A CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA ATENIENSE
Localizada no sul da Grécia, Atenas foi
ocupada inicialmente por
aqueus e, posteriormente, por eólios e
jônios. A uni cação em cidade-estado, no século X a.C., proporcionou a formação
de uma monarquia, na qual o poder era concentrado nas mãos do chamado basileu,
proprietário mais poderoso, que exercia a função de rei. A deposição do último
basileu, entretanto, levou à formação
de um regime oligárquico, baseado no
Arcontado, órgão que controlava a política. Os arcontes (em grego, o
responsável por um “arquê”, cargo) eram escolhidos para ocuparem mandatos
anuais. Ainda assim, vale ressaltar que Atenas, àquela época, seguia uma forma
aristocrática de governo.
Após a expansão ateniense pelo sul da Itália
e pelo Mar Negro,
entre os séculos VIII a.C. e VI a.C., uma
grave crise social mergulhou Atenas em violência. Buscou-se, assim, a
organização
jurídica. Nesse contexto, destacaram-se as
guras de dois grandes legisladores: Dracon e Sólon. O primeiro transformou em registro
escrito o conjunto de leis baseado na tradição oral ateniense, rearmando o
poder da elite, os eupátridas, que, em geral, ocupavam cargos no Arcontado. Já
Sólon aboliu a escravidão por dívidas, enfatizou o direito de qualquer pessoa prestar
queixa, mesmo em nome de terceiros, de modo a corrigir uma injustiça, e propôs
uma divisão censitária da sociedade, ou seja, de acordo com a renda de cada
indivíduo.
Ao invés de sanarem os problemas atenienses,
as medidas de Sólon agravaram os problemas sociais, proporcionando o surgimento
das tiranias, ou seja, a ascensão política de líderes autoritários que não
tinham respeito pelas tradicionais normas que regulavam a vida da pólis. Foi
somente em 510 a.C. que Clístenes retirou do poder o último tirano e instalou
em Atenas as condições para a implantação da democracia. O governo popular (demos
= povo, kratos = governo) é uma das maiores contribuições gregas
para as
sociedades
atuais.
A constituição do regime democrático em
Atenas foi um longo processo, tendo em vista as diversas formas de resistência
a essa instituição. O domínio de novas áreas de exploração também colaborou
para o fortalecimento da democracia, já que a prosperidade proporcionada pelos
recursos provenientes dessas regiões permitia que os cidadãos atenienses tivessem
tempo suficiente para exercerem maior participação na vida política.
Diferentemente da aristocracia, a democracia
é baseada na premissa da igualdade e não da distinção. No caso de Atenas e de
outras cidades gregas, com exceção de Esparta – que continuou sendo uma
diarquia –, a democracia era direta. Isso significa que não havia representação,
como no caso das eleições atuais, ou seja, cada cidadão ateniense podia tomar
parte nas decisões públicas. Na Ágora, edificação situada no centro da pólis, era
organizada a Eclésia, assembleia que se reunia cerca de quarenta vezes por ano
para discutir assuntos políticos, questões de guerra e paz, bem como temáticas
referentes à religião e às festas.
Para participar dessa assembleia, o sujeito deveria
ser livre, afinal, os gregos acreditavam que a liberdade e a ociosidade estavam
intimamente conectadas à participação política. Desse modo, os membros da Eclésia
deveriam possuir escravos para que, livres das atividades manuais e do
trabalho, pudessem praticar a política.
Eram considerados cidadãos os homens, filhos
de pai e mãe atenienses, maiores de dezoito anos. Por volta de 430 a.C., a
região possuía cerca de 310 mil habitantes e em torno de 40 mil cidadãos. A
democracia ateniense, portanto, excluía alguns grupos, como as mulheres, os estrangeiros
(chamados metecos) e os escravos. Apesar disso, o sistema dava direito a
pequenos proprietários e camponeses de tomarem decisões junto aos grandes proprietários.
É nisso que residia a força da democracia antiga: nela, os relativamente pobres
tinham o mesmo poder de decisão que os mais ricos.
Outra instituição política era a Bulé, uma
espécie de conselho ou senado, que era encarregada de analisar os projetos de
lei e de supervisionar a administração pública, a diplomacia e os assuntos
militares. A ocupação dos cargos da Bulé se dava por sorteio, e seus ocupantes
eram remunerados. Existiam também os magistrados, incumbidos de executar as
decisões da Eclésia. Para reforçar os princípios da justiça, os gregos instituiram,
ainda, o ostracismo, que consistia no banimento por um período de dez anos de
todo indivíduo considerado uma ameaça à democracia.
Com a instituição de tais práticas políticas,
iniciou-se em Atenas o chamado Período Clássico, durante o qual a democracia
ateniense teve seu apogeu, principalmente com a atuação do estadista Péricles. A
força de Atenas nesse período tornou-se tão grande que o século V a.C. é
conhecido como o século de Péricles.
É importante ressaltar que, apesar de sua
curta duração e de suas restrições, a democracia ateniense deixou um grande
legado, pois construiu a noção da participação de todos nos assuntos de ordem
pública. As leis aprovadas deveriam ser respeitadas por todos, as decisões
tomadas eram públicas e a modi cação das mesmas só poderia ocorrer com o
consenso da maioria. Mesmo com as transformações sofridas pela democracia, quando
esta passou a ser revalorizada no Ocidente a partir do século XVIII, seus
conceitos e sua prática são referências (ou deveriam ser) para a prática
política na atualidade.
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