CINEMA: DO MUDO AO COLORIDO

Do Mudo ao Colorido

Na primeira parte deste especial, conhecemos um pouco das origens e da construção de algumas características que imperaram no mundo cinematográfico das primeiras décadas do século passado. Nessa época, o cinema ainda era composto apenas de imagens e, obviamente, de sentimentos.

A linguagem cinematográfica também ainda era rudimentar, embora estivera sob constante evolução, desde as empreitadas de Griffith na elevação do cunho artístico cinematográfico até nas revoluções do Expressionismo Alemão e do cinema soviético.

Embora essas características do cinema mudo aflorassem em várias limitações para os autores da época, muitos utilizavam-nas de forma inteligente, voltando-as para o próprio sucesso de suas empreitadas. Talvez o grande exemplo disso seja Sir Charles Chaplin, cujo maior legado deixado ao mundo cinematográfico (e à memória dos amantes do cinema) fora a saudosa silhueta de seu mais popular personagem, o vagabundo Carlitos, que tornou-se uma imagem icônica, reconhecida no mundo todo até os dias de hoje.

Porém, para manter essa sua imagem globalizada através da evolução do cinema, o genial artista inglês precisaria de muita coragem e confiança, afinal, o mundo cinematográfico se preparava para uma nova e radical mudança, no ano de 1927.

Sim, este ano foi um marco inestimável para a história do cinema. Foi nesse ano que os irmãos Warner, fundadores do estúdio Warner Bros, apostaram em uma espécie de renovação da técnica cinematográfica: a introdução das falas nas produções de cinema, que antes utilizavam-se dos gestos para se comunicar com o espectador.

O filme responsável pelo feito fora O Cantor de Jazz, que continha trechos cantados pelo protagonista (mesmo que sem sincronia) durante algumas partes de sua duração. Nascia ali o cinema falado, que acabou declarando falência de muitos astros da era muda e, ademais, abrindo diversas possibilidades, antes inimagináveis, para este universo ainda pouco explorado.

Na verdade, O Cantor de Jazz não fora a primeira produção a utilizar-se do som para composição da obra. Antes dele, Aurora, de Murnau, já havia sido lançado, pela Fox, com trilha-sonora aplicada diretamente no filme, fazendo parte de sua estrutura.

Porém, essa empreitada do respeitável diretor alemão no cinema norte-americano, que é tida por muitos como sua obra-prima, não possuía qualquer linha de diálogo, ou seja, era realmente um filme mudo, apenas musicado.

O Cantor de Jazz, porém, além das cenas musicadas, cantadas pelo próprio protagonista, possui ainda algumas linhas de diálogo, sendo, portanto, o primeiro filme falado do cinema.

Com o passar de alguns anos e o imensurável sucesso da nova revolução, que reconstituíra os caminhos da arte, a poderosa indústria hollywoodiana via a necessidade de premiar o sucesso de suas principais produções.

Com isso, no ano de 1929, fora realizada a primeira edição daquele que se tornou o prêmio mais disputado dentre todos os concedidos até os dias de hoje: o Oscar. A cerimônia, realizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, aconteceu no dia 06 de maio, e o prêmio principal, de melhor filme, foi dado a Asas, de William Wellman.

Neste mesmo ano, depois de várias polêmicas envolvendo uma série de filmes e pessoas, os estúdios cinematográficos americanos adotam um sistema de censura, conhecido como Código Hays. O código era formado de uma série de pequenas restrições, grande parte delas de cunho erótico, que deviam ser seguidas à risca para que os diretores e produtores tivessem o direito à comercialização de suas obras.

Em razão disso, principalmente, as produções que foram feitas em meio ao império dessa constituição utilizaram-se muito mais da insinuação (de sexo, violência, etc.) do que da explicitação visual das cenas, o que faz com que, nos dias de hoje, o público possa estranhar a ingenuidade de algumas obras – mesmo assim, boa parte das produções da época continuam funcionando perfeitamente, em razão de sua qualidade astronomicamente superior às das obras do cinema atual.

Já na década de 1930, o cinema vinha ainda se acostumando com a interação do som no modo de contar as histórias. Alguns cineastas e teóricos de cinema, como Eisestein e Chaplin, consideravam desnecessária a presença do som nos filmes.

O primeiro dizia ser este um elemento redundante, já que passava ao espectador a mesma informação que a imagem (o som de uma bala disparada por um revólver, por exemplo – a visualização da ação já nos conta tudo, e o som apenas vem a reforçar algo que já captamos de outra forma), e ambos permaneceram a produzir filmes estruturados no estilo quase extinto do cinema mudo (Chaplin inclusive critica os “talkies” em sua maior obra-prima, o inigualável Tempos Modernos, de 1936, e renderia-se ao advento dos diálogos apenas em 1940, com o também excelente O Grande Ditador).

Mesmo com a existência de um ou outro rebelde, o cinema mudo acabara sendo extinto, abrindo toda e qualquer porta existente para a funcionalidade desse novo modo de se contar histórias. Porém, o cheiro de “novo” começaria a pairar sobre o “mundo” do cinema, desta vez atingindo não os ouvidos de seus habitantes, mas sim os olhos: era a descoberta do processo Technicolor, que viria a acrescentar cores às imagens visualizadas pelos espectadores nos cinemas.

O lançamento do primeiro filme colorido fora feito, no ano de 1935, pelo estúdio Fox, e a obra em questão fora Vaidade e Beleza, de Rouben Mamoulian.

O colorido acabou sendo uma tendência muito apreciada por produtores e também por cinéfilos, mas não impediu que o charme da fotografia preta-e-branca posse relegado pela preferência popular.

Embora fossem produzidas uma boa parcela de filmes coloridos a partir desse ano, diversos autores permaneceram utilizando o processo preto-e-branco, que viria a ser extinto por completo (digo por completo no tocante aos padrões cinematográficos, já que continuam a ser produzidas obras nesse processo fotográfico até os dias de hoje).

https://www.portalsaofrancisco.com.br/arte/cinema-mudo

 

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