AS MUDANÇAS
NO MILITARISMO E NAS GUERRAS
Com o fim
da URSS e da Guerra Fria, muitos afirmaram que a nova ordem mundial seria
unipolar, com a existência de apenas uma única superpotência militar, os EUA.
Porém, outros argumentam que o poder econômico e tecnológico nos dias de hoje é
mais importante do que o poder militar e, nesses termos, o mundo conheceria uma
ordem multipolar, pois União Europeia, China e Japão possuem fortes economias e
alto padrão tecnológico. Do ponto de vista militar não há duvida de que a única
potencia em condições de agir com eficiência sobre todo o globo terrestre
atualmente são os EUA. Mas do ponto de vista econômico e tecnológico existem
rivalidades e também uma cooperação ou integração entre vários polos ou centros
mundiais de poder.
O poderio
militar, ao que parece, teve sua importância diminuída nas ultimas décadas. O
importante passou a ser o poderio econômico e tecnológico. Mas uma grande
potencia mundial deve também ter grande capacidade de defesa e até de
intervenção, pois sempre há riscos de invasões e conflitos armados entre os
Estados.
Muitas
vezes, os Estados tentam resolver uma crise por meio de uma guerra, que sempre
une o povo, inclusive as oposições, contra o inimigo comum. Também existem os
interesses econômicos como o controle das fontes de energia e de matérias-primas,
essenciais para a produção de um país. Mas essa necessidade de certo de poderio
militar não significa que uma grande potencia mundial deva concentrar seus
gastos em recursos bélicos.
Geralmente
uma potencia começa sua hegemonia pelo poderio econômico, seguido pelo militar.
Esse ultimo sempre foi dependente da economia. Em geral que tem mais fábricas,
tem mais recursos econômicos e tecnológicos e acaba por possuir uma força
armada bem mais equipada. De acordo com essa norma, o Japão, principalmente e a
Alemanha deveriam investir mais em militarismo, pois já são potencias
econômicas e tecnológicas. Contudo, a dois elementos complicadores a esse
respeito: primeiro, vivemos em uma época em que a humanidade pode se
autodestruir, algo que nunca existiu no passado; segundo, já ficou evidente que
gastos militares excessivos reduzem o dinamismo da economia.
Em 1990,
por exemplo, os EUA lideraram um cerco econômico e militar ao Iraque, que
invadiu o Kuwait. A intervenção estadunidense foi rápida e eficaz (apoiada
pelos países aliados) e teve dois motivos principais: impedir que o Iraque
dominassem os poços de petróleo do Kuwait e o preço desse produto subisse, pois
o Kuwait é um dos maiores exportadores mundiais; o outro foi mostrar ao mundo
que o fim da ordem bipolar e da Guerra Fria não significava, como se pensou por
algum tempo, uma ausência de ordem, uma vácuo de poder no qual não haveria
nenhuma potencia mundial pronta para manter um certo equilíbrio internacional.
Nessa ação, houve uma associação: os EUA entraram com seus soldados e
equipamentos bélicos; enquanto a Europa e o Japão contribuíram com bilhões de
dólares.
O poderio militar vem se modernizando a
partir da revolução técnico cientifica, pelo menos nos países desenvolvidos, a
começar pelos EUA. No lugar de armamentos de destruição em massa, como a bomba
atômica, armas químicas e biológicas, etc.; começam a predominar nos dias de
hoje as chamadas “armas inteligentes”. Elas consistem na aplicação da
informática (chips e programas) e das telecomunicações (satélites, GPS) nas armas, que se tornam mais
precisas, atingindo o alvo com maior eficácia. Em vez de exterminar milhões de
pessoas de forma indiscriminada, esses armamentos “inteligentes” procuram na
medida do possível “dobrar” o inimigo com a destruição de alvos estratégicos
como prédios governamentais, aeroportos, meios de comunicação, pontes e
estradas, depósitos de armas, etc. Com isso, no lugar da quantidade ou mesmo da
força bruta, o mais importante passa ser a qualidade, a tecnologia. Existe
dessa forma a necessidade de um número bem menor de militares, porém, mais
qualificados, daí a incorporação crescente de mulheres nas Forças Armadas.
