OS ANTECEDENTES DA REVOLUÇÃO RUSSA


OS ANTECEDENTES DA REVOLUÇÃO RUSSA
Segundo Karl Marx e Friedrich Engels, o primeiro país a passar por uma revolução socialista seria a Inglaterra, pois, nos dizeres desses pensadores, o proletariado inglês era o mais politizado e consciente do mundo. Assim, por ser o berço da industrialização, a Inglaterra tinha todas as condições para realizar a transformação da sociedade capitalista em socialista. Porém, Marx e Engels se esqueceram de que a burguesia inglesa era a mais poderosa da Europa, podendo, assim, fazer certas concessões ao proletariado para evitar a ameaça socialista.
O socialismo científico defendia ainda que a revolução aconteceria em uma sociedade urbanizada e que já houvesse desenvolvido o capitalismo. No entanto, a Rússia revolucionária não era urbanizada e também não havia se tornado uma potência capitalista, mesmo assim, foi o primeiro país a implantar o socialismo. Dessa forma, se faz necessária uma análise das estruturas russas para podermos entender por que o precursor do socialismo foi a Rússia agrária, recém-saída da ordem feudal e absolutista.
Até o início do século XX, a maior parte da população russa vivia no campo, sendo que mais de 70% da população eram camponeses, não proprietários de terras. A nobreza russa, composta dos boiardos, era detentora das terras e, usando seu prestígio social, explorava o trabalho dos camponeses em regime de servidão.
Em 1861, lançando mão de ideias liberais e tentando forçar o desenvolvimento da Rússia, o governo aboliu a servidão, o que fez com que parte dos camponeses que estavam presos à terra, agora livres desse vínculo, se deslocassem para as cidades, constituindo mão de obra para a indústria nascente. Grande parte desse contingente acabou por se transformar no proletariado urbano, que, submetido a condições deploráveis de trabalho, mais tarde seria responsável pelo processo revolucionário.
É possível afirmar, portanto, que, apesar de a maior parte da população viver no campo, ainda assim, o processo revolucionário russo foi basicamente urbano, diferentemente de outras revoluções socialistas, como a chinesa e a cubana, que se iniciaram a partir de mobilizações dos camponeses. A Rússia passou pelo processo da Revolução Industrial de uma forma peculiar. Como o Estado czarista e a burguesia local não tinham recursos su cientes para financiar a industrialização, esta foi realizada com capital estrangeiro, principalmente inglês e francês.
Dessa forma, o processo de industrialização não significou a consolidação do capitalismo no país, nem da burguesia como classe dominante politicamente, mas sim o aumento da dependência russa. Portanto, se na Inglaterra, como já foi dito, a burguesia era forte o bastante para fazer concessões aos trabalhadores como forma de se evitar uma revolução socialista, na Rússia, onde a burguesia era predominantemente estrangeira, não houve a preocupação em fazer concessões aos trabalhadores, favorecendo, dessa forma, apesar de todas as expectativas contrárias, o processo revolucionário.
No plano político, também estavam presentes no país estruturas arcaicas, pois o regime político existente na Rússia, o czarismo, se assemelhava ao absolutismo da Europa Ocidental. Assim, o czar, imperador russo, governava despoticamente, apoiado pela nobreza fundiária, pelo clero ortodoxo, pelo Exército e pela Okhrana, a polícia secreta. Apesar das semelhanças com o absolutismo, é importante ressaltar que o czarismo permitia a coexistência de partidos políticos, por mais que estes tivessem suas ações controladas.
Formados em 1903, a partir de uma divisão do Partido Operário Social-Democrata Russo, os Mencheviques, que tinham Martov como líder, eram defensores de uma transição lenta para o socialismo, de forma que a Rússia passasse por uma etapa capitalista desenvolvida, criando, assim, as condições para o posterior desenvolvimento do socialismo.
De acordo com os Mencheviques, o regime socialista somente se efetivaria caso a burguesia antes desenvolvesse as forças produtivas do país, afinal, como o socialismo científico delegava ao Estado a função de distribuir igualmente as riquezas, se não houvesse o desenvolvimento da fase capitalista, não haveria também riqueza para ser distribuída.
Os Bolcheviques, por sua vez, eram defensores da imediata implantação do socialismo. Seu principal líder, Lênin, alegava que não era necessário esperar pelo desenvolvimento capitalista para saber suas consequências. Para ele, a exploração do proletariado era evidente e inevitável na ordem capitalista e, por isso, a necessidade da implantação de um Estado proletário era imediata.
As movimentações políticas dos partidos se intensificaram após a Rússia ter perdido a Guerra Russo-Japonesa em 1905. Em parte, essa derrota se deve à desestruturação dos russos, que, mesmo não tendo se consolidado entre as forças capitalistas, se lançaram à corrida imperialista no final do século XIX.
Ainda assim, aquela derrota evidenciava a crise da Rússia e, por isso, em 1905, os sovietes – conselhos urbanos compostos de soldados, operários e camponeses – comandaram uma onda de greves e de protestos contra a situação do país. Pressionado, o czar, que não tinha recursos para conter os revoltosos, prometeu convocar a Duma, o Parlamento russo, e elaborar uma Constituição para o país.
Diante dessa situação, os revolucionários se dividiram: a ala radical, liderada pelos Bolcheviques, achava que era o momento de derrubar o czar. Já a ala moderada, da qual zeram parte os Mencheviques e os Kadetes, defendia uma aliança com o governo. Enquanto os russos estavam divididos em apoiar ou não o regime czarista, a guerra terminou e as tropas leais ao czar que retornaram ao país foram utilizadas como instrumento de repressão.
No dia 9 de janeiro de 1905, ocorreu uma enorme manifestação pacífica diante do Palácio de Inverno. Os manifestantes entoavam cantos religiosos e levavam estandartes com imagens de santos e do czar. Ainda assim, as tropas russas atiraram contra os manifestantes, matando centenas de pessoas. Esse incidente entrou para a História como Domingo Sangrento.
Posteriormente ao ocorrido, Lênin disse que o proletariado russo aprendeu mais nesse dia do que em anos de luta e chamou a Revolução de 1905 de Ensaio Geral, insinuando que aquela teria sido uma experiência fundamental para a Revolução Russa.

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