O IMPÉRIO HELENÍSTICO
Na verdade, Alexandre não era um deus, e nem um
semideus, mas um apenas um homem, com qualidades excepcionais, mas ainda assim
um homem. Vamos ver a seguir um pouco de sua vida e da época em que ele viveu.
Mas antes de falarmos dele, vamos falar um pouco da Grécia Antiga - cuja
cultura Alexandre difundiu para outras partes do mundo - e da Macedônia, a
região onde esse conquistador, filho do rei Filipe 2º, nasceu.
As cidades da Grécia antiga funcionavam como
"países" ou Estados independentes, cada uma com seu próprio governo e
suas próprias leis. Um grego nascido em uma cidade seria considerado
estrangeiro em outra. Por isso, as cidades da Grécia antiga são chamadas de
cidades-Estados.
Embora compartilhassem a mesma língua, cultura e
religião, os antigos gregos estavam divididos politicamente. Não raro, uma
cidade grega estava em guerra contra outra. Uma dessas guerras foi a Guerra do
Peloponeso, que durou quase 30 anos. A Guerra do Peloponeso foi travada entre
as duas mais poderosas cidades-Estado da Grécia Antiga: Atenas e Esparta, que
disputaram a hegemonia sobre a região.
Quase todas as cidades-Estado gregas se envolveram
ou foram envolvidas no conflito, algumas se aliaram a Atenas, enquanto outras
se aliaram a Esparta. Essa guerra teve início no ano 431 a.C e terminou somente
em 404 a.C., quando Atenas rendeu-se a Esparta. Uma das consequências da Guerra
do Peloponeso foi o extremo empobrecimento da população grega: os pobres
ficaram ainda mais pobres e foram os que mais sofreram. Contudo, enquanto as
cidades-Estado gregas lutavam entre si, um reino vizinho, a Macedônia, ganhava
força.
A Macedônia localizava-se na península dos Bálcãs,
também chamada de península Balcânica, a nordeste da Grécia. A maioria da
população era formada por camponeses livres, cujas principais ocupações eram o
cultivo de terras e a criação de gado. A língua falada na Macedônia era
parecida com a falada na Grécia, mas não era exatamente a mesma.
Apesar das semelhanças culturais, os antigos gregos
viam com desprezo o povo da Macedônia. Na visão preconceituosa dos antigos
gregos, os macedônios não passavam de montanheses ignorantes que pouco diferiam
dos povos chamados de "bárbaros". Em 359 a.C., aos 23 anos de idade,
Filipe tornou-se rei da Macedônia, com o nome de Filipe 2º.
Antes disso, ele havia passado três anos como refém
em Tebas, uma cidade grega, onde aprendeu as mais avançadas táticas militares
da época e testemunhou as violentas batalhas entre as cidades gregas. Filipe 2º
aplicou tudo o que aprendeu em Tebas para organizar um exército poderoso e bem
treinado.
A cavalaria do exército de Filipe 2º era toda
formada por membros da nobreza (o grupo privilegiado) enquanto que a infantaria
(o grupo de soldados que lutam a pé, sem montaria) era formada por homens
livres pobres. Ao transformar a Macedônia numa potência militar, Filipe 2º deu
início à conquista da Grécia, que já se encontrava enfraquecida em decorrência
da Guerra do Peloponeso.
O ateniense Demóstenes liderou uma união das
cidades gregas contra a invasão macedônia. No entanto, essa união não foi
suficiente para vencer o exército macedônio, que era muito mais bem treinado, e
os gregos acabaram sendo derrotados definitivamente em 338 a.C. na batalha de
Queroneia, nome de outra cidade grega.
Após ter conquistado a Grécia, Filipe 2º começou a
planejar uma guerra contra a Pérsia, região que corresponde mais ou menos ao
Irã atual. Os persas eram donos de um grande império e vários povos estavam sob
o seu domínio. Os tesouros dos reis persas e as terras férteis desse império
atraíram o interesse do rei macedônio.
No entanto, Filipe 2º foi assassinado durante a
festa de casamento de sua filha, quando já havia iniciado os preparativos para
a guerra contra os persas. O assassino era supostamente um ex-amante rancoroso
(tanto na Grécia quanto na Macedônia, era socialmente aceito que um homem
tivesse amantes de ambos os sexos). Também se suspeitou que Alexandre tivesse
tramado o assassinato do próprio pai. Já segundo o historiador grego Plutarco,
o assassinato foi tramado pelo recém coroado rei da Pérsia, Dario 3º.
Com a morte do pai, Alexandre, que tinha então 20
anos, se tornou o novo rei da Macedônia. Antes de se tornar rei, o jovem
Alexandre já tinha experiência política e militar. Aos 16 anos, quando o pai
liderou um ataque contra a cidade de Bizâncio (atual Istambul, na Turquia), em
340 a.C., Alexandre assumiu temporariamente o reino da Macedônia. Alexandre
também auxiliou o pai na batalha de Queroneia, liderando a cavalaria. Apesar de
violento, Alexandre também era culto e sofisticado. Ele adquiriu uma sólida
formação cultural graças às aulas que recebeu de Aristóteles, um dos maiores
filósofos da Antiguidade. Aristóteles estudou na Academia de Platão, importante
filósofo grego. Foi Filipe 2º quem confiou a educação de Alexandre aos cuidados
de Aristóteles.
