo um governo baseado no terror e marcado pela morte de milhões
de pessoas, fosse por execuções sumárias, fosse em campos de trabalho forçado.
O stalinismo foi um regime
totalitário que esteve no poder soviético por quase 30 anos. Algumas das
características desse regime ainda ficaram impregnadas na União Soviética,
embora outras tenham sido reformadas ou abandonadas quando esse regime acabou.
As principais práticas desse regime são:
Imposição de um Estado de terror;
Economia planificada, isto é, centralizada no
Estado;
Ação governamental baseada nos arbítrios do líder;
Forte propaganda política;
Nacionalismo extremo;
Culto à personalidade do líder;
Perseguição dos opositores por meio da execução ou
do envio desses às gulags;
Perseguição contra a religião (igrejas fechadas e
líderes religiosos presos ou mortos);
Militarização da sociedade;
Manipulação das informações e censura.
Stalin era um membro do Partido
Comunista na Rússia envolvido com funções burocráticas. Isso é tão evidente
que, durante os acontecimentos da Revolução de Outubro, não existem relatos de
nenhuma ação de rua realizada por ele, e os historiadores apontam que,
provavelmente, ele manteve apenas no quartel-general.
A partir de 1922, a saúde de
Vladimir Lenin, líder da União Soviética, começou a deteriorar-se, e a disputa
pela sucessão no interior do Partido Comunista foi intensa. Nessa época, Stalin
já era uma figura importante do governo e, entre a morte de Lenin e o momento
que o estabeleceu como figura de poder na URSS, enfrentou a oposição de
Trotsky, Kamenev e Zinoviev.
Em 1927, conforme os
historiadores consideram, Stalin era o governante definitivo na União
Soviética, uma vez que conseguiu expulsar seus três grandes opositores do
partido. A partir desse momento, o novo líder começou a realizar a montagem de
seu governo, seus focos eram: industrializar o país, coletivizar as
propriedades agrícolas e perseguir seus opositores.
No campo da economia, Stalin
promoveu mudanças importantes que transformaram a Rússia e, em um prazo de 15
anos, fizeram desse país em um colosso industrial. Primeiramente, ele aboliu a
Nova Política Econômica, aplicada durante o governo de Lenin. Logo em seguida,
estabeleceu o Plano Quinquenal, que estipulava metas para serem cumpridas a
cada cinco anos.
Para cumprir tais metas, o Estado
soviético realizou esforços gigantescos. O Plano Quinquenal visava,
essencialmente, incentivar a industrialização da União Soviética e deu
prioridade a áreas relacionadas à metalurgia, siderurgia, extração de
combustíveis fósseis e produção de energia elétrica.
A industrialização da URSS foi um
feito notável, mas os historiadores notificaram que essa foi realizada por meio
de esforços sobre-humanos, uma vez que as metas estipuladas eram altas demais,
e, por isso, exigia-se demais dos trabalhadores. O historiador Lewis Siegelbaum
define que o Plano Quinquenal criava uma “atmosfera frenética, repleta de
ameaças, abusos verbais e recriminações”.
Apesar da brutalidade na forma
como esses planos foram conduzidos, os resultados obtidos foram notáveis. O
primeiro Plano Quinquenal, por exemplo, teve suas metas alcançadas já no quarto
ano. Lewis Siegelbaum apresenta estatísticas que apontam que, entre 1926 e
1927, a produção industrial era de 18,3 bilhões de rublos e que, em 1932, foi
de 43,3 bilhões de rublos.
Outra reforma considerável feita
por Stalin no campo da economia foi voltada para a agricultura e ficou
conhecida como coletivização da terra. Seu objetivo com isso era ampliar o
poder do Estado sobre o campo, local em que viviam cerca de 80% da população
soviética e que ainda tinha inúmeros elementos contrários ao regime
estabelecido desde 1917.
O plano de coletivização das
terras foi lançado junto com o Plano Quinquenal e realizado a partir de 1929.
Tal ação consistia em expropriar as propriedades privadas existentes nas zonas
rurais e transformá-las em fazendas coletivas. Com isso, as terras, as
ferramentas, os animais e toda a produção agrícola desses locais passaram a
pertencer ao Estado.
O processo de coletivização foi
realizado principalmente em áreas da Ucrânia e Ásia Central, as zonas que mais
produziam alimentos. A resistência à coletivização das terras foi grande,
principalmente entre os camponeses que possuíam uma quantidade razoável delas
em sua propriedade. Os camponeses mais pobres, por sua vez, apreciaram as mudanças
por poderem ter acesso à terra a partir desse processo.
