A DESCOLONIZAÇÃO AFRO ASIÁTICA: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO


 A DESCOLONIZAÇÃO AFRO ASIÁTICA: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO

Após o término da Segunda Guerra Mundial, as nações que se sagraram vitoriosas no conflito comandaram um processo de reorganização de poderes. A partir desse novo contexto, marcado pela Guerra Fria, o mundo passou por transformações que alteraram profundamente a relação entre dominadores e dominados. Dessa forma, boa parte da África e da Ásia, que desde o século XIX se encontravam sob o domínio europeu, conquistou a sua independência, o que significou, na prática, a inserção de novos parâmetros geográficos, econômicos e culturais para a ordem mundial vigente.

Entre os elementos que nos permitem compreender a aceleração do processo de independência da África e da Ásia, pode-se ressaltar o enfraquecimento da Europa, que, por abrigar boa parte das batalhas travadas durante a Segunda Guerra, encontrava-se economicamente arrasada após o conflito. Mesmo os países europeus que haviam lutado ao lado dos Aliados e, assim, vencido o conflito passaram a depender dos investimentos estadunidenses para que pudessem reestruturar suas economias. Tal fraqueza, portanto, passou a ser um dos fatores que tornavam inviável a manutenção do domínio colonial europeu na África e na Ásia.

Concomitantemente à fragilização europeia, as duas grandes forças que à época disputavam a Guerra Fria – EUA e URSS – passaram a financiar parte dos processos de independência da África e da Ásia. A intenção das superpotências era aproveitar a perda da hegemonia europeia para buscar novas áreas de influência política, econômica e ideológica. Ora, em uma ordem bipolarizada, a ideologia que conquistasse maior abrangência mundial se sagraria a vencedora da Guerra Fria e, como a África e a Ásia eram continentes com uma grande população, a conquista destes era fundamental tanto para as pretensões capitalistas quanto para as socialistas.

Analisando as questões inerentes aos povos dominados, deve ser ressaltado, ainda, que as principais colônias francesas, inglesas, belgas e holandesas participaram da Segunda Guerra ao lado de suas metrópoles, cumprindo um papel fundamental na luta contra os países que formavam o Eixo. Aos colonos cabia o fornecimento de alimentos, de matéria-prima e, principalmente, de tropas, que, a princípio, formaram uma aliança com os metropolitanos. Ao final do conflito, entretanto, as diferenças vieram à tona, afinal, quando se aliaram às suas metrópoles, africanos e asiáticos lutaram em favor da democracia e da liberdade, mas, ao final da guerra, esses povos continuavam colonizados, contradição que os inspirou a lutar pela sua própria liberdade.

Outro fator agravante que resultou dessa aliança foi a experiência militar adquirida pelos colonos, pois, quando as lutas emancipacionistas eclodiram, os povos colonizados lançaram mão dos conhecimentos apreendidos durante as batalhas para se desvincularem das suas metrópoles. Por fim, cabe ressaltar que a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, também foi um elemento de suma importância para a descolonização afro-asiática. Já na carta de criação da ONU, figurava um dos princípios básicos que norteou os trabalhos da organização: o direito de autodeterminação dos povos.

De acordo com esse princípio, toda nação tem o direito de se autogovernar e escolher seus próprios caminhos, guiando-se pelos valores democráticos e respeitando a liberdade dos outros povos. Posto que o documento foi assinado por todos os países pertencentes à ONU (entre os quais figuram as potências europeias que dominavam as regiões da África e da Ásia), a contradição cava evidente, pois, se na teoria os europeus defendiam a liberdade dos povos, na prática a manutenção de colônias violava seus princípios declarados. Diante, portanto, da incoerência das nações imperialistas, estas passaram a sofrer duras críticas por parte dos seus colonos e também de diversas outras regiões, como os países livres da América e os países da Europa que não tinham colônias.

Pressionados e fragilizados, os impérios coloniais europeus ruíram na segunda metade do século XX, dando lugar aos países independentes que, de forma gradual, foram se formando e dando contornos a uma nova organização de poderes. É válido ressaltar, no entanto, que o processo de descolonização afroasiático não foi homogêneo, fazendo-se necessária a análise de alguns casos específicos.

 

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