O MARAVILHOSO NO MUNDO MEDIEVAL
Sabemos que a Idade Média
ocidental foi um período histórico atravessado por várias tradições culturais,
como a cultura clássica greco-romana, a cultura pagã nórdica, como a dos celtas
e germanos, a cultura judaico-cristã, bem como a árabe muçulmana, em menor
escala. Entre os elementos dessas culturas que vigoraram no medievo, além
daqueles que são exaustivamente estudados, como política, organização social e
arte, está o imaginário. O imaginário, isto é, as representações sobre o
desconhecido e o intangível, aquilo que despertava medo e maravilhamento,
constitui fonte importantíssima para se entender determinado período histórico.
A magia no imaginário medieval
No caso da Idade Média, o nome
usual para se definir esse imaginário é “o maravilhoso”, entendido não como
algo que seja muito belo, tal como a palavra é utilizada hoje, mas como algo
misterioso, geralmente associado ao sobrenatural, às forças ocultas e
desconhecidas e a lendas muito antigas. A palavra “maravilhoso” deriva do latim
mirabilis, que está ligada aos antigos mitos e lendas do paganismo nórdico,
como as histórias de dragões. O mirabilis ocorre, como toda forma de
“maravilhoso”, subvertendo a ordem do cotidiano. No caso da ação de dragões,
por exemplo, as lendas geralmente indicam que a ação maléfica operada por esses
seres ocorria em momentos inesperados, como bem atesta o historiador francês
Jacques Le Goff:
“Há seres maléficos, os dragões,
que agridem as crianças, mas não são, salvo exceções, os tradicionais papões.
Introduzem-se de noite nas casas, com as portas fechadas, onde são encontradas
no dia seguinte de manhã, tendo-se mantido as portas fechadas durante todo este
tempo. Os vestígios da passagem dos dragões são quase imperceptíveis, o
maravilhoso perturba o menos possível a regularidade quotidiana; e
provavelmente é exatamente este o dado mais inquietante do maravilhoso
medieval, ou seja, o fato de ninguém se interrogar sobre a sua presença, que
não tem ligação com o quotidiano e está, no entanto, totalmente inserida nele.”
Muitos outros seres
sobrenaturais, mitológicos, como o unicórnio, fauno, duendes etc., somam-se a
esses exemplos. Além dos mirabilia, outras duas fomas de “maravilhoso”
prevaleceram na Idade Média e estenderam-se também por outros caminhos de
desenvolvimento cultural para as eras posteriores. São elas: o magicus e o
miraculosus. Ambas tiveram forte conexão com o pensamento cristão.
Diferença entre magicus e
miraculosus
O magicus estava associado ao
malefício, isto é, à magia que era feita como oferenda ou invocação do diabo
com a finalidade de obtenção de poderes sobrenaturais ou provocar prejuízos a
outrem. A prática da bruxaria e demais formas de feitiços era diretamente
associada ao magicus. Já o miraculosus dizia respeito à realidade sobrenatural
do milagre (miraculum), isto é, à intervenção divina no mundo natural, como foi
a própria encarnação e ressurreição de Cristo.
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/o-maravilhoso-no-mundo-medieval.htm
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