A REAÇÃO DA ESQUERDA LATINO AMERICANA

A REAÇÃO DA ESQUERDA LATINO AMERICANA

Passadas mais de duas décadas dos primórdios neoliberais chilenos, os principais economistas da década de 1990 perceberam que aquela ideologia não havia provocado o crescimento econômico esperado pelos países do Terceiro Mundo. Longe de representar a salvação para os endividados, a abertura de mercado e o avanço do desenvolvimento tecnológico haviam intensificado ainda mais a dependência desses países em relação às potências econômicas, como os Estados Unidos, além de aumentarem as desigualdades sociais dessas regiões.

Diante dos problemas gerados pela intensificação da globalização econômica, dois fóruns internacionais foram instituídos: um em Davos, na Suíça, e o outro em Porto Alegre, no Brasil. O primeiro foi o Fórum Econômico Mundial, formado por empresários, ministros da Economia, presidentes de Bancos Centrais, diretores do FMI, do BIRD e de outros organismos internacionais. O objetivo era discutir tecnicamente as políticas econômicas adotadas no mundo, para que os seus impactos pudessem ser menores em áreas como o meio ambiente e a saúde.

Já a reunião realizada em Porto Alegre deu origem ao Fórum Social Mundial, iniciado em janeiro de 2000. Esse fórum foi promovido por diversas entidades de esquerda, como sindicatos, movimentos estudantis e ONGs, e teve como objetivo protestar contra a globalização e os organismos financeiros internacionais.

É importante ressaltar que, apesar de terem sido instituídos para solucionar uma causa imediata, os dois fóruns acabaram se tornando eventos periódicos, sendo realizados ainda hoje. Mas, apesar da semelhança inicial, esses fóruns ganharam sentidos diferentes. Devido ao seu caráter formal, o Fórum Econômico Mundial acabou sendo associado à direita e, por isso, tornou-se um sinônimo do capitalismo e das políticas globalizante e neoliberal. Já o Fórum Social Mundial, tradicionalmente marcado pelos debates que se voltam à causa popular, passou a ser visto como uma grande manifestação da esquerda.

Ainda nesse contexto conturbado das reformas neoliberais, uma grande camada de excluídos que compunham a população dos países do Terceiro Mundo passou a clamar por reformas que amenizassem, principalmente, a desigualdade social existente nos seus países. Esse movimento foi marcante na América Latina, onde, em diversos países, os partidos de esquerda, ou mesmo de centro-esquerda, se apropriaram das falhas do neoliberalismo para que pudessem alavancar suas campanhas e, assim, eleger os novos presidentes da região.

As vitórias de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, do casal Kirchner, na Argentina, de Rafael Correa, no Equador, de Evo Morales, na Bolívia, de Hugo Chávez, na Venezuela, e o retorno de Daniel Ortega, na Nicarágua, podem ser relacionadas a este fenômeno da reação das esquerdas latino-americanas. Mesmo que alguns desses nomes possam ser ligados a uma esquerda moderada, estes souberam canalizar a insatisfação da população latino-americana para, após eleitos, realizarem reformas de cunho social e, por vezes, nacionalistas.

Diante da ascensão da esquerda latinoamericana, pode-se perceber que as reformas neoliberais foram contidas, afinal, os novos líderes dessas nações passaram a adotar uma postura muito menos favorável à submissão internacional. Assim, ao invés de considerarem a proximidade dos Estados Unidos um fator positivo – como outrora valorizavam os neoliberais –, os novos governos passaram a prezar pela manutenção da soberania nacional e, mesmo respeitando as rivalidades entre si, pelo fortalecimento do Mercosul.

 

 

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