O ROMANTISMO E O REALISMO NA
LITERATURA PORTUGUESA
Em inícios do século XIX, a
literatura portuguesa experimentou uma revolução literária iniciada pelo poeta
Almeida Garrett, que tinha entrado em contacto com o Romantismo inglês e
francês durante o seu exílio e que decidiu basear suas obras na tradição
nacional portuguesa. No seu poema narrativo Camões (1825) rompeu com as regras
estabelecidas de composição; seguiram-lhe Flores sem Fruto e a coleção de poemas
amorosos Folhas Caídas. A sua elegante prosa está recolhida na obra miscelânea
Viagens na minha terra.
Entre os primeiros seguidores de
Almeida Garrett encontra-se Alexandre Herculano, cuja poesia está cheia de
motivos patrióticos e religiosos e de reminiscências de Lamennais. O movimento
tornou-se ultra-romântico em mãos de autores como Castilho, um mestre do verso
escasso de ideias, ou nos versos de João de Lemos ou do melancólico Soares de
Passos. Tomás Ribeiro, autor do poema patriótico D. Jaime, é sincero em seus
conteúdos, mas segue os excessos desta escola no seu gosto pela forma e a
melodia.
Em 1865, um grupo de jovens autores liderados por Antero de Quental e pelo futuro presidente Teófilo Braga rebelou-se contra a dominação das letras portuguesas ostentada por Castilho, e, influenciados por tendências estrangeiras, proclamou a aliança da Filosofia e da Poesia. Uma feroz guerra de panfletos contribuiu para a queda de Castilho e a poesia ganhou com isso profundeza e realismo, tornando-se também anticristã e revolucionária. Como poeta, Quental deixou Sonetos elegantes e pessimistas, inspirados no neo-budismo e nas ideias agnósticas provenientes da Alemanha, enquanto Braga, positivista, criou uma épica da humanidade, Visão dos Tempos.
Guerra Junqueiro é recordado
principalmente como o poeta irónico de Morte de D. João, mas em Pátria também
conseguiu invocar à Dinastia de Bragança em algumas cenas poderosas, e em Vós
Simples interpretou a natureza e a vida rural à luz de sua imaginação
panteísta. António Gomes Leal, por sua vez, foi um poeta anticristão com toques
de Baudelaire, enquanto João de Deus, um dos poetas mais importantes de sua
geração, não pertencia a nenhuma escola e tomava sua inspiração das mulheres e
a religião. Os seus primeiros poemas, reunidos em Campo de Flores, estão
marcado por uma ternura e um misticismo sensual muito portugueses.
A novela decimonónica portuguesa
iniciou-se com obras históricas ao estilo de Walter Scott, escritas por
Alexandre Herculano, ao que seguiram Rebelo da Silva com A Mocidade de D. João
V, Andrade Corvo, e outros. A novela de costumes deve-se em Portugal a Camilo
Castelo Branco, um rico ficcionista que descreve a vida da primeira metade do
século em Amor de Perdição, Novelas do Minho e outros. Gomes Coelho (mais
conhecido como Júlio Dinis), foi um escritor idealista, romântico e subjetivo,
conhecido sobretudo por sua obra As Pupilas do Senhor Reitor. Mas sem dúvida o
maior artista do realismo português é José Maria de Eça de Queiroz (em
particular Os Maias, A ilustre casa de Ramires, A Capital) , ao que pode se
considerar fundador do naturalismo português, e autor de obras como Primo
Basílio, Correspondência de Fradique Mendes ou A Cidade e as Serras. Suas
personagens sempre são criaturas vivas, e muitos de seus bilhetes descritivos e
satíricos se converteram em clássicos. Entre os romancistas menores desta época
cabe assinalar, por último, a Pinheiro Chagas, Arnaldo Gama, Luís de Magalhães,
Teixeira de Queiroz e Malheiro Dias.
Outros géneros em prosa
A história converteu-se em uma
ciência em mãos de Herculano, cuja História de Portugal é tão valiosa por seu
conteúdo como por seu estilo; Joaquim Pedro de Oliveira Martins (maior
histórico ibérico no XIX Século, de acordo com Unamuno), por sua vez, criou
interessantes personagens e cenas em suas obras Os Filhos de D. João e Vida de
Nuno Álvares. As Farpas, de Ramalho Ortigão, distingue-se por seu sentido do
humor, ao igual que as obras de Fialho de Almeida (Os Gatos, O pais das uvas),
no conto se destaca Trindade Coelho (Os meus amores) e Júlio César Machado nos
contos de viagens. A crítica literária, por outro lado, está representada
sobretudo por Luciano Cordeiro e Moniz Barreto. A revista Panorama, dirigida
por Herculano, ostentava uma importante influência sobre as letras portuguesas
nesta época, influência que foi desaparecendo com o passo dos anos. Como
ensaísta original, se destaca Jayme de Magalhaes Lima, admirador de Tolstoi e
seu primeiro introdutor em Portugal (As doutrinas do Conde Leao Tolstoi, 1892).
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