DUTRA: PRIMEIRO PRESIDENTE
APÓS A ERA VARGAS
No ano de
1945, a movimentação política do Brasil dava largos passos em favor do fim do
regime estadonovista. Já no ano de 1943, um grupo de empresários e políticos
mineiros criticava o governo ditatorial e exigiam o retorno às práticas
democráticas. Tempos depois, os intelectuais e artistas participantes do I
Congresso Brasileiro de Escritores realizaram a mesma reivindicação, dando
ênfase especial na eleição de um novo governo escolhido pelo voto direto dos
cidadãos. Em fevereiro de 1945, Vargas anunciou uma reforma constitucional que
aprovava a realização de novas eleições. Em pouco tempo, surgiram cerca de doze
agremiações partidárias que atuariam no novo pleito. Entre elas, destacamos o
Partido Social Democrático (PSD), formado por lideranças ligadas ao próprio
Estado Novo; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que mobilizava os
sindicatos aliados à Vargas; e a União Democrática Nacional (UDN), composta por
empresários que se opunham à Vargas.
Mesmo
tomando tais ações, as suspeitas de que Getúlio Vargas organizaria um novo
golpe eram fortíssimas. Vale lembrar que, nessa mesma época, o chamado
“Movimento Queremista” realizava manifestações que defendiam a permanência de
Vargas na presidência. Apesar do apoio, os militares da época mobilizaram-se
para depor Getúlio Vargas e garantir que as eleições seguissem seu fluxo
normal. Nessa disputa tivemos três candidatos: o general Eurico Gaspar Dutra,
representante da coligação PSD-PTB; o brigadeiro Eduardo Gomes, por sua vez
apoiado pela UDN; e Yeddo Fiúza, que demarcava politicamente o retorno do
Partido Comunista Brasileiro (PCB) à legalidade. Apesar de estar fora do
pleito, Vargas foi uma figura preponderante para que Eurico Gaspar Dutra
assumisse o posto de favorito na disputa.
Dutra tinha
uma carreira ligada aos quadros militares, tendo grande destaque nas operações
da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ao longo da Segunda Guerra Mundial. Em
sua campanha, defendeu expressamente a união das forças políticas nacionais
para a reconstrução da democracia brasileira. Ao fim das contas, a vívida força
do populismo varguista que o sustentava, acabou sendo a responsável pela
vitória, com 55% dos votos.
Mesmo
seguindo o curso das previsões mais óbvias, as eleições daquele ano tiveram uma
grande surpresa com os votos destinados aos candidatos do PCB. Com mais de 500
mil votos, os comunistas alcançaram a proeza de ocupar 15 cadeiras na
Assembleia Constituinte e elegeram Luís Carlos Prestes ao cargo de Senador da
República. Era mediante esse quadro que o país inaugurava o regime liberal
populista, que se iniciou no governo Dutra e se estendeu até o mandato de João
Goulart, deposto em 1964.
Eleito
graças às bases políticas formadas por Getúlio Vargas, Eurico Dutra foi o
primeiro presidente eleito pelo voto direto após o Estado Novo. Empossado em
1946, ele vivenciou as tensões e problemas que marcavam o desenvolvimento da
Guerra Fria no cenário político internacional. Internamente, teve como primeira
grande ação, a convocação da Assembleia Constituinte que discutiria as leis a
serem integradas a uma nova Carta Magna.
Oficializada
em 1946, a nova constituição brasileira determinava a autonomia entre os três
poderes e a realização de eleições diretas para os cargos executivos e
legislativos estaduais, municipais e federais. Militares e analfabetos não
poderiam votar, o voto feminino foi mantido e sua idade mínima reduzida para os
18 anos de idade. De fato, somente as mulheres que atuavam no funcionalismo
público com cargos remunerados é que deveriam votar obrigatoriamente.
Na
economia, observamos que o país reconquistava os níveis de importação na medida
em que as grandes nações industrializadas retomavam o antigo ritmo de produção.
Sendo um mercado consumidor de grande interesse, o Brasil absorveu uma
significativa quantidade de bens de consumo, principalmente dos Estados Unidos.
Em pouco tempo, as reservas cambiais do país foram diminuindo, a indústria
nacional desacelerou e a dívida externa voltou a crescer.
Não se
restringindo ao campo econômico, a aliança do governo Dutra junto ao governo
norte-americano também repercutiu em ações políticas de natureza autoritária.
Após receber uma significativa quantidade de votos, o Partido Comunista foi
posto na ilegalidade e todos os funcionários públicos pertencentes ao mesmo
partido foram exonerados de seus cargos. Pouco tempo depois, o governo do
Brasil anunciou o rompimento de suas relações diplomáticas com a União
Soviética.
Observando
o agravamento dos problemas econômicos do país, Dutra adotou medidas que
facilitavam a importação de combustível e maquinário industrial para o país. Em
maio de 1947, o Plano Salte pretendia reorganizar os gastos públicos com saúde,
alimentação, transporte e energia. Por meio dessas ações de controle, o governo
Dutra conseguiu atingir uma média anual de crescimento econômico de 6%.
Chegando em
1950, os brasileiros preparavam-se para uma nova eleição para presidente da
República. Mais uma vez, assim como em 1945, o cenário político nacional
experimentava a carência de líderes políticos nacionais. De tal forma, o PSD
ofereceu a candidatura do incógnito mineiro Cristiano Machado e a UDN apostou
novamente no brigadeiro Eduardo Gomes. O PTB por sua vez, chegava à frente
lançando o nome de Getúlio Vargas, que venceu com 48% dos votos válidos.
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