Assim equipamentos mais tecnológicos e militares mais qualificados e
especializados representam um menor
desperdício de munição e também menos baixas.
Na verdade, a maneira como
os povos fazem a guerra depende de sua economia e, em especial de sua
evolução técnica. Nas sociedades tradicionais agrícolas, as guerras
tinham por base a habilidade manual dos soldados. A técnica era
precária, e na maioria dos exércitos o pagamento de um soldado era irregular,
geralmente em bens e não em dinheiro. O combate era corpo a corpo. As armas com
alcance a distancia eram poucas e precárias. Durante milhares de anos, o
combate envolvia a matança cara a cara, e as armas como espadas, lanças e
machados dependiam da força muscular do soldado.
Com
a Revolução Industrial e o surgimento da sociedade moderna,
passou a existir um novo tipo de guerra, com novos armamentos – fuzis
automáticos, metralhadoras, tanques e mais tarde no século XX aviões e, por
ultimo, as bombas nucleares. Assim como a produção em massa passou a ser o
principio central da produção, a destruição em massa tornou-se o objetivo da
guerra. Os exércitos mercenários que predominou até o fim do século XVIII,
foram substituídos pelos exércitos profissionais e permanentes, pagos
com dinheiro público e teoricamente
leais a um patriotismo. Antes da Revolução Industrial a guerra
era um choque entre governantes (reis, imperadores); depois, passou a ser um
choque entre nações.
Hoje, desde
a revolução técnica cientifica, a concepção e os instrumentos de guerra
começaram a mudar. No lugar de armas de destruição em massa (que ainda existem)
passou a se dar mais importância às armas “inteligentes”, que não
destroem tudo, apenas alvos selecionados. Este tipo de guerra deverá predominar
no século XXI, pelo menos nos conflitos que envolverem países desenvolvidos. A
primeira guerra desse tipo foi a Guerra do Golfo. O mundo ficou estupefato com
as imagens transmitidas ao vivo pela televisão. Pela primeira vez na História,
a tv transmitia ao vivo as imagens de misseis e bombas guiadas procurando e
atingindo seu alvo com impressionante precisão. Outra novidade desse tipo de
guerra foi o fim das “frentes de batalha”.
Existe uma
mudança na atualidade que coloca o conhecimento, e não mais a força
bruta ou a destruição em massa, no centro do poderio militar. Um dos
indicadores disso é a informatização: na Guerra do Golfo havia mais de três mil
computadores nos Estados Unidos conectados aos computadores e monitores da zona
da guerra. No lugar do soldado durão, o importante agora é um soldado técnico
com conhecimento de informática. No lugar dos antiquados valores da força bruta
e do machismo, a nova guerra valoriza a educação, o conhecimento e a perícia.
Assim, como na economia e no mercado de trabalho, em que a necessidade de uma
elevada escolaridade é uma exigência cada vez maior, também na guerra isso
ocorre. Um pequeno numero de pessoas com conhecimento em tecnologia avançada
pode realizar muito mais do que um grande numero de pessoas com as ferramentas
da força bruta do passado. Por isso, o serviço militar obrigatório em muitos
países vem sendo substituído pelo recrutamento de pessoas, principalmente
aquelas com ensino médio e com curso superior, que vão encarar isso como uma
profissão remunerada e não mais um serviço obrigatório.
O
ciberespaço ou espaço virtual tornou-se fundamental na guerra, por causa da
enorme importância militar dos computadores e suas redes para a circulação de
informações ou ordens, para ligar aviões aos navios ou as bases locais de
apoio, e estes aos centros estratégicos localizados no país de origem, etc. a
informação hoje é
fundamental para o sucesso da
guerra. Basta lembrar os satélites que detectam o deslocamento de tropas
inimigas, ou a localização de depósitos de armamentos, por exemplo. Geralmente
estas informações circulam por redes de computadores, através de fios ou do que
é mais comum, de ondas ou espectros de satélites ou de rádios. Tentar invadir
essas redes, seja para descobrir segredos, seja para inutiliza-la é o objetivo
do que se chama hoje de guerra cibernética.
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