O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO NO CONTINENTE AFRICANO

O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO NO CONTINENTE AFRICANO

Antes de analisar casos específicos de emancipação de alguns países africanos, devemos nos lembrar de que grande parte dos problemas registrados ainda hoje nesse continente são heranças do imperialismo iniciado no século XIX. Desde então, para atender às necessidades metropolitanas, o continente africano passou a ser retalhado, havendo a junção de etnias rivais em um mesmo território ou mesmo a separação de etnias afins em colônias diferentes.

Além disso, os europeus promoveram a exploração violenta das riquezas africanas e se empenharam em destruir parte da cultura desses povos em nome da ciência e do progresso. Dada, portanto, essa dominação ostensiva da África, a ação dos europeus foi efetiva não só no intuito de atender às suas necessidades econômicas, mas também serviu para que a resistência africana perante à dominação metropolitana fosse dificultada.

Se durante o século XIX os europeus conseguiram conter os levantes coloniais que exigiam a independência, ao final da Segunda Guerra Mundial, o quadro das relações entre a Europa e a África era bem diferente, afinal, com o declínio do eurocentrismo, os colonos conseguiram reunir elementos que favorecessem as lutas de libertação. Foi nesse contexto que o pan-africanismo ganhou uma grande repercussão. De acordo com os defensores dessa ideia, os povos africanos, tendo um destino e um inimigo comum, precisavam unir os seus esforços para vencer os desafios e impedir a dominação imperialista no continente.

Apesar do sonho de unidade africana e da ação de vários homens que lutaram pela aproximação das etnias daquele continente, as diferenças étnicas, culturais e econômicas dificultaram a construção de uma África unida e desenvolvida. Assim, mesmo com o processo de emancipação que se desenrolou entre as décadas de 1940 e 1970, a diminuição das desigualdades e do atraso econômico não se efetivou, situação que manteve a dependência econômica dos países recém-libertos junto às maiores nações industrializadas europeias.

Um caso singular ocorrido durante a descolonização africana foi o das colônias portuguesas, as últimas a se tornarem independentes. A longa ligação entre estas e a sua metrópole se explica pela longevidade do regime salazarista, que, caracterizando-se como uma pesada ditadura comandada pela extrema-direita, mantinha um rigoroso controle sobre as suas colônias, apesar dos excessivos gastos que isso gerava.

Portanto, foi somente após a derrubada do regime, em 1974, que as regiões dominadas conseguiram concretizar os seus processos de independência. Em Moçambique, uma dessas colônias, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), assumiu o poder político em 1975, implantando, através da luta armada, o socialismo no país.

Outro caso interessante ocorreu em Angola, onde os dois principais grupos que haviam lutado pela independência do país passaram a disputar o comando político após a emancipação angolana. Assim, a ascensão do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) – de orientação marxista e apoiado pela URSS e por Cuba, que tinha como líder Agostinho Neto –, assim como da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) – inicialmente de orientação marxista-maoísta, mas que se tornou anticomunista em virtude dos financiamentos recebidos da África do Sul e dos Estados Unidos –, passou a se tornar um ato estratégico para as superpotências que disputavam a Guerra Fria.

Desse embate, os socialistas saíram vencedores, pois, já no ano da sua independência, Angola passou a ser governada pelo MPLA. Ainda assim, a implantação do socialismo na ex-colônia portuguesa acarretou uma violenta guerra civil, travada entre a MPLA e a UNITA, que se estendeu até meados de 2001, vitimando grande parte da população angolana.

 

Comentários