A UNIFICAÇÃO ITALIANA
Desde o contexto das revoluções
liberais, no século XIX, os reinos da Península Itálica já demonstravam o
desejo de promover um processo de uni cação. Naquele momento, Giuseppe Mazzini,
à frente da sua instituição – Jovem Itália –, comandou uma insurreição em prol
da uni cação. O projeto de Mazzini incluía as massas italianas, acreditando que
a unificação emanaria das camadas populares.
A proposta democrática de Mazzini
não agradava às elites da região, que, visando a enfraquecer aquele movimento,
dividiram os rebeldes, apoiando outra proposta de uni cação, que deveria
ocorrer sob a tutela de Vítor Emanuel II, rei de Piemonte-Sardenha, o único
reino independente do norte da Península.
Dessa forma, coube a Camilo de
Cavour, primeiroministro de Vítor Emanuel II e defensor da causa monárquica, a
responsabilidade pelo início do processo de unificação. Uma das justificativas
para a liderança de Piemonte-Sardenha no processo de unificação era a riqueza
desse reino, que contrastava com o caráter agrário dos estados do sul da
Península.
Apesar de serem vistos como os
líderes ideais do processo de unificação, os piemonteses tinham como grande
obstáculo para esse processo a hegemonia da Áustria, que, desde o Congresso de
Viena, dominava diversos estados itálicos.
Percebendo as dificuldades que
enfrentaria, Cavour passou a buscar aliados no continente europeu, afinal, a
Áustria era uma potência militar. Assim, a França, que desejava enfraquecer o
Império Austríaco e, logo, aumentar a sua zona de influência na Europa,
prontificouse a apoiar a causa da uni cação, desde que, em troca, recebesse as
regiões de Nice e Savoia. Com o apoio das tropas de Napoleão III, Cavour pôde,
en m, travar uma guerra contra a Áustria, que foi derrotada pelas tropas
francesas e piemontesas em 1859.
Ainda naquele ano, como sanção à
derrota na guerra, a Áustria foi punida com a perda de Lombardia, Toscana,
Romagna, Parma e Módena, regiões anexadas ao reino de Piemonte. As regiões de
Savoia e Nice também se libertaram do domínio austríaco e, conforme havia sido
acertado, passaram para o controle dos franceses. A exceção foi a região de
Venécia, que, apesar de também estar no norte da Península Itálica, continuou
subordinada ao Império Austríaco.
Diante da vitória das tropas
unificadoras, diversas outras regiões da Península Itálica, como os Estados
Pontifícios, que também se encontravam subordinadas a outras nações,
organizaram revoltas buscando a sua libertação. Essa expansão das revoltas, no
entanto, não interessava aos católicos franceses, que temiam pela integridade
do poder do papa, que até então governava o centro da Península. Assim, a ala
católica conservadora francesa pressionou Napoleão III a retirar o seu apoio a
PiemonteSardenha, o que de fato ocorreu.
Se, ao norte, o reino de Piemonte
foi o grande responsável pela libertação de diversos estados, no sul,
destacou-se afigura de Giuseppe Garibaldi, revolucionário republicano que havia
lutado na Farroupilha, no Sul do Brasil, e que, comandando mil homens, os
Camisas Vermelhas, invadiu o reino das Duas Sicílias e o de Nápoles em 1860.
Devido ao seu caráter republicano, Garibaldi não concordava com o processo de
uni cação comandado pelo reino de Piemonte.
Ao mesmo tempo, ele também sabia
que os sulistas não eram fortes o bastante para liderarem a uni cação. Diante
dessa situação, Garibaldi acabou se retirando das lutas para não atrapalhar o
processo iniciado por Piemonte-Sardenha, entregando, assim, as regiões
conquistadas ao sul para serem integradas às conquistas piemontesas.
No final da década de 1860,
portanto, foi criado um Estado uni cado, com as suas fronteiras bem definidas
no norte e no sul da Península Itálica, sendo que os Estados Pontifícios,
protegidos por Napoleão III e situados na região central, impediam a completa
uni cação italiana. Foi necessário o início da Guerra Franco-Prussiana, em
1870, para que os italianos, aproveitando-se do enfraquecimento francês,
conquistassem os Estados papais. Vale ressaltar que, naquele momento, a França
estava sendo derrotada pelos prussianos e, por isso, retirou suas tropas da
Itália.
Como o chefe da Igreja Católica e
os seus domínios ficaram desprotegidos, as tropas piemontesas não hesitaram e,
naquele mesmo ano, asseguraram a conquista dos territórios sob domínio do papa.
Estava praticamente completo, portanto, o processo de uni cação da Itália,
apesar de pequenas regiões — Trieste e Trentino, regiões conhecidas como Itália
Irredenta — no norte italiano continuarem sob domínio austríaco até o final da
Primeira Guerra, quando foram, então, entregues aos italianos.
Também no século XX, foi
resolvido o con ito gerado entre a Igreja Católica e o Estado italiano,
conhecido como Questão Romana. O processo de uni cação italiana havia
desagradado ao papa, que se declarou um prisioneiro dos italianos. A solução,
em 1929, veio com o Tratado de Latrão, pelo qual Mussolini, primeiro-ministro
da Itália fascista, desejando o apoio da Igreja, criou o Estado do Vaticano,
indenizou a Igreja pelos territórios perdidos e instituiu o Ensino Religioso
nas escolas italianas.
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