O CONTRADITÓRIO JÂNIO QUADROS
Na sucessão
presidencial de 1960, o quadro eleitoral apresentou a seguinte configuração: a
UDN lançou Jânio Quadros como candidato; o PTB com o apoio do PSB apresentou
como candidato o marechal Henrique Teixeira Lott; e o PSP concorreu com Adhemar
de Barros.
A vitória
coube a Jânio Quadros, que obteve expressiva votação. Naquela época, as
eleições para presidente e vice-presidente ocorriam separadamente, ou seja, as
candidaturas eram independentes. Assim, o candidato da UDN a vice-presidente
era Milton Campos, mas quem venceu foi o candidato do PTB, João Goulart. Desse
modo, João Goulart iniciou seu segundo mandato como vice-presidente.
Jânio
Quadros pode ser visto como um dos maiores expoentes do período
populista no Brasil. Sua carreira política meteórica foi sustentada por
aparições públicas apelativas onde sempre fazia questão de se mostrar como um
líder carismático das massas. Em menos de uma década, conseguiu eleger-se
vereador, prefeito, governador e deputado federal pelo Estado de São Paulo. Em
1960, lançou sua candidatura à presidente prometendo superar as mazelas
deixadas pelo governo JK.
Utilizando
a vassoura como símbolo de sua campanha presidencial, insistia em moralizar o
cenário político nacional e “varrer” a corrupção do país. Contando com essas
premissas, Jânio conseguiu uma expressiva votação, indicando a consolidação do
regime democrático no país. No entanto, as contradições e a falta de um claro
posicionamento político fizeram com que o mandato de Jânio Quadros fosse tomado
por situações nebulosas. Para superar o problema da inflação e o visível
déficit público, Jânio procurou reduzir a concessão de crédito e congelou o
valor do salário mínimo. Além disso, aprovou uma reforma da política cambial
que atendia as demandas dos credores internacionais. Tais medidas pareciam
sinalizar um conservadorismo político que aproximou o governo de Jânio Quadros
aos interesses do bloco capitalista. No entanto, sua política internacional
provou o contrário.
Em tempo de
Guerra Fria, o presidente ignorou os rígidos ditames da ordem bipolar
defendendo um posicionamento político autônomo. A partir de então, decidiu
retomar as relações com a União Soviética e negou-se a comparecer a um encontro
marcado com John Kennedy, então presidente dos Estados Unidos. Além disso, o
vice-presidente João Goulart foi enviado em missão diplomática para a China com
o propósito de estabelecer acordos de cooperação comercial.
Em meio
essa polêmica, Jânio Quadros perdia sua popularidade com a adoção de medidas de
pouca importância. Entre outras ações tomadas pelo seu governo, Jânio proibiu a
realização de desfiles de biquíni, a realização de rinhas de galo, limitou as
corridas de cavalo para os fins de semana e proibiu o uso de lança-perfume. Tais
medidas o colocaram como uma liderança desprovida de um projeto político capaz
de superar os problemas que assolavam o país.
Em agosto
de 1961, um grande alvoroço tomou conta do governo de Jânio quando o mesmo
decidiu condecorar o líder revolucionário cubano Ernesto Che Guevara. O gesto
político, considerado um claro alinhamento com o bloco socialista, causou uma
série de críticas ao seu governo. Alguns dias depois, repentinamente, Jânio
Quadros anunciou a sua renúncia alegando que “forças terríveis” tramavam contra
seu mandato.
Segundo
alguns historiadores, essa manobra foi planejada com o intuito de voltar ao
poder com amplos poderes, pois as alas políticas mais conservadoras e os
militares não desejavam que João Goulart se tornasse presidente do país. No
entanto, nenhuma outra reação mais expressiva foi tomada em seu favor. Desse
modo, Jânio perdeu seus poderes com a mesma rapidez que ingressou na política.
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