A campanha da legalidade
A Campanha da Legalidade foi um movimento popular e militar,
ocorrido no Rio Grande do Sul, que começou em 25 de agosto de 1961 e durou
aproximadamente dez dias. O movimento se deu em função da renúncia do então
Presidente da República, Jânio Quadros, e o não cumprimento da lei que previa
que, em caso de renúncia, o vice-presidente deveria assumir. João Goulart era o
Vice-Presidente e estava em viagem à China, país de regime comunista, contra o
qual as forças conservadoras se opunham, e foi vetado pelos ministros
militares, assumindo o cargo o Presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri
Mazzini (PSD).
Leonel Brizola, que naquele momento era o Governador do
Estado do Rio Grande do Sul, reage não aceitando o golpe dos militares. A
partir daí estava deflagrado o movimento que ficou conhecido como a Campanha da
Legalidade e que mudou a História da Política em nosso país. A Brigada Militar
é acionada, porque começa uma grande concentração de pessoas em frente ao
Palácio Piratini, na Praça da Matriz, no centro de Porto Alegre.
Leonel Brizola faz o seu primeiro discurso da sacada do
Palácio em defesa da ordem constitucional vigente. No dia seguinte o Ministério
da Guerra manda bombardear o Palácio Piratini, aumentando a resistência popular
contra o golpe.
O
Governador Brizola fala pelo rádio, denuncia o golpe contra Jango e pede para
que a população se mobilize. Em retaliação, o Ministério da Guerra manda
desligar todas as emissoras de rádio da cidade. Brizola, porém, com sua visão
revolucionária e nacionalista, acreditando na força do rádio como um meio de
aproximação com o povo, pensando na necessidade que a população teria de
acompanhar o decorrer dos acontecimentos, requisitou a Rádio Guaíba, que
liderava uma rede de 104 emissoras no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná.
Ordenou
que os transmissores da Rádio Guaíba fossem transferidos para os porões do
Palácio Piratini, formando a Cadeia da Legalidade. Com toda a precariedade das
linhas telefônicas da época, o Governador falava com a população e lançava ao
ar suas mensagens e discursos. Este recurso já havia sido utilizado por Che
Guevara, que formou a “Rádio Rebelde”, usando deste meio de comunicação para
aproximar-se do povo durante a Revolução Cubana, em 1959, mantendo a população
informada acerca dos acontecimentos em Sierra Maestro e em todo o país
caribenho.
A Cadeia da Legalidade conclama a todos que lutem pelo
cumprimento da Constituição, tanto na capital como no interior do Estado, e
armas são distribuídas para a população e passam a ser organizados comitês pela
legalidade. São centenas de voluntários, o alistamento é feito nas esquinas,
calçadas e teve o apoio do III Exército, dos estudantes, intelectuais, artistas
e partidos políticos. As Forças Armadas se dividem, bancos são fechados, as
aulas são suspensas, sindicatos de trabalhadores se manifestam e exigem o
cumprimento da legislação. Enfim, a sociedade como um todo se mobiliza, numa
verdadeira festa cívica em defesa da ordem jurídica e do regime democrático.
Durante os dez dias da Campanha da Legalidade, o Governador Leonel Brizola
recebeu 90 mil mensagens de apoio.
Quando
João Goulart (Jango) chega a Porto Alegre, no dia 1.º de setembro, tem uma
multidão em frente ao Palácio Piratini aguardando por ele, que, sabendo de toda
a situação, se cala. Sua posse é adiada para dar tempo ao Congresso Nacional,
que vota, às pressas, uma Emenda Constitucional, a qual institui o sistema
parlamentarista de governo, retirando os poderes do Presidente.
Jango era um homem pacifico e não deixou que houvesse confronto.
Concordou em assumir a Presidência com Tancredo Neves, num sistema
parlamentarista, tomando posse em 7 de setembro de 1961, sendo prevista a
realização de um plebiscito, para consultar a opinião da população. O resultado
do plebiscito, em 1963, foi a escolha do regime presidencialista e o governo de
Jango terminou em 31 de março de 1964, com o Golpe Militar, que as forças
conservadoras chamam de Revolução.
Mas
o que fica como lição de cidadania, de luta pela democracia, pela observância
da legislação, neste momento histórico que vivemos, em que inúmeras vezes a
Constituição Brasileira não é cumprida, em que a participação popular soa como
algo pejorativo e sem sentido, pensamos no significado da Campanha da
Legalidade e na liderança de Leonel Brizola, este gaúcho altivo, corajoso e
rebelde, para que os seus ideais não desapareçam e que sua experiência como
grande político venha a ser imitada pelas futuras gerações.
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