Em 334 a.C., Alexandre liderou um exército de
milhares de homens e atravessou a Ásia Menor. Esse exército era formado por
macedônios e gregos. Além dos soldados, Alexandre também levou sábios da época
para estudar a fauna e flora local e cartografar o terreno.O interesse de
Alexandre pela ciência foi estimulado pelas aulas que teve com seu mestre.
Durante a campanha, o jovem rei conquistou o
litoral da Ásia Menor, marchou contra a Síria e derrotou o exército persa na
batalha de Isso. Também dominou Tiro, cidade portuária que era considerada
inconquistável. Após a conquista dessa cidade, milhares de pessoas foram mortas
e um e outras milhares foram escravizadas, pois Alexandre punia com a morte ou
com a escravidão a população das cidades que ousassem resistir.
Depois disso, o exército de Alexandre avançou rumo
ao Egito, onde não encontrou resistência. Para os egípcios, Alexandre foi
considerado um libertador, porque os livrou do domínio persa. Por isso, os
sacerdotes egípcios manifestaram sua gratidão fazendo de Alexandre um novo
faraó. Vale lembrar que, no Egito, os faraós eram considerados deuses, o que dá
uma ideia de como Alexandre era visto em sua época.
Alexandre aproveitou a ocasião e fundou uma nova
cidade no Egito, Alexandria, que veio a se tornar local de uma das maiores
bibliotecas da Antiguidade e um importante centro cultural nos séculos
seguintes.
Do Egito, Alexandre marchou com seus soldados em
direção à Mesopotâmia. O exército persa era mais numeroso que o de Alexandre e
contava com cavalaria, elefantes (que eram usados nos campos de batalha mais ou
menos como os atuais tanques de guerra) e carruagens com rodas cujos eixos
tinham lâminas pontiagudas.
Quando essas carruagens corriam nos campos de
batalha, essas lâminas giravam junto com as rodas e cortavam os soldados
inimigos que estivessem no caminho. Apesar disso tudo, o exército persa acabou
derrotado. Uma das razões para a derrota foi o fato de que os persas lutavam
desmotivados: o rei Dario 3º havia obrigado os homens a se alistarem para a
guerra.
O rei persa fugiu. Depois disso, o exército de
Alexandre passou pelas cidades da Babilônia e de Persépolis. Essa última foi
incendiada por ordem de Alexandre para vingar a destruição de Atenas pelos
persas mais de 150 anos antes. Quando Alexandre finalmente alcançou Dario, este
acabou morto por membros da sua própria corte.
A ambição de Alexandre não conhecia limites. Não
bastassem as conquistas já realizadas, ele decidiu invadir a Ásia Central,
atravessando o que hoje é o Afeganistão em direção ao norte da Índia. A
resistência da população local foi muito forte. Somente após três anos de luta
e massacres o exército de Alexandre conseguiu conquistar uma pequena parte da
região.
Alexandre pretendia penetrar ainda mais no
território da Índia, mas os seus soldados, tanto gregos quanto macedônios,
estavam cansados de guerras intermináveis e difíceis e se recusaram a
prosseguir. A contragosto, em 325 a.C, Alexandre se viu obrigado a abandonar
seus planos de novas conquistas.
Como resultado de todas essas campanhas, Alexandre
criou um império que se estendia da Grécia ao rio Indo. Ele não voltou para a
Macedônia, permanecendo na Babilônia. Imitando os antigos reis persas, ele
cercou-se de luxo e até ordenou que seus nobres se ajoelhassem diante dele e
beijassem sua mão.
Em 323 a.C, aos 33 anos incompletos, Alexandre morreu,
vitimado por uma febre. Seus generais começaram a disputar o poder entre si. O
vasto império acabou se dividindo em reinos menores, dos quais os mais
importantes eram os da Macedônia, da Síria e do Egito. Os generais de Alexandre
se tornaram os governantes desses reinos.
Alexandre contribuiu para a difusão da cultura
grega no Oriente. Suas conquistas aproximaram Ocidente e Oriente, dando origem
a uma nova cultura, a helenística, resultado da mistura das culturas ocidental
e oriental. Em grande parte, essa mistura foi estimulada pelo próprio
Alexandre, que além de ser tolerante em relação à religião e cultura dos povos
conquistados, incentivava que os homens do exército se casassem com mulheres
orientais. Ele próprio deu o exemplo, casando-se com três princesas persas. Ele
teve dois filhos: um com uma de suas esposas e o outro com uma de suas
concubinas.
Por fim, a figura de Alexandre acabou servindo de
inspiração para outro líder militar que viveu depois dele: Júlio César, o
general romano que fundamentou as bases do que veio a se tornar o Império
Romano.
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