AS CRUZADAS
As Cruzadas foram expedições
militares e religiosas que, inicialmente, tinham dois objetivos principais: a
conquista da Terra Santa, em especial da cidade sagrada de Jerusalém, e a
contenção do avanço muçulmano na região do Império Bizantino. A expulsão dos
muçulmanos também era vista como forma de expansão do cristianismo, e era
incentivada pela Igreja como uma continuação do movimento de Reconquista
ibérica, que também se deu com objetivos semelhantes. A luta pela retomada da
região das mãos dos mouros é considerada uma manifestação do espírito das
Cruzadas.
Outro objetivo da Igreja com as
Cruzadas foi a repressão aos movimentos heréticos dos cátaros no sul da França.
A perseguição às chamadas heresias demonstra que os ataques não se reservaram
aos infiéis, como eram chamados os muçulmanos, mas também atingiram os cristãos
europeus que se vinculavam a práticas espirituais que não fossem o catolicismo.
Além dos motivos religiosos
citados, o movimento apresentava outras motivações de natureza econômica,
afinal, para as cidades do Mediterrâneo, como Veneza, as Cruzadas representavam
uma possibilidade de lucro nas áreas que viriam a ser conquistadas em direção
ao Oriente. Além disso, as riquezas e as terras do Mediterrâneo Oriental eram
cobiçadas pelos nobres da Europa Ocidental, que começavam a buscar novas fontes
de riqueza devido ao crescimento demográfico.
Do ponto de vista social, as
Cruzadas significavam uma possibilidade de diminuir os conflitos, cada vez mais
constantes, no interior da nobreza europeia, uma vez que a belicosidade dos
nobres seria canalizada para o Oriente, empreendimento esse justificado pelos
objetivos religiosos. A busca pela Terra Santa era, ainda, uma possibilidade
para o escoamento do excedente populacional, direcionado para a composição
dessas expedições.
Ao todo, foram realizadas cinco
grandes Cruzadas em direção ao Oriente e travadas inúmeras batalhas entre
cristãos e muçulmanos. Se, para os cristãos, a guerra era considerada justa,
para seus inimigos, os cristãos eram selvagens e bárbaros. Apesar dos ataques
violentos, a conquista definitiva de Jerusalém, o principal objetivo religioso
do movimento, não ocorreu. A reaproximação com o Império Bizantino foi
dificultada devido aos saques constantes dos europeus ocidentais nessa região.
Apesar de fracassar quanto aos
objetivos religiosos, é possível afirmar
que as Cruzadas provocaram profundas alterações na Europa feudal. Do ponto de
vista econômico, o contato com os árabes dinamizou as relações entre os
europeus e o Oriente. As especiarias trazidas do mundo oriental pelos árabes ou
vindas das rotas que passavam pelo Império Bizantino eram revendidas em toda a
Europa pelos comerciantes das cidades de Gênova e Veneza. A propagação das
culturas helênica, bizantina e árabe colaborou, ainda, para o desenvolvimento
artístico e científico da Europa cristã.
Em contrapartida, a participação
nessas guerras colaborou para o relativo enfraquecimento da nobreza feudal,
visto que o envolvimento nas disputas gerava gastos e que as derrotas agravaram
a situação dos nobres. Em muitos casos, os senhores, ao voltarem das
expedições, se viam obrigados a conceder a liberdade aos servos que, naquele
momento, eram cada vez mais atraídos para a vida nas cidades.
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