Quanto aos kulaks (camponeses
ricos) e à resistência desses ao processo de coletivização, a saída encontrada
pelo Estado foi a seguinte: transferi-los para terras inferiores e longe do
local onde moravam ou detê-los e enviá-los para campos de trabalho forçado.
Esse processo de ataque aos kulaks ficou conhecido como “deskulakização” e fez
com que, só em 1933, cerca de 2,5 milhões de pessoas tenham sido alvos do
Estado soviético.
A coletivização das terras fez
com que, já em 1930, mais da metade dos camponeses tivesse aderido a algum tipo
de fazenda coletiva. O processo também gerou violência no campo, uma vez que a
resistência era grande e a repressão foi dura. A grande consequência disso tudo
acabou sendo a redução na produção agrícola.
A produção de grãos caiu
consideravelmente e a quantidade de gado disponível foi reduzida pela metade.
Isso gerou uma grande crise pela falta de alimento que resultou na morte de
milhões de pessoas. Não existem evidências suficientes para apontar se essa
situação foi realizada deliberadamente para enfraquecer a resistência ao
governo ou se foi apenas uma consequência não proposital da coletivização.
Apesar disso, alguns historiadores sustentam que a fome foi causada com fins de
enfraquecer a resistência.
A fome que se espalhou pela União
Soviética atingiu regiões como a Ucrânia, o Cáucaso e diversas regiões da Ásia
Central. Acredita-se que, durante a Grande Fome de 1932-33, cerca de sete
milhões de pessoas tenham morrido em consequência da falta de alimentos. Na
Ucrânia, a Grande Fome recebeu classificação de genocídio e é conhecida como
Holodomor. Entre os pastores do Cazaquistão, a coletivização resultou na
anulação da característica nômade que tinham, e a fome e doenças contribuíram
para a morte de metade dessa população.
Os expurgos realizados por Stalin
foram o grande exemplo do terror promovido por seu regime, ao longo de quase
três décadas de comando. Os expurgos visavam realizar uma revolução cultural na
União Soviética, buscando eliminar elementos não-marxistas de postos de
comando; também visavam eliminar a oposição no interior do partido.
Essa “limpeza” destinou-se tanto
às pessoas que eram vinculadas ao partido quanto às que não eram. Houve
expurgos realizados contra a intelligentsia soviética, isto é, a elite
intelectual que exercia postos de comando e que não pertencia ao proletariado
(classe operária), houve-os também na sociedade, no campo, no partido etc.
Os expurgados eram, em geral,
enviados para as gulags, campos de trabalho forçado construídos em locais
remotos, como a Sibéria, ou eram executados rapidamente em pelotões de
fuzilamento. O resultado disso em longo prazo foi um saldo de mortos que
ultrapassa facilmente a casa dos milhões.
Existe um debate intenso entre os
historiadores acerca das motivações. A explicação mais aceita é a que sugere
que as ações de Stalin de perseguir e expurgar cidadãos eram uma forma de
destruir qualquer tentativa de oposição contra o seu regime. Outros profissionais,
no entanto, sugerem que os expurgos realizados no interior do partido eram uma
tentativa dele de acabar com a burocratização do Estado soviético.
A partir de 1936, foi iniciada a
fase mais radical dos expurgos e conhecida como Grande Expurgo, apesar dos
historiadores considerarem que o ponto de partida para essa fase tenha sido a
execução de Serguei Kirov, em dezembro de 1934. Isso aconteceu supostamente
porque Stalin via em Kirov um rival em potencial.
Stalin envolveu-se diretamente
nos expurgos, pois, conforme pontua Lewis Siegelbaum, ele preparou listas com
nomes de pessoas que deveriam ser expurgadas, estabeleceu metas de expurgos
para diferentes locais da União Soviética e assinou e autorizou milhares de
sentenças de execução|4|. O historiador Eric Hobsbawm também sugere que os
expurgos da década de 1930 iniciaram-se quando Stalin percebeu que inúmeros
membros do partido começaram a opor-se à forma radical pela qual o líder
soviético governava o país|5|.
Os dados do alcance dos expurgos
dão uma dimensão do tamanho do terror que se espalhou na União Soviética.
