A COPA DO MUNDO DE 1934
A desistência da Suécia de ser a
sede da Copa a dois anos da competição abriu o caminho. A Itália do ditador
fascista Benito Mussolini tinha motivos óbvios para querer realizar a
competição. Afinal, que propaganda seria melhor, àquela altura, para o seu regime
autoritário? A jogada política foi a mesma adotada por Hitler quando levou para
a Alemanha as Olimpíadas de 1936. E foi o general Giorgio Vaccaro o homem
nomeado por Mussolini para ser o interlocutor com a Fifa. No Congresso para a
escolha da sede, em 1932, em Estocolmo, na Suécia, garantiu que dinheiro para o
Mundial não seria problema. Os delegados dos 29 países presentes votaram a
favor do país.
A boa repercussão da Copa de 1930
chamou a atenção dos países: 34 solicitaram a participação no Mundial da
Itália, que foi praticamente europeu. Apenas três das 16 seleções eram
americanas e nenhuma ficou entre os oito primeiros colocados. O Uruguai, que
era o atual campeão, não foi em represália ao boicote europeu na sua casa. A
Inglaterra, afastada da Fifa desde 1928, também resolveu não comparecer, a
exemplo de 1930. o interessante é que a Itália, país-sede, teve de disputar
eliminatórias - foi o único caso até hoje. O sistema foi igual ao do Mundial:
mata-mata. Outra curiosidade é que, com a vaga conquistada, o Egito foi o
primeiro país africano a disputar o torneio.
Os oito países mais poderosos,
segundo a Fifa, enfrentaram em sorteio os outros oito. A seleção italiana jogou
sob pressão do fascismo de Mussolini. O técnico e jornalista Vittorio Pozzo
enclausurou sua equipe por dois meses na concentração. Em campo, sempre com a
presença do Duce nas tribunas, não houve decepção. Com craques como Giuseppe
Meazza, Schiavio e Orsi, a Squadra Azzurra superou os adversários: Na estreia,
pelas oitavas - todas as fases foram em critério de mata-mata -, uma goleada de
7 a 1 nos Estados Unidos. Depois, empate por 1 a 1 com a perigosa Espanha. Na
outra partida com a Fúria, a equipe italiana venceu por 1 a 0, mesmo placar das
semis, contra a Áustria. Na decisão, 2 a 1 sobre a Tchecoslováquia.
A Copa de 1934 não teve um, mas
três artilheiros: Nejedly, Schiavio e Conen terminaram empatados com 4 gols. O
tcheco Nejedly tinha como maior virtude o oportunismo. O italiano Schiavio foi
o autor do gol que deu o título para a Itália, na prorrogação da final. O
alemão Conen era o menos conhecido. Dos quatro gols, fez três na vitória sobre
a Bélgica, por 5 a 2, na estreia de sua seleção.
Jogador que conseguiu ser ídolo
nos rivais Milan e Internarzionale - leva seu nome o estádio dividido pelos
dois clubes em Milão -, Giuseppe Meazza foi o melhor jogador italiano no
período pré-Segunda Guerra. Convocado desde os 20 anos para a Azzurra, o
atacante marcou 33 gols em 53 jogos que disputou. O Pepino era um jogador
completo: além de artilheiro, servia como poucos os companheiros. Foi o grande
cérebro da Azzurra no Mundial e marcou dois gols.
Por conta da briga política entre
a Federação Brasileira de Futebol (FBF), a favor da profissionalização, e a
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), pró-amadorismo, o Brasil mais uma
vez não mandou sua melhor equipe. Luis Vinhaes, campeão carioca pelo São
Cristóvão, foi o técnico, e o Botafogo, o time-base. E a seleção brasileira fez
sua pior campanha em Copas, terminando em 14º lugar, com apenas um jogo e uma
derrota, para a Espanha, por 3 a 1 (o gol brasileiro foi de Leônidas da Silva,
astro da equipe que tinha, entre outros, Waldemar de Brito, Carvalho Leite e
Patesko).
Um ano antes da Copa, o mundo do
futebol tinha o seu "Wunderteam" (ou "Time Maravilha"). Era
assim que chamavam a Áustria. Também, a campanha justificava: em 16 partidas, o
slecom 12 vitórias, dois empates e duas derrotas - melhor retrospecto da
Europa. O craque era o atacante Sindelar, chamado de "homem de papel"
devido à sua agilidade. O time venceu apertado os dois primeiros jogos, contra
França e Hungria. Mas perdeu os dois seguintes, para Itália e Alemanha, e
acabou em quarto.
Para se ter uma ideia da pressão
sobre a Squadra Azzurra, "Vitória ou morte" era a frase escrita pelo
ditador Benito Mussolini no bilhete mandado para os jogadores italianos antes
da final contra a Tchecoslováquia.
Os jogadores da Azzurra entraram
para a final contra a Tchecoslováquia sabendo que só havia um resultado
possível para garantir uma vida melhor para todos no futuro. Mas foram os
tchecos que saíram na frente, com Puc, aos 31 minutos do segundo tempo. A
tensão acabou cinco minutos depois, quando Orsi empatou a partida, que foi para
a prorrogação. Schiavio, aos 6 da primeira etapa, desempatou a partida, e a
Azzurra segurou a vitória até o fim.
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/historia/copa-de-1934-italia.html
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