REVOLTA DA VACINA
O Rio de Janeiro, no começo do
século XX, era a porta de entrada dos navios estrangeiros que estabeleciam
contatos econômicos com o Brasil. Capital da República, a cidade fundada no
século XVI era marcada pela desordem urbana, oriunda da ausência de
planejamento na ocupação, e pelos perigos oferecidos aos viajantes, devido às
várias doenças contagiosas que afligiam a cidade, como a febre amarela, a
varíola e a peste.
A Prefeitura do Rio de Janeiro,
sob o comando de Pereira Passos, iniciou um doloroso processo de revitalização
dos bairros centrais, com o intuito de eliminar os espaços urbanos que pudessem
servir de foco para as doenças que afligiam a cidade. A redefinição do espaço
urbano não foi um fenômeno criado no Brasil. As principais capitais europeias
passavam pelas mesmas mudanças, visando a um padrão estético burguês condizente
com a nova realidade, sendo ao mesmo tempo definidas pelas ideias dos
sanitaristas, que tentavam introduzir o conceito de saúde pública.
As transformações no Rio de
Janeiro foram marcantes. Cortiços foram derrubados, ruas foram alargadas, novos
prédios foram erguidos, etc. Esse embelezamento, no entanto, não estava
comprometido com o destino daqueles que perderam suas casas e foram obrigados a
subir os morros do Rio de Janeiro, transferindo para um local distante do olhar
burguês a miséria urbana carioca.
Nesse contexto de reformas, o
sanitarista Oswaldo Cruz propôs a vacinação obrigatória da população, visando
ao combate da varíola. O projeto foi aprovado pelo governo, que foi então
surpreendido por uma convulsão social no Rio de Janeiro. Os cariocas não
aceitaram a imposição da vacina. Muitos são os fatores que justificam a ação da
população, entre eles, destaca-se a questão do pudor envolvendo a resistência
popular em expor partes do corpo para desconhecidos que aplicariam a vacina.
Além disso, havia a própria
ignorância da sociedade quanto aos benefícios que poderia obter com a
vacinação, em conjunto com a ausência de uma política governamental que
esclarecesse efetivamente os motivos de sua política sanitária. Depreende-se,
ainda, que a população, cujas dificuldades não importavam à nova configuração
da cidade carioca, procurava reagir frente àquilo que considerava mais um ato
de opressão das autoridades públicas.
O clima de desordem naquele mês
de novembro de 1904 foi tão extenso que atingiu a estabilidade política, tendo
sido o presidente Rodrigues Alves ameaçado em seu mandato. Após alguns dias de
conflito, o movimento foi encerrado pela ação repressora do governo.
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