Hobsbawm fala que até cinco milhões de pessoas foram presas, a mando do regime,
entre 1934 e 1939, e que de 1827 delegados do partido em 1934, somente 37 deles
estavam vivos em 1939|6|. Já Lewis Siegelbaum fala em, pelo menos, 680 mil
execuções somente entre 1936 e 1939|7|, e Hobsbawm afirma que o saldo total do
número de vítimas do stalinismo é de, no mínimo, 10 milhões de mortos, embora
ele admita que essa estimativa é conservadora.
O stalinismo foi um regime cruel
e, como percebemos, responsável pela morte de milhões de pessoas. Ao mesmo
tempo, esse comando foi o responsável direto por derrotar os nazistas durante a
Segunda Guerra Mundial, em conflito que ficou conhecido como Grande Guerra
Patriótica. Nos anos de batalha, Stalin usou o seu aparato repressivo para
mobilizar a população e os recursos soviéticos para derrotar os alemães.
A Segunda Guerra para os
soviéticos começou em 22 de junho de 1941, quando mais de três milhões de
soldados nazistas cruzaram a fronteira para iniciar a conquista da URSS. O
objetivo dos nazistas era conquistá-la em um prazo de oito a 12 semanas, mas
esse plano alemão era ambicioso demais. Ainda assim, eles quase conseguiram.
Em 1941, um ataque alemão contra
o território soviético era muito evidente, e o serviço de inteligência
soviético sabia disso. Nesse ano, Stalin recebeu dezenas de advertências acerca
dos planos alemães de espiões instalados nos diferentes países do Eixo
(Alemanha, Itália e Japão). Ele ignorou esses avisos sob a alegação de que eles
eram contrainformação, isto é, informações falsas.
Por isso, quando os nazistas
invadiram a União Soviética, eles encontraram uma nação desmobilizada e
despreparada para a guerra. Como tudo que foi conduzido por Stalin, a
mobilização militar do país foi feita na base do improviso, da repressão e do
caos. De toda forma, antes mesmo que os soviéticos estivessem em luta com os
alemães, a URSS já tinha tido envolvimento em conflitos com a Mongólia e a
Finlândia e havia invadido e anexado o leste do território polonês.
A luta contra os alemães foi
feroz, e os cenários de guerra no Leste Europeu foram os piores de toda a
Europa. Ainda assim, os soviéticos prevaleceram e, em abril de 1945,
conquistavam Berlim e derrubavam os nazistas em definitivo. O saldo, no
entanto, foi duro, e estima-se que cerca de 25 milhões de soviéticos tenham
morrido durante a Grande Guerra Patriótica.
O fato da União Soviética ser uma
sociedade extremamente brutalizada, após séculos de czarismo, revoluções,
guerras, fome e expurgos, ajudou-lhe a suportar as privações terríveis da
Segunda Guerra Mundial. Além disso, a capacidade industrial do país, a
mobilização de milhões de soldados e até mesmo a atuação do próprio Stálin,
além de erros estratégicos cometidos pelos alemães, ajudam-nos a entender a
vitória dos soviéticos.
Lewis Siegelbaum enumera
contribuições decisivas de Stalin para a vitória:
Ordem 227 e a proibição de recuar
em batalha sem autorização;
Mobilização de comandantes a
desdobrarem esforços pelo terror;
Melhora enquanto estrategista de
guerra; percepção de suas limitações; e promoção de bons comandantes para
liderar as tropas.
O stalinismo foi um regime
pessoal, ou seja, construído de acordo com os interesses e objetivos do líder.
A morte de Stalin, naturalmente, colocaria fim a essa forma de governo no território
soviético, embora algumas das suas práticas tenham sido mantidas nos outros
governos procedentes. Os últimos anos do comando de Stalin coincidiram com o
período de maior popularidade desse regime, motivado, claro, pelo sucesso do
país na guerra.
O culto a Stalin era extremamente
popular em todo o país e manifestava-se intensamente nas artes, por exemplo.
Mesmo assim, Stalin continuava paranoico a respeito de pessoas conspirando
contra seu governo e, por isso, continuou com os expurgos e acabou voltando-se
contra pessoas que o apoiavam havia décadas, como Lavrenti Beria, um dos
grandes nomes da polícia secreta e responsável por inúmeras execuções nas
décadas de 1940 e 1950.
Em 5 de março de 1953, faleceu
Stalin, vítima de um derrame cerebral, e seu funeral foi acompanhado por
milhares de pessoas. Depois de sua morte, a União Soviética passou a ser
governada por Nikita Kruschev, que realizou a desestalinização por meio da
denúncia de todos os crimes cometidos pelo Estado durante os anos do stalinismo.
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/revolucao-russagoverno-stalin.htm
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