COMO AS DEMOCRACIAS MORREM


Sim, mesmo democracias tradicionais podem entrar em colapso – e muitas estão entrando. Levitsky e Ziblatt são conceituados professores de Ciência Política de Harvard e alertam para o avançado ressurgimento do autoritarismo.
Em todo o planeta, autocratas eleitos mantêm um verniz de democracia enquanto corroem sua essência. A partir de dados históricos recentes, os autores mostram que os ataques mais efetivos não estão vindo das mãos de homens armados, mas a partir de líderes legitimamente eleitos que utilizam do pretexto de defesa democrática para sua subversão. Há muitos exemplos e que, assustadoramente, se somam nos últimos anos.
No século passado, Perón, Hitler e Mussolini corroeram as grades de proteção democrática que garantiram suas eleições e implementaram regimes de força. Recentemente, homens como Fujimori (Peru), Chavez e Maduro (Venezuela), Orbán (Hungria) e Erdogan (Turquia), apresentaram-se como outsiders da política,jogaram a partida eleitoral e, apoiados por insiders cegos para o perigo das ambições pessoais, estabeleceram seus próprios regimes autocráticos. Alguns, ainda, ficaram na tentativa, como Roosevelt e Nixon (EUA), Duda (Polonia), Correa (Equador) e Uribe (Colômbia). A administração Trump segue sob judice e para ela o livro é explicitamente dirigido.
Os catedráticos explicam que a transferência de autoridade para um líder que ameaça a democracia costuma emanar de uma de duas fontes: a) a crença equivocada de que uma figura autoritária pode ser controlada ou domesticada; b) a partir do “conluio ideológico”, a sobreposição da agenda autoritária à dos políticos das tendências predominantes. Mas ambas as circunstâncias, em diferentes potencias, podem se apresentar.
Em todos os casos estudados, a erosão da democracia ocorreu de maneira gradativa, muitas vezes em pequeníssimos passos e com pretexto de diligenciar algum objetivo público legítimo.  É interessante notar que a estratégica costuma passar por ações que envolvem a captura dos árbitros. Aqui entram agências de imposição da lei, de regulação e de tributação. Mas principalmente o Poder Judiciário e, especialmente sua Corte Constitucional. O aparelhamento da corte pode tomar duas formas: o impedimento de magistrados e sua substituição por aliados partidários; ou a alteração do tamanho e preenchimento das novas vagas com lealistas.
Rodrigo Trindade

